Capítulo 54

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— Então. — Joguei a almofada em formato de bola de futebol americano pra cima. Alan me observava. — Eu aceito a proposta da velha?

— Hum... Vejamos. — Alan pegou o maço de cigarro. — Você assinou o contrato com o Abrahão, certo? — Assenti. — E depois a velha soltou isso, do nada?

— Ela quer que eu me case com a Sophia pra conseguir a administração das empresas Abrahão. — Continuei jogando a almofada.

— Se você pensar por esse lado... — Alan acendeu o cigarro. — É uma ótima ideia! — Tragou em seguida.

— Tá. Mas e o contrato que eu fiz com o pai dela?

— Aí você enrola, arranja um plano. Você já tá todo fodido mesmo. — Se jogou no sofazinho da sua garagem. — Pensa bem, Borges! É uma empresa, ok? Você vai ser dono daquela porra ao invés do pangaré de rodinha do Jack. — Gesticulou.

— Mas eu não posso perder a Sophia, Alan! — Joguei a almofada longe. — Eu nem cogitei quando ela souber de toda a verdade. — Entristeci na hora.

— Uma hora ela vai descobrir.

— E eu não quero que isso aconteça.

— Tudo bem. — Ele se sentou ao meu lado. — Só pensa na proposta da mãe dela, falou?

— E o pai dela vai achar lindo, né? — Debochei. — Ele me odeia! Ele não suportaria um preto se casando com a filha dele. O Renato é racista! — Deixei bem claro à Alan que estava achando aquilo uma bobeira minha.

— Na verdade você é moreno, não é? — Alan debochou.

— Quer saber? Foi uma péssima ideia ter vindo aqui. — Me levantei, Alan tentou me segurar.

— Calma aí, cara! — Rendeu as mãos. — Só tô descontraindo, caso você queira me matar depois.

— Eu preciso muito da grana, Alan. É sério! — Andei de um lado para o outro. — Minha mãe vai ter outro bebê, isso me faz automaticamente querer sair de casa. — Pensei. — Eu preciso de dinheiro pra me estabilizar, não posso ficar usando a merreca que o meu pai me dá de bom agrado.

— É por isso que você precisa aceitar a proposta da mãe da Sophia.

— E o contrato que se foda? — Me irritei.

— Cara, você tá todo fodido! Tudo bem que o contrato é bem mais, só que pensa bem. — Alan chegou mais perto, apagando o cigarro. — Você vai ser dono daquela porra, no futuro. Vai que o Abrahão bate as botas, hein? Você tá montado na grana, Micael. Acorda!

— E se ele mexer com a minha família como ele prometeu? Você não pensou nisso, né Alan? — Bufei.

— Micael do céu... É por isso que a tua vida não vai pra frente, sabia? — Apontou pra mim, um pouco irritado. — A gente tenta te ajudar mas você se afunda.

— Eu pedi um conselho e ganhei sermão, isso sim.

— Tá ganhando porque quer! Eu já disse pra você aceitar a proposta da mãe dela, vai ficar tudo mais fácil! — Pausou. — Dá um jeito de contar pra ela que você gosta de mulher e não é veado, e depois, começa a lutar pelo o que é seu.

— E o que é meu, Alan? — Rolei meus olhos sem paciência.

— A Sophia e a empresa. — Pro Alan tudo era mais fácil.

Porque não estava no cu dele.

— Tudo bem, tudo bem. — Suspirei fundo. — Eu vou pensar mais um pouco e... — Fui interrompido pelo o meu celular. — Espera aí. — Disse à Alan que mostrou o dedo do meio, já cheio dos meus problemas.

Vi o nome de Sophia no identificador de chamadas.

— Borboleto?

— Oi borboleta. — Sorri. — Tudo bem com você?

— Tudo sim, na verdade, tudo ótimo!

— Ah sim... Então, aconteceu alguma coisa?

— Uma coisa muito boa. — Sua voz estava animada do outro lado da linha. — Consegue adivinhar?

— Eu não faço a mínima ideia, borboleta. — Ainda estava sorrindo, como um idiota.

O amor é um caralho inexplicável. Só quem sente, sabe.

— Eu comprei as nossas passagens. — Perfeito!

— Sério?

— Super sério! Vamos embarcar amanhã.

— Amanhã? — Cocei minha cabeça, pensativo. — Mas... Eu preciso contar pra minha mãe, borboleta.

— Você acha que ela vai brigar?

— Não sei. Se bem que, é final de semana! — Uma boa. — Eu ligo pra você depois, tudo bem?

— Ok, se puder, passe aqui depois.

— Pode deixar! — Sorri. — Eu te amo.

— Também te amo, Borboleto! — Sophia desligou a ligação antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

Alan me encarava com uma cara de desaprovação.

— Você vai viajar desde quando?

— Eu tinha te avisado. Não avisei?

— Sei lá. Você tá todo diferente depois que essa menina roubou o seu coração! — Alan riu. — Já sabem o destino?

— Ainda não, mas ela já comprou as passagens. — Fiquei surpreso. — Pra onde você acha que ela me levaria?

— Ela tem cara de quem gosta de lugares frios, bregas... Essas coisas de românticos.

— Você acha que ela me levaria pra um lugar desse? — Pensei.

— Não sei. Qualquer coisa vindo dessa menina é válido, né?

— Não fala assim. — Confesso, eu estava animado pra saber o nosso destino. — Eu vou indo nessa, preciso falar com a Sophia.

— Tá vendo? Você se esqueceu que tem amigos. — Alan reclamou, me vendo sair da sua garagem e ir direto ao meu carro.

Precisava falar com Sophia, urgente. Na verdade, minha ansiedade não iria aguentar, eu precisava saber pra onde iríamos e o que eu precisava levar dentro da mala. Fazia tempo que eu não viajava desse jeito, até por um final de semana!

Estacionei meu carro na frente da mansão, tocando a campainha e dando de cara com ela.

— BORBOLETO! — Ficou em cima de mim, enquanto me abraçava.

— Oi, borboleta. — Sorrimos. — Tudo pronto?

— Tudo! Você está ansioso?

— Eu quero saber pra onde vamos. — Sophia riu com a minha ansiedade.

— Infelizmente você só vai saber amanhã. — Tocou a ponta do meu nariz. — É surpresa!

— Meu amor... Eu odeio surpresas! Você pode me adiantar logo? — Fiz uma carinha de abandonado, fazendo Sophia rir.

— Não, eu não posso. — Me abraçou. — Já disse que é uma super surpresa.

— E se eu morrer até lá?

— Cruzes! Isso não vai acontecer e eu não vou te contar.

— Poxa, amor. — Cheirei o pescoço de Sophia mas ela me parou na hora. — O que?

— Meu pai está aí! — Fodeu. — Vamos evitar isso antes que ele veja e aconteça algo pior.

— Tudo bem. — Assenti. — Mas você não vai me dizer mesmo?

— Não. — Sophia deu uma gargalhada gostosa antes de me puxar até o sofá, descontraindo.

Eu iria morrer sem saber pra onde iríamos.

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