Capítulo 70

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Depois do Duff ter praticamente surtado por suas conversas aleatórias envolvendo bocetas, eu terminei de preencher o álbum com todas as fotos impressas por Alan de Renato e Jack. Agradeci o meu amigo e voltei pro colégio, já que eu tinha treino noturno.

Estacionei o meu carro em uma vaga ampla, um pouco perto do gramado. Abri o porta-malas quando duas mãos taparam a minha visão, delicadamente.

Eu já sabia quem era só pelo cheiro e o toque suave.

— O que você tá fazendo aqui? — Me virei vendo Sophia. Usava um boné dos Rivers em bege, jaqueta jeans e um shorts. Dei um beijo demorado em seus lábios.

— Eu vim te ver. — Sorriu. — Tá atrasado pro treino?

— Que se foda o treino. — Voltamos a nos beijar. — Vem, vamos embora!

— Meu carro! Quer dizer, o carro da Mel. — Se embolou toda pra me dizer que estava com o carro da Mel.

Então as duas voltaram as boas?

— Você voltou a conversar com ela? — Arqueei a minha sobrancelha.

— Digamos que eu fui obrigada. — Sophia tombou a cabeça, junto de uma careta linda. — Depois você me traz?

— Sim senhora, dona borboleta saidinha que fugiu só pra me ver. — Dei beijinhos em Sophia até abrir a porta do passageiro à ela, que entrou rapidamente, trancando a porta.

Fechei o porta-malas e voltei ao meu lugar, ligando o motor e saindo dali.
Sophia teve a grande ideia de passear na ponte do Brooklyn, e eu me lembrei da minha irmã, começando a rir do nada, o que ela não entendeu, achando que os risos seriam pra ela.

— O que foi? — Começamos a caminhar pela noite fresca de Nova Iorque. — Eu gosto daqui!

— Eu trouxe a minha irmã aqui ontem. — Expliquei.

— Passeio de irmãos. — Sophia assentiu, colocando as mãos no bolso da jaqueta.

— Eu expliquei pra você, meu amor. — Ri leve.

— Eu sei, eu sei. Só tava querendo descontrair. — Encarou a noite e suspirou. Sophia não estava bem!

Casar obrigado é como enfiar a cabeça em uma tábua de corte e esperar para morrer. Fim!

— Como tá o clima na sua casa? — Paramos de andar, nos encostando.

— Minha mãe está vendo vestidos. — Seus olhos lacrimejaram. — Queria que uma confecção de Massachusetts fizesse um somente pra mim.

— E encontraram o vestido? — Eu sabia de tudo isso, já que havia escutado Renato reclamar com Jack no flat.

Era tipo um déjà vu.

— Encontramos. — Respondeu com um pingo de ânimo.

— Onde vai ser o casamento? Sua mãe já deu alguma opinião? — Engoli seco.

— É sério que você vai ficar perguntando ao invés de me lamentar? — Sophia não gostou.

— Meu amor, tem algo que eu possa fazer? Porque... Me diga! — Abri minhas mãos. — Eu tô tentando não piorar as coisas.

— Mas tá louco pra saber de todos os detalhes desse maldito casamento. — Sophia começou a chorar, se emburrando. — E eu ainda fui trouxa de prometer um filho pra você. — Ela se virou contra o vento, chorando sem a minha visão.

— Você acha que isso foi um ato de trouxa? — Cruzei meus braços.

Sophia ficou em silêncio, só secando suas lágrimas.

— Vai, Sophia. Me responde! — Coloquei ela entre a parede.

— Eu achei sim, Micael. — Ela se virou, me encarando. Tinha os olhos vermelhos. — Você não conhece o meu pai, você não conhece a minha família. — Estava trêmula. — Você não tem um emprego, sua família é... Eu não quero te magoar mas em que mundo você viu que poderia fazer um filho em mim e melhorar a sua situação?

— Pera aí. — Me ofendi. — Você tá achando que eu só tô com você por causa do seu dinheiro?

— Eu sei que você gosta de mim.

— Então por que soltou uma merda dessa? — Esbraveci. — Eu não sou igual ao seu namoradinho que só está do seu lado porque quer ter um status de rei com carros do ano e roupas de grife. — Soltei. — Eu gosto de você, Sophia! E me sinto um lixo por saber que você vai se casar com ele e eu não vou poder fazer nada.

— Você pode fazer alguma coisa. — Me disse como se estivesse procurando alguma luz.

— E que coisa é essa que eu posso fazer? — Mostrar as fotos!

Eu tinha todas as cartas na manga, só estava fazendo cena pra ver o que Sophia responderia.

Mas ela não respondeu.

— Eu não quero mais falar sobre isso. — Ficou entristecida, parecendo se esconder atrás daquele casaco. — Vou colocar na minha cabeça que eu vou me casar daqui à uma semana. — Remexeu os lábios, parecendo triturar a sua dor.

— Vou ser o homem mais triste do mundo.

— Não parece. — Virou o rosto para mim. — Você tá competente demais pra uma pessoa que realmente ama.

É o que?

— Você tá achando ruim porquê eu tô tentando te ajudar? Sophia, pelo amor de Deus! O seu pai é o Abrahão de poder, não é assim que dizem? — Me estressei por completo. — Eu não posso fazer nada, meu amor! Você vai subir no altar e se casar com um merda, e eu vou sofrer. Fim!

— E você não vai fazer nada pra rebater isso?

— Você quer uma prova de amor? Tudo bem. — Ela ficou abismada, sua face não negou. — E se eu disser pra você que vamos fugir? Hein?

— Pro meu pai pegar a gente de novo?

— Obrigado. — Fui irônico, juntando minhas mãos. Sophia revirou os olhos.

— Micael, quer saber? É melhor a gente seguir os caminhos. Não vamos conseguir ficar juntos mesmo! — Ela tava me dando um pé?

Depois de todo o meu sacrifício ela tava me dando um pé?

— Que bom que você pensa assim.

— Ótimo. — Sophia rebateu.

— Perfeito.

Ficamos fazendo birra como duas crianças de cinco anos.

— Você pode me levar embora? — Sophia cruzou os braços antes de secar suas lágrimas.

— Claro. — Debochei, esperando ela sair na frente

Eu não gostava de brigas mas o que Sophia me disse foi um pouco de cuzisse à parte. Sabia que ela estava aflita com o lance do casamento, e eu só queria ajudar, mas tentar me humilhar ao ponto de dizer que eu não a amo já foi demais pra mim.

Eu não iria sofrer por amor acabado, meu espetáculo de fotos só estava por vir.

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