Capítulo 95

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— Eu sei que você não tava com dor de barriga no consultório. — Sophia e eu estávamos nos amaçando dentro do carro. Já faziam três horas que eu estava atrasado pro curso e estava dando a mínima. Horácio me mataria hoje, se eu ainda fosse.

— E como você soube? — Segurei em seu maxilar, enlaçando minha língua com a dela.

Sophia tinha as pernas abertas no banco do passageiro, um pouco desconfortável por não ter tanto espaço.

— Porque eu sei que você tava duro. — Sussurrou enquanto me beijava. Adentrei com uma mão no meio das suas pernas, tentando arredar a calcinha.

Mas ela não deixou.

— E você tá duro de novo. — Soltou, rindo gostosamente após se apoiar em meus ombros. Me trazendo pra mais perto.

— Eu sei. — Alisei minhas mãos em sua costela, indo em direção à curvatura dos seios. Sophia protestou, me parando.

— Não, não, não. Aqui não. — Tinha os olhos cerrados enquanto me beijava, com um sorriso.

— Por que não? — A parei, lhe encarando, mas logo lembrei do exame mais cedo. Seus seios estavam doloridos pois ela iria menstruar. — Aaaaah. — Respirei fundo, voltando ao meu lugar.

— Que foi? — Ela se ajeitou no banco, fechando às pernas.

— Eu preciso ir, meu amor. — Olhei o relógio do câmbio. — Horácio vai me matar, se não já estiver me matando pelo pensamento.

— Micael, faz três horas que você tá atrasado. — Sophia soltou um riso. — Acho melhor você ir pro trabalho então. — Ficou um pouco triste.

— Eu juro que a gente vai sair no final de semana. — Encostei em sua perna, voltando à dirigir.

— Hummm. Sair? — Sophia se animou. — Podemos chamar os seus amigos, que tal?

— Duff, Arthur e Chay? Não mesmo. — Eu queria excluir da minha memória uma possível saída deles com Sophia. Ela iria traumatizar!

— E por que não? — Ela ainda sorria, um pouco descontraída.

— Porque eles são homens e falam besteiras à todo o minuto. — Fui sincero. — E nenhuma deles tem namorada, então... Precisamos arrumar novos amigos.

— Eu gosto dos seus amigos, eles parecem ser divertidos. — Assentiu.

Deixei Sophia em casa, quer dizer, na frente.

— Obrigada por ir comigo hoje e ver o show de horror. — Segurou em minhas mãos.

— Ah, não foi show de horror. Eu pensei que seria pior. — Imaginei.

— Pior como? — Segurou o riso.

— Melhor eu não te contar. — Torci o nariz, dando um beijo nela em seguida. — Eu queria mesmo é ficar com você mas... — Dei um olhar certeiro ao seu decote, lembrando da sua reclamação recente. Sophia revirou os olhos e riu.

— Para de ser safado! — Bateu em meu ombro, de leve. — Você precisa ir trabalhar. — Me lembrou.

— Na verdade eu preciso ir até o Horácio pra ele não me matar.

— Manda uma mensagem pra ele, fala que eu passei mal. — Eu amo a minha namorada!

— Boa amor. — A beijei, de novo.

Deixei Sophia em casa mas não voltei à empresa pra falar com Horácio. Fui direto na casa de Marco, faltando meia-hora pra começar o meu expediente como babá da capetinha Clara.

— Micael, aqui tem tudo que você precisa. — Jane passou a mão pelos armários, como se estivesse em um tour. — A Clara gosta de tomar mamadeira quando está perto da hora dela dormir. — Me avisou.

— E que horas ela costuma dormir?

— Depende do humor dela. — Ah claro! — Eu vou indo. Qualquer coisa você pode ligar no celular do Marco. — Pegou a sua bolsa e saiu, dando um beijo em Clara que estava na sala, com vários brinquedos espalhados.

Fui até ela que me encarou como ontem.

— Oi Clara. — Me sentei no chão, perto dos brinquedos. — Posso ver do que você está brincando? — Peguei uma boneca sem cabeça nas mãos.

Ela era tão... Meiga.

— De boneca. — Respondeu, doce.

Acho que iríamos pegar o jeito da coisa.

— E o que você quer fazer? — Passei minha mãos em minhas pernas, ansioso.

— Não sei. Você que cuida de mim! — Respondeu, por fim. — Mas a gente pode brincar de gato mia. — Optou, sorrindo sapeca.

— Gato mia? — Clara assentiu, deixando as bonecas de lado e correndo até à cozinha.

Sai do chão, tentando alcançar ela.

— É, gato mia. — Parou perto do balcão, mexendo os pés descalços.

— Ok. E o que você acha de colocarmos uma meia nesse pé? Jaja vai esfriar. — Relatei o problema de Clara nos pés, que estava descalçava no piso de madeira.

Se ela pegasse uma gripe isso não seria bom.

— Mas e o gato mia? — Bateu os pés, fazendo careta pra chorar.

Me desesperei.

— Olha, olha aqui. — Fiquei de frente com ela. — Podemos brincar de gato mia na hora de dormir, que tal?

— Mas se eu dormir eu não vou brincar de gato mia. — Essa era a intenção! — Então a gente pode brincar agora.

— Que tal eu ler uma história pra você, hein? — Dei outra opção. — Três porquinhos, pequena sereia... É, Cinderella? — Estalei os meus dedos, lembrando.

— Era uma vez a Cinderella que perdeu o sapato dela de vidro e virou abóbara e aí o príncipe abandonou ela. — Clara mexeu na ponta do seu vestido de Cinderella.

Eu queria rir com o abóbara.

— Na verdade não é assim. — Me escorei no balcão, fazendo uma careta leve. — E a história da pequena seria, você sabe?

— A minha mãe conta essa mas é chata. — Clara revirou os olhinhos azuis. — Eu tô com fome. — Reclamou, virando o corpo pra olhar a cozinha em volta.

— Você quer comer alguma coisa? — Claro, anta! Se ela tá com fome...

— Cereal. — Clara vibrou com os braços levantados.

— Cereal? — Abri os armários que Jane me mostrou. — Pode ser esse? — Mostrei a embalagem com uma arara azul e alguns flocos de cereais coloridos.

— Pode. — A garotinha deu um pulinho com os pés.

Coloquei o cereal em uma tigela de plástico.

— Cadê a sua namorada? — Clara perguntou, fazendo uma dancinha de criança enquanto esperava a comida.

— Em casa.

— Ela não veio porque ela não sabe dirigir uma abóbara? — Clara perguntou, inocente, me fazendo rir.

— Ela não veio porque esse é o meu trabalho. E namoradas não podem vir ao trabalho dos namorados. — Entreguei a tigela à Clara. — E ela sabe dirigir uma abóbara. — Sorri.

— Então ela tem uma abóbara na casa dela quando ela quiser sair. — A garotinha sorriu.

— É isso aí. — Sorrimos.

Até que não seria tão ruim cuidar de Clara.

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