Capítulo 65

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— Mãe, tô saindo! — Desci as escadas com pressa.

— Aonde você vai? Eu te chamei pra jantar umas três vezes. — Bateu com as mãos na mesa, não entendendo a minha pressa.

— Eu preciso sair. — Não queria explicar muito.

— Na verdade você tá saindo demais, não acha? — Meu pai me olhou por cima, dando um suspiro de paciência.

— É sério pai, eu preciso muito sair. — Quase implorei. — Vejo vocês... Amanhã?

— Você vai dormir na casa da Sophia? — Minha mãe soltou um risinho debochado.

— E você tá namorando a Sophia agora? — Meu pai ficou impressionado em saber. — Isso é novidade aqui em casa!

Por que a minha família era assim?

— Eu só preciso sair e não, eu não estou namorando a Sophia. — Peguei a chave do meu carro.

— Não é pra voltar tarde, hein! — Minha mãe soltou o aviso mas eu caguei pra ela, como sempre cagava.

Destranquei o carro e entrei, acendendo a luz pra poder enxergar melhor e me assustando com Lidiane dentro do carro, com os fones de ouvido.

— PUTA QUE PARIU, LIDIANE! — Bati as mãos no volante. — VOCÊ QUER ME MATAR?

— Ei! Não precisa gritar desse jeito. — Retirou os fones de ouvido. — Eu só queria fugir da mamãe.

— Tá aí uma coisa impossível de se fazer. — Fui irônico. — Agora vaza do meu carro!

— Eu não quero voltar pra casa. — Fez uma cara super triste que quase me comoveu.

Me comoveria mais se eu não fosse irmão dela.

— Não me interessa se você não quer voltar pra casa. — Fui rígido. — Vaza do meu carro que eu preciso sair, por favor. — Soltei, sem paciência.

— Você vai ver a Sophia?

— Te interessa?

— Me leva pra dar uma volta, sei lá. Eu preciso viver, Micael! — Do nada?

— Você tá sofrendo pelo o seu primeiro namorado, não adianta pagar de heroína e dizer que vai sair pra pegar geral. Você ainda é uma aborrecente que não sabe nada da vida. — Liguei o motor. — Agora dá pra sair?

— Você não vai mesmo me levar pra um lugar legal?

Bufei antes de pegar o celular de Alan no bolso da minha bermuda jeans. A mensagem de Sophia apareceu no visor.

"Jantar rolando, deve demorar! Te mando mensagem assim que acabar"

— Temos tempo. — Sorri amarelo à Lidiane que quase pulou em cima de mim, se alegrando.

Não tinha muito o que fazer com uma menor de idade, assim como eu. O que restava era um sorvete de cinco dólares com duas bolas e cobertura extra, e...

Andar pela famosa ponte do Brooklyn, enquanto conversávamos.

— Eu dei o meu primeiro beijo aqui. — Me lembrei. Lidiane fez uma careta.

— Que nojo!

— E você não beija?

— Eu beijava. — Ficou triste rapidamente.

— Eu sei que a gente não tem intimidade o bastante pra isso mas... O que rolou entre você e o Lucas?

Lidiane soltou um suspiro.

— Ele tinha outra, Mica. — Soltou. — Me prometeu o mundo e tinha outra.

— Garotos... — Comi a casquinha do meu sorvete.

— Aposto que você também é assim.

— Eu? Jamais! Posso ser tudo menos infiel. — Deixava bem claro pra todas as meninas que eu me comprometia. — Agora, você não deveria ficar triste por um garoto que ainda tem fimose.

— MICAEL! — Lidiane berrou.

— E eu tô falando mentira? — Queria muito rir mas comecei a ter dó da minha irmã. — Ele te prometeu o mundo mas não tem nada.

— Igual à você! Tenho certeza que você promete o mundo pra Sophia mas não tem um dólar no bolso.

Paramos de caminhar, nos escorando no concreto da ponte. A vista dali era incrível!

— O meu caso com a Sophia é totalmente diferente. — Pensei. — Eu sei que eu não tenho nada pra oferecer pra ela, mas, somos um pouquinho mais evoluídos do que vocês.

— Tá chamando a gente de criança?

— Sim? — Lidiane não gostou muito. — Você ainda não tem maturidade pra levar um relacionamento à sério, Lidiane. Tem muito o que aprender ainda!

— E você aprendeu alguma coisa tendo a Sophia do seu lado?

— Sim, muita coisa. — Aprendi até em como pensar na minha vida na cadeia, caso eu matasse o pai dela. — Nossas vidas são diferentes mas eu aprendi muita coisa com ela.

— Você não fica mal por isso?

— Status financeiro?

— É.

— E por que eu ficaria mal? — Remexi meus ombros.

— Porque você precisa usar o dinheiro dela pra ser feliz.

— E quem disse uma merda dessa pra você? Eu não uso a Sophia por conta de dinheiro, Lidiane. Eu amo ela e dinheiro não é tudo. — Diz isso pro contrato que eu assinei então!

— Tá. Não vou discutir com você, não vamos chegar à lugar nenhum. — Ela terminou o seu sorvete. — Eu só queria ser feliz.

— Aí garota, vai viver! Ninguém morre de amor. — Já dizia a minha mãe.

Minha irmã revirou os olhos antes de sairmos de lá. Já tinha feito a minha operação babá e levaria ela pra casa de novo, consegui enrolar por mais ou menos duas horas na rua, o resto era com Sophia.

Estávamos quase chegando em casa quando Lidiane soltou uma pérola.

— Mica. — Se virou no banco do carro, me observando dirigir. — Eu acho que o papai tá traindo a mamãe.

— E como você tem certeza disso?

— Eu não tenho certeza mas ele anda muito estranho. Você não acha?

— O papai sempre foi desse jeito, Lidiane. Não surta! — Comecei a pensar nas palavras de Renato, nas ilhas Fiji.

"Eu sei o que o seu pai faz escondido quando ninguém está olhando".

— Você ficou estranho.

— É que você enche a cabeça dos outros com nada. — Me estressei. — Eu só não quero você enchendo a cabeça da mamãe com isso. Ela tá grávida! Devo te lembrar isso de novo?

— Como não esquecer. — Lidiane cruzou os braços.

Havíamos chegado em casa. Puxei o freio de mão enquanto Lidiane se soltava do cinto.

— Valeu pelo sorvete.

— Você ocupou o tempo que eu precisava. Agora calada e não diga que eu te levei pra... Passear.

— Não vou falar nada. — Destrancou a porta. — Mas todos nós sabemos que você vai ver a Sophia.

— Se você sabe por que fica rodeando a pergunta mil vezes? — Eu não entendia a lógica da minha irmã.

— Porque eu gosto de te irritar. — Ela saiu do carro, batendo a porta em seguida.

Observei Lidiane entrar. Peguei novamente o celular de Alan, mandando uma mensagem à Sophia.

"Tô saindo de casa! Vou ficar esperando do lado de fora"

E lá vamos nós!

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