Mel parou o mini cooper em frente ao Royalty School, onde meu carro ainda estava estacionado em seu perfeito lugar. As aulas haviam acabado e a noite começava a cair. Ficamos tanto no shopping que nem vimos o dia ir, aliás, Sophia não viu o dia ir.— Mica. — Sophia me chamou, colocando a cabeça pra fora do vidro. — Obrigada pelo dia de hoje. Você está incrível! — Sorrimos leve. — Amanhã nos veremos de novo. — Confirmou.
— Claro que sim, minha borboleta. — Acenei à ela, que sorria. — Bye, bye girls! — Recebi vários acenos e assisti Mel arrancar com o mini cooper, indo embora.
Graças a Deus, eu estava livre de Sophia e seu clã. Por pelo menos por vinte e quatro horas.
Entrei em meu carro e dirigi até em casa, cansado e com a orelha latejando um pouco. Eu curtia piercing mas a cicatrização era a parte mais chata, tirando o fato de não dormir direito. E não podia me esquecer do show que meu pai iria dar.
Onde eu estava, literalmente, amarrando o meu burro?
Estacionei o carro na garagem, ao lado do carro do meu pai. Tranquei as portas e entrei em casa com as trocentas sacolas de shopping, Lidiane franziu o cenho e minha mãe estranhou. Já estavam todos jantando.
— Filho? — Ela se levantou. — Onde você estava?
— Oi, mãe. — Deixei as sacolas em cima do sofá. — Eu sai um pouco.
— Essa porcaria de novo na sua orelha, Micael? — Não disse! Eu sabia que ele iria fazer show.
— Foi um presente. — Me justifiquei. — É de ouro e significa muito pra mim.
— Você tá parecendo um veadinho. — Lidiane riu e recebeu um olhar irritado de meu pai.
— Mentira. Eu adorei o seu visual! — Minha mãe passou a mão em meu cabelo cortado. — Ficou mais despojado, mais jovem, essas coisas. — Sorriu.
— E essas roupas de grife? Onde você conseguiu dinheiro pra comprá-las? — Meu pai cortava serenamente a carne em seu prato, me sondando pra saber o que havia acontecido.
— Uma amiga me deu de presente, nada demais. — Peguei um prato.
— Nada demais? Eu quero ser amiga da sua amiga. — Lidiane segurou o riso.
— Mãe, manda a Lidiane cuidar da vida dela. Por favor? — Fiquei sem paciência.
Afinal, era difícil ter paciência em casa.
— Você está saindo com essa menina? — Minha mãe se interessou, como uma fofoqueira de plantão, pronta pra descobrir as notícias.
— Ela é só a minha amiga, mãe!
— E por que você está tão... Afeminado? — Meu pai me encarou, querendo entender.
Lidiane apenas ria da situação. Eu tinha que contar o que estava acontecendo, antes mesmo de aparecer em casa como o cosplay da Hannah Montana.
— Vocês prometem que não vão contar pra ninguém? — Observei todos na mesa.
Foda-se meu pacto de sangue! Eles eram os meus pais e eu ainda morava debaixo do teto deles, eles tinham que saber!
— Você é gay, querido? — Minha mãe ficou boquiaberta.
— Não, mãe. Não! — Me irritei. — O negócio é o seguinte: eu apostei com os meninos uma quantia alta de dinheiro, acho que poderia ajudar a gente nas contas daqui de casa, ainda mais eu que tô precisando de grana. — Expliquei. — Eu apostei que viraria o melhor amigo da garota mais popular do colégio. — Estava aflito pela resposta dos meus pais, o que eles diriam, o que iriam pensar.
Mas só ganhei altas gargalhadas dos três.
— Você o que? — Meu pai ainda ria. — Micael do céu! Só você pra me fazer rir desse jeito. — Estava lacrimando de tanto rir.
— Meu filho, que loucura foi essa? — Minha mãe congelou o sorriso, rindo novamente. — Uma aposta? Pra que?
— Pra ganhar a grana, óbvio!
— Então agora você se chama Micaela? — Lidiane jogou a cabeça pra trás, rindo bastante, seguida do meu pai, que iria se engasgar de tanto rir.
— Vão rindo mesmo. Quando eu ganhar a aposta e todos quiserem o dinheiro, aí sim, podem rir! Caso contrário, não perturbem o meu plano. — Fiz meu prato e sai da mesa, meu pai voltou ao normal automaticamente.
— Ei! Onde você vai? Sabe que o jantar é na mesa de jantar.
— Cansei de ficar assistindo o show de riso de vocês. Tô caindo fora! — Subi as escadas com o prato em minhas mãos. Depois desceria pra buscar o resto das sacolas de shopping, no momento eu só queria comer, meu estômago estava pedindo carne e não salada de alface com rúcula.
Enquanto jantava em cima da minha cama, fiquei pensando nos lábios de Sophia Abrahão, que pareciam ser feitos em uma loja de brinquedos. O jeito como ela era frágil, as vezes meiga, o sorriso... Era estranho demais saber que aquela menina se apaixonaria por um ogro como Jack. Ela precisava de mais! E o que me inconformava era o jeito que ela se apegou comigo, em apenas um dia. Eu estava sendo dela e ela sendo minha, seríamos bons melhores amigos.
E isso só foi o primeiro dia!
— Você precisa se controlar, a semifinal está chegando! — Escutei o clã conversar com Sophia, enquanto me aproximava de sua mesa no refeitório.
— Eu estou de TPM. Quantas vezes preciso falar pra você? — Sophia rebateu, rasgando a embalagem de Snickers com toda a força do mundo, colocando o chocolate na boca desesperadamente.
Me aproximei da mesa, colocando minha mochila em uma cadeira vaga.
— Bom dia, meninas. — Me sentei ao lado de Sophia, que apoiou sua cabeça em meu ombro.
Confesso que eu estava gostando.
— Bom dia, Borboleto. — Era o que? Meu subconsciente estava gargalhando. Eu tive que prender meu riso naquela mesa instantaneamente.
— O que houve, borboleta? — Perguntei para a mesma que estava triste, mastigando com dificuldade o caramelo do Snickers. Mel bufou na hora, comendo uma barra de cereal fitness.
— Sophia está de TPM. — Mel avisou. — O clã está em perigo.
— Muito perigo! — Outra do clã soltou a voz, negando com a cabeça.
— Você precisa fazer alguma coisa, Borboleto. — Sophia ainda estava triste em meus ombros, de boca cheia. — Eu vou sangrar daqui à alguns dias e não estou segurando a minha boca fechada. — Lamentou-se.
— Oh, minha borboleta. — Fingi estar comovido pelo seu drama matinal de menininha mimada. — Podemos fazer alguns doces saudáveis, que tal?
— Doces saudáveis? — Sophia se levantou na hora, me encarando. — Existe isso?
— Lógico que existe, borboleta! Brigadeiro de banana, bolo sem glúten e sem lactose, torta vegana. — Lembrei das receitas loucas da minha mãe.
— Que incrível, Mica. — Sophia se animou um pouco. — Mas eu queria um chocolate de verdade, bem gorduroso. Minha TPM está gritando! — Voltou a encostar a sua cabeça em meu ombro.
— Você tem preferência do que quer comer, borboleta? — Fiz cafuné em seus cabelos.
— Apenas um chocolate. — Decretou, ainda triste — Mel, pode me deixar com o Mica. Hoje eu quero ficar somente com ele. — Me abraçou, despistando as amigas que saíram da mesa.
Sophia Abrahão frágil? Temos. E temos muito!
Santa TPM!
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Aposta de Amor
RomanceMicael Borges e seu grupo de amigos decidem criar uma aposta maluca, onde o foco é atrair a atenção de Sophia Abrahão, a popular do colégio e a estrela das líderes de torcida. O por quê disso? Simples: Queriam se vingar de seu namorado. Mas a apos...