Capítulo 4

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Eu acordei cedo na manhã seguinte.

Porém, atrasado!

Eu odiava me atrasar, ainda mais quando tinha prova de Matemática na primeira aula.

Me apressei, tomando um banho rápido e fazendo as minhas higienes matinais. Meu pai e minha mãe já tinham saído pro trabalho, não tive encheção de saco pela manhã. Lidiane também já estava na escola, tudo certo!

Entrei na aula, quieto, me sentei afastado dos quatro. Já estava colocando a minha aposta em prática.

— Licença, profzinha. — Melanie Fronckowiak, mais conhecida como Mel entrou na sala, junto das demais líderes de torcida, e junto de Sophia também.

A mesma sentou-se atrás da morena, colocou o seu fichário debaixo da carteira e buscou o estojo, se preparando para a prova. Como era metida, meu Deus! Como eu iria me aproximar daquela coisa rosa? Meu estômago se revirava.

Mas que ela era linda, isso eu não podia negar.

— Bom dia, pessoal. — A professora entrou, tinha as demais folhas em mãos. — Preparados? — Deixou os papéis em cima da mesa.

— Não mesmo. — Duff fez a sala inteira rir.

— Borges. Você aí no fundo, separado? — Ela me encarou, surpresa. Todos se viraram, olhando pra mim.

— Eu quero ficar aqui... Prof. — Fiz uma voz altamente clássica, fina e afeminada. Recebi olhares surpresos, olhares sem graça e também recebi risos dos demais. A aposta não seria fácil!

— Bom. — Até a professora se surpreendeu. — Espero que você não esteja fazendo nenhuma gracinha. — Segurou o riso.

Por que ninguém me levava a sério?

— Claro que não, prof. Eu jamais faria isso! — Coloquei as mãos em meu peito, entrando no personagem.

Mel ficou boquiaberta. Sophia apenas me observava.

— Aconteceu alguma coisa com você, Micael? — A professora estava realmente preocupada.

— Não.

— E por que você está agindo desse jeito? — Gesticulou.

— Acho que o Borges virou Borgas. — Ronaldo soltou, fazendo a sala gargalhar. Era péssimo ser o palhaço do picadeiro, mas eu estava fazendo aquilo por mil dólares e um esfregão bem dado nos meus amigos.

E eu acho que estava dando certo. Sophia ainda me observava, com um olhar baixo, de dó. Os olhos azuis podiam brilhar sozinhos se pudessem.

Vou te catar, loirinha!

— Pessoal, hoje a prova vai ser um pouco diferenciada. Tudo bem? — A professora voltou a escrever na lousa. — Nós vamos realizá-la em dupla! Depois eu vou fazer uma escala de notas, bem depois. Hoje eu quero que a turma trabalhe por dois, duas mentes trabalhando a inteligente. Bora lá? — Observou a sala. — Eu vou montar as duplas!

Cruzei meus dedos na espera.

— Duff, você senta com o Arthur. Alan senta com a Melissa. Chay, você pode sentar com o... Micael! NÃO! Quer dizer. Chay, você senta com o Patrick. Sophia senta com... — Ela procurou com o olhar. — Com a Hilary. E Micael, você senta com a Melanie. Os demais podem escolher as suas duplas!

— Por que eles podem escolher e a gente não? — Duff questionou.

— Porque a inteligência de vocês me deixam com medo. — A professora deu ênfase, logo após, entregando a prova aos demais.

Ajuntei minha carteira com a de Mel, sentando ao seu lado. O perfume doce me enjoou, logo de manhã.

Aquilo iria durar...

— Sabe... Eu espero que você seja muito feliz na sua nova jornada, Micael! — Soltou, do nada.

Franzi meu cenho mas logo entendi.

— Oh, meu Deus, eu... — Me fingi emocionado. — É difícil ainda pra mim, sabe? — Ela assentiu. — Todos esses meninos homofóbicos e... Jesus! — Rolei meus olhos, fingindo tristeza.

— Eu fico feliz que você tenha se descoberto. — Mel sorriu.

— Obrigado.

— Como você chegou a essa conclusão? Quer dizer. — Estava animada. — Você se olhou no espelho e disse que queria ser livre, ou então, foi desde pequeno? Britney Spears nas festas de família? — Socorro! Eu quero a minha mãe?

— Eu sempre adorei dançar e eu tinha inveja da minha irmã, acredita? — Mel deu um riso. — As roupas estilosas, as maquiagens... Tudo! Eu sempre me escondi da minha família, o meu pai então... Eu fico muito triste com essa decisão dele! Mas a vida é assim.

— Ele te expulsou? Te emancipou? — Mel estava com dó de mim.

— Ele não aceita muito. — Abaixei a minha cabeça.

— Oh, meu Deus! Mas fique sabendo que estamos abertas pra trazer você ao clube. Adoramos as gays! — Estava dando certo! — Eu só preciso falar com a Sophia, porquê, você sabe... Ela é quem decide tudo.

— Amiga, não esquenta! Eu não quero atrapalhar vocês. Onde já se viu? — Soltei um riso sarcástico. — Sophia deve ser muito ocupada com a boa forma, não? — Observei ela de canto, concentrada na prova.

— Ah, ela é sim! — Mel confirmou. — Ela treina todos os dias, monta as coreografias e é obcecada em salada de alface. — Me contou. — Somos obrigadas a comer também.

— Jesus! Vocês não sentem fome?

— No começo sentíamos mas agora é tudo normal. Sophia nos ensinou tudo! Desde comer salada e até correr de madrugada pra malhar. — Aquilo era loucura demais.

— Deve ser realmente interessante. — Dei um risinho.

— Quer assistir o nosso ensaio hoje?

Aquilo estava sendo mais fácil do que eu pensava.

— Jura? — Fiquei surpreso, colocando as mãos no peito novamente, de um jeito delicado. — Eu adoraria! De verdade! — Sorrimos. — Sophia não vai ficar com raiva? Ou até mesmo, achar ruim?

— Claro que não! Eu devo falar com ela quando terminarmos aqui, mas tenho certeza que você já é uma do clã. — Mel estava extremamente ansiosa com o fato da minha sexualidade aflorada, mesmo sendo mentira. — Eu adorei conhecer essa parte sua, Micael! — Mel segurou a minha mão.

— Posso saber o que tanto vocês conversam? — A professora parou ao nosso lado, observando a prova ainda em branco. — Já se passaram vinte minutos de prova e ainda nada de vocês!

— Estávamos falando um assunto sério, profzinha. — Mel fez uma cara de dó. — O Micael se assumiu gay, isso é uma maravilha!

— Jura? — Ela me encarou, supresa. — Eu realmente não sabia, você... Eu estou surpresa!

— Eu me libertei, professora. Eu me libertei! — Sorri. — A única coisa agora que eu quero é curtir e beijar a boca desses meninos sarados do time de futebol. — Mel adorou, a morena ria de orgulho.

Aquilo era patético! Onde eu fui amarrar o meu burro?

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