Capítulo 82

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Me sentei em uma poltrona reclinada de couro, em minha frente havia um tripé com uma câmera Cannon, a mais recente de todas. Renato estava atrás com um caderninho branco, me dando os seguintes sinais para falar em frente à câmera, sem ressentimento e medo.

— Posso começar? — Encarei ele que assentiu, me mostrando o caderninho com sua caligrafia.

Renato apertou o botão da Cannon. Um barulho surgiu junto de uma luz vermelha, indicando que já estava gravando.

— Meu nome é Micael Borges e sou responsável por interromper o casamento da Sophia, mostrando as foros editadas por mim, de Renato Abrahão e seu noivo, juntos, afirmando ter feito relações sexuais. — Juntei minhas mãos. — Peço desculpas pela mentira inventada. Agradeço por ter a chance de estar aqui e contar o que fiz. — Li o final da escrita, não acreditando. — Pois sou só um simples garoto pobre! — Eu odeio o meu sogro com todas as letras.

Renato apertou o mesmo botão do início, parando a gravação.

— Magnífico. — Soltou o caderninho.

— Me senti no Big Brother. — Me levantei. — E a última parte foi totalmente desnecessária.

— Mas eu gosto de escutar você dizendo que é pobre. Me soa esplêndido. — Alisou a ponta dos dedos.

Revirei meus olhos.

— Preciso de um emprego. — Soltei.

— Problema é seu. — Renato andou até uma cômoda antiga com uísques importados. Era bem parecido com uma cômoda.

— Eu quero morar sozinho. — Vi ele despejar o líquido em um copo menor, colocando duas pedras de gelo. — Minha mãe está grávida e eu preciso parar de dar despesas.

— Por que o pobre gosta tanto de fazer filho sendo que não tem a capacidade de cuidar? Já que não tem dinheiro. — Bebeu o uísque. — Eu entendo o seu desespero pra sair de casa, mas fique sabendo que você não ganhará nenhuma mordomia que Jack tinha, ainda mais sendo o novo namorado de Sophia. — Soltou o verbo.

— Eu não tô com a Sophia pelos bens materiais dela. Eu tô com ela porque gosto dela! — Assisti ele se sentar em sua poltrona, atrás da mesa. — Eu preciso de grana pra conseguir morar sozinho. — Me lamentei. — Será que... Eu não consigo arrumar um estágio enquanto faço o curso? Sei lá. — Levantei meus ombros.

Renato começou a rir. Otário!

— Estágio? Pelo amor de Deus, você nem terminou o colegial ainda. — Ainda ria. — Estágio... Vocês adolescentes são inacreditáveis.

— E como eu vou administrar a empresa sendo que não tenho um estágio?

— O estágio serve pra você aprender e ter prática em um emprego. Por enquanto você não tem um emprego! Só tem um curso que eu estou te dando. — Pausou. — E sabe quando você vai conseguir administrar essa empresa? Quando eu estiver morto ou preso por alguma merda que fiz em passados mais que escondidos. — Virou o copo de uísque com tudo.

Essa saiu rasgando.

— Então tá dizendo que eu não vou te provar que consigo administrar uma empresa? — Me indignei. — Não era isso que combinamos, Renato.

— Vá pro seu curso, você já está três minutos atrasado. — Arregaçou um pouco a manga de seu terno, vendo o relógio grande em seu pulso. — Ande logo! Suma daqui! — Me espantou com as mãos, me fazendo sair da sala pisando duro.

Caminhei até o elevador, e antes que pudesse parar alguém na imensa empresa pra perguntar sobre algo, um homem alto e de terno me parou. Tinha uma pasta no braço.

— Você deve ser o Micael Borges, sim? — Ficou um pouco desconfiado.

— Sou eu. — Ele seria o meu professor?

— Meu nome é Horácio! Irei te ensinar tudo sobre o mundo das administrações. — Não disse? — Vem comigo. — Segui o homem engomadinho até uma sala, no segundo andar.

Eu já estava ficando perdido com tanto elevador.

— Micael, você tem em mente o curso que deseja seguir quando acabar o colegial? — Entramos na sala. Horácio fechou a porta enquanto eu me socializava com a sala ampla, um telão na parede e cadeiras de anfiteatro postas.

— Eu não faço a mínima ideia. — Fui sincero.

— Um péssimo passo pra alguém que quer administrar uma empresa. — Será que todo mundo nesse lugar adora me desprezar ou Horácio foi pago pra me humilhar?

— Esse negócio de administrar é muito difícil? — Já estava ficando com preguiça.

— Depende do seu ponto de vista. — Horácio abriu sua maletinha chique, que estava junto da pasta. Retirou uma apostila, me entregando. — Você sabia que as empresas Abrahão é 70% líder em recordes mundiais no mercado? — Alguém traduz o que ele falou.

— É... Não? — Franzi meu cenho.

— Pois então! O senhor Abrahão conseguiu um certificado por mérito. Você pode estar verificando na saída do prédio, à sua esquerda. — O cara era baba-ovo do chefe... Impressionante. — Mas vamos começar com o seu curso.

— Horácio. — Ele me encarou. — Eu preciso de um emprego!

— Um... Emprego? — Ele se surpreendeu. — Mas por que você precisa de um emprego?

— Pra sobreviver? — Fui óbvio.

— Mas você é namorado da donzela Sophia Sampaio Abrahão. É impossível que você precise de um emprego. — Horácio soltou um risinho.

— Pera aí. — O pausei. — Como você sabe que eu e Sophia estamos namorando?

— Eu, sem querer, escutei o senhor Renato comentando sobre você, na sala de executivos. — Ora, ora! — Parece que você não foi muito bem apresentado.

— Não me diga. — Debochei. — Ele disse mais alguma coisa?

— Só escutei o necessário, Micael. — Ele desviou o assunto. — Vamos começar? Página 3, estrofe um.

Abri minha apostila.

— Você pode me confirmar se eu vou dormir ou não?

— Se você dormir eu serei obrigado à passar o Feedback ao senhor Renato. A decisão é sua! — Bufei.

— Tudo bem, Horácio. Você ainda vai ser o meu grande amigo dentro dessa prisão. — Encarei as escritas difíceis da apostila, fazendo Horácio quebrar os neurônios comigo.

Cinco horas depois.

— Acabamos! — Horácio fechou sua pasta.

— Graças a Deus, né? Minhas costas estão doendo. — Me espreguicei, queixando. — Amanhã tem mais dessa merda? — Fechei minha apostila.

— Todos os dias! Você conseguiu pegar algumas referências?

— Eu só quero chegar na parte que ganha dinheiro. Fora isso, não quero aprender mais nada. — Me levantei, indo até Horácio. — Obrigado pela aula.

— Até amanhã, Micael. Estude o parágrafo quatro, ele vai ser importante na próxima aula.

Assenti cansado e sai da sala. Peguei meu celular vendo trocentas mensagens de Sophia, uma encima da outra, querendo saber onde eu estava.

Resolvi ligar pra ela.

— Oi amor. — Entrei no elevador.

— Você já saiu do curso?

— Acabei de sair. — Arrumei meu cabelo diante do espelho.

— Meu pai já chegou em casa e disse que não te viu na empresa. — Velho filho da puta. — Você vai passar aqui, não vai?

— É, então meu amor... — Eu estava morto de cansaço!

— Te espero pro jantar. Um beijo! — Sophia desligou antes que eu pudesse dizer alguma coisa.

E eu só queria a minha cama.

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