Capítulo 5

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O falatório no colégio repercutiu como um tiro. Eu fui zoado por mais ou menos oito turmas quando passei pelo corredor, sozinho, engolindo meu ego pra não dizer que aquilo tudo se passava de uma grande mentira. Na verdade, uma aposta. E eu tinha tudo à perder. Tentar ser o melhor amigo de Sophia Abrahão seria um desafio e tanto. Eu nunca vou me imaginar compartilhando segredos dela, ou até mesmo, contando segredos meus à ela. Eu nunca me imaginei que faria papel de gay, só pra tentar me aproximar dela.

Que grande loucura, Micael. Que grande loucura!

Estava andando agora até o gramado onde Sophia e seu clã ensaiavam as coreografias de líderes de torcida. Eu não sabia como pronunciava, mas sabia que elas faziam mais sucesso do que o próprio time de futebol americano. Aproximei a loira dançando perfeitamente, enquanto citava o bordão do time, as roupas curtinhas que caíam ótimas em seu corpo. O uniforme era vermelho com detalhes em branco, os pompons ambos da mesma cor e a fita no rabo de cavalo. Eu não daria pra ser líder de torcida nem fodendo!

— CatGirls, vamos lá!
Avante, em cima e atacar.
Somos todas de morrer.
Sparta Warriors vão vencer!

Sophia balançou os pompons, antes de descer da pirâmide humana que haviam feito para ela. Mel me avistou de longe, correndo até mim.

— Viiiiiiiiiii. Que bom que você chegou! — Esse Viiiii seria de veado? — Eu conversei com Sophia, ela ficou em silêncio.

— Você conversou com ela? — Entrei no personagem.

— Conversei. A sua história comoveu ela mas acredito que seja a TPM atacando. — Explicou. — Vamos almoçar juntas? Eu estou louca pra comer aquele brócolis com rúcula assada. — Mel imaginou, salivando.

— Tadinha da Sosô. — Neguei, incrédulo. — Será que ela está bem?

— Está sim! — Mel assentiu, sorrindo. — Eu vou tirar essa roupa e vamos todas almoçar. Pode ser?

— Claro que sim! Estarei esperando aqui, de perninhas cruzadas. — Me sentei na arquibancada, cruzando as pernas e fazendo um carão patético. Eu realmente não daria pra ser gay.

Enquanto Mel saía de perto, as outras também saíam. Menos ela, a que estava inquieta e impaciente, me observando de longe enquanto se desfazia dos pompons. Caminhou até onde eu estava, os cabelos loiros ao vento, ricocheteando o seu rabo de cavalo.

E ela era... Perfeita! A pele branquinha sem nenhuma mancha ou imperfeição de espinha. Os olhos azuis como dois cristais, a boca perfeitamente desenhada e rosada. Aquela menina foi criada em laboratório? Como pode ser tão perfeita? Eu nunca tinha visto uma beleza como aquela.

Ela foi se aproximando.

— Oi. — Soltou, com um pouco de vergonha, mas logo foi perdendo. — Você deve ser o Micael, não é?

— Ah, claro! Oi Soph. Será que eu posso te chamar assim? — Me levantei, ficando frente à frente com ela.

— Pode. Pode sim. — Assentiu, dando meio sorriso. — Mel falou muito de você hoje. — Encolheu os ombros.

Ela não era tão chata quanto diziam.

— Eu sem querer me desabafei com ela. Você sabe. — Fiquei sem graça, fingindo estar sem jeito. — Esse mundo de libertação ainda é novo pra mim.

— Eu sei como é, Micael. Ainda mais você que era bem apegado aos seus amigos. Não? — Assenti.

— Exatamente, Soph. Eu os perdi por conta da minha sexualidade. Você sabe, não sabe? — Foi a vez dela assentir. — Amei o fato da Mel ter me acolhido tão depressa.

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