Capítulo 114

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— Bom dia. — Sophia apareceu na cozinha enquanto bocejava. Ainda estava usando a sua camisola curta de seda.

— Boa tarde, né? — Fui irônico.

— Pra mim ainda é cedo. — Sophia caminhou pela cozinha americana, de olho em que eu estava fazendo. — O que é isso? — Apontou para a tigela cheia de carne.

— Carne? — Franzi meu cenho. Isso ficava tão óbvio!

— E isso? — Apontou para um prato.

— Salada de batata e eu fiz um pouco de arroz. — Expliquei. — Eu tinha feito café mas você não acordou cedo. — Voltei a cozinhar, desligando minha atenção em Sophia.

Sophia deu de ombros.

— Quem concertou a luz? — Se escorou na parede.

— O cara que eu contratei. Ele trocou os fios do chuveiro, então... Nada de banho pelando pra você! — Apontei à Sophia com uma espátula nas mãos.

— Não queria mesmo. — Levantou os ombros. — Meu pai foi louco de deixar a gente morar aqui, juntos. Eu quero ver como você vai sustentar isso aqui, sozinho. — Cruzou os braços, me fitando.

— Você vai me ajudar! — Ajustei a chama do fogão. — Vamos economizar a partir em diante. Nada de comprar coisas fúteis. — Lembrei do meu pai. — Nada de gastar energia à toa, essas coisas que você já deve saber.

— Quero a minha casa. — Sophia soltou, como uma criança.

Eu entendia que estar morando comigo em um apartamento nada luxuoso deveria ser um tratamento de choque à ela, mas, foi ordens do seu pai e eu tenho contratos assinados com o homem de poder. Tinha que zelar a minha reputação, ou acabaria mais fodido do que o normal. Sem apartamento, sem dinheiro e sem ela, que era o amor da minha vida, mesmo que estejamos brigados.

Terminei o almoço colocando tudo em cima do balcão de mármore. Optei por almoçarmos no chão já que não tínhamos nenhuma cadeira pra contar história. Sophia chiou com isso mas não restava nenhuma solução.

— Nós vamos na festa do Duff hoje, né? — Tocou no assunto da festa, pela milésima vez.

— Você ainda quer ir? — Fuzilei ela com o olhar.

— Eu quero! Ele é seu amigo, então, não acredito que vá fazer essa desfeita com ele. — Sophia remendou o assunto de novo, estava muito querendo ir pra saber como é uma festa do Duff.

E ela não perderia nada pois não tinha nada de bom.

— Já que você insiste. — Rolei meus olhos. — Vamos ir à festa do Duff!

Escutei ela vibrar baixinho, vitoriosa. Comecei a rir leve.

— Isso é tão importante pra você? Sério?

— Micael, eu nunca fui em uma festa de colegial. Isso pra mim é novidade! — Largou o prato, se explicando.

— E você acha que lá tem o que? Brinquedos? — Segurei meu riso.

Sophia revirou os olhos.

— Quer saber? Se você não quiser ir, tudo bem. Eu vou sozinha! — Levantou-se. — Você lava a louça!

— EU? — Foi minha vez de levantar, partindo pra cima de Sophia com as minhas palavras. — Eu fiz o almoço, é a sua vez de me ajudar. Não vou fazer tudo sozinho!

— Minhas unhas vão quebrar e eu nunca lavei uma louça. — Sophia soltou como se aquilo fosse um evento inesperado na terra. Perdi minha paciência!

— Então agora você vai saber como é lavar uma louça, querida. — Sorri falso à ela, direcionando seu corpo até a pia com algumas panelas sujas. Sophia fez cara de nojo ao observar tudo.

— Eu odeio você. — Me fuzilou com o olhar.

— Se quer ir na festa do Duff mais tarde tem que se comportar. — Deixei meu prato na pia. — Eu vou sair pra comprar algumas bebidas, volto mais tarde! — Busquei a chave do carro, indo até à porta. — Amo você, meu amor. — Disse de pirraça, batendo a porta com tudo antes de rir feito um condenado.
Sophia com certeza queria me matar.

Dirigi até um mercadinho que não barrava a compra de jovens com menos de vinte e um anos pra bebidas. Fazia muito tempo que não ia lá, só em ocasiões de festas e a última vez que coloquei os pés lá dentro foi na festa fracassada de Duff.

Empurrei a porta de vidro com calma, o sino em cima tocou, chamando a atenção da caixa, que assentiu. Estava mais atenta em suas unhas lixadas.
Fui até as geladeiras, buscando dois fardos de cerveja e duas vodcas na prateleira. Um homem alto ficou ao meu lado, encapuzado. Todo estranho.

— Com licença. — Tossiu pra dentro, querendo esconder algo.

— Claro. — Dei passagem.

Eu conhecia aquele cara muito bem!

— Jack? — Fiz uma careta após vê-lo retirar o capuz.

— Dá pra falar baixo? Eu não quero que ninguém saiba que sou eu. — Se escondeu, de novo.

— Pensei que tivesse ido embora da cidade.

— Você arruinou a minha vida! — Colocou o indicador em meu peito, apontando. — Graças à você eu tive que sair do Royalty. Graças à você eu tive que abrir mão da Sophia e agora você está com ela.

— Todo mundo sabe que você gosta da mesma fruta que a Sophia. Não tinha como você continuar com ela. — Pisquei rápido à ele que revirou os olhos. — Mas e aí? Como anda a vida?

— Não interessa pra você.

— Tudo bem. — Me rendi. — A gente se vê por aí. Melhoras na sua vida que eu arruinei. — Dei as costas e Jack me puxou de volta.

— Você vai se foder na minha mão! Pode anotar! — Me ameaçou. — Só vou esperar tudo amenizar pra voltar nessa espelunca de cidade.

— Não sabia que Nova Iorque costumava a ser uma espelunca. — Debochei, me sentindo mais leve em zoar a cara de Jack.

— Eu juro que vou te matar com as minhas próprias mãos! — Cerrou os dentes.

— No dia em que isso acontecer você pode chamar algum médico da sua preferência, porque eu vou estar doente de deixar você encostar um dedo em mim. — Dei as costas novamente.

Jack ficou ao meu lado, enquanto me guiava até o caixa.

— Festa? — Encarou a cesta cheia em minhas mãos.

— Não é da sua conta. — Respondi do mesmo nível que ele, passando minha compra ao caixa.

Jack ficou pra dentro do mercadinho, sumindo da minha vista e entrando em algum corredor, desviando sua atenção e deixando a sua inveja de lado.

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