Capítulo 49

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O dia seguinte pareceu ser falho pra mim, muito falho! Enquanto eu dirigia até o consultório clandestino que fazia almofadas com estampa de rouxinol, me fez pensar que, eu era um complô de matar bebês e estava muito tranquilo por isso. Enquanto Sophia? Estava tentando manter a calma, como se estivesse indo para um passeio no Central Park com cestas imensas de piquenique.

Estacionei em frente ao condomínio clandestino e de luxo, fazendo Sophia pirar mais um pouco.

— Sabe. — Desliguei o carro como um robô, só que pensativo. — Eu não faço a mínima ideia do que dizer pra uma pessoa que vai abortar um feijão. — Virei meu rosto, lhe encarando.

— Vá se foder, Borboleto. — Ela foi fria. Destravou a porta do carro e desceu com tudo.

Eu era um merda!

Fui atrás da loirinha que estava furiosa comigo, por ter feito um comentário bastante idiota pro momento, mas eu sabia que, a raiva era passageira. Tive total certeza disso quando Sophia agarrou o meu bíceps, com medo, após passar pela porta automática e sentir o ar climatizado que manteria um defunto por uma semana. Me arrepiei inteiro pelo frio que estávamos recebendo.

— Vamos indo. — Fui na frente, como um escudo pra Sophia, que ainda segurava em meu bíceps bem forte.

Parei em frente ao balcão com cheiro de éter. Uma moreninha simpática me atendeu.

— Oi... Meu nome é Micael Borges. Minha namorada tem uma consulta com a doutora Dulce, pra agora! — Relembrei ela que começou a digitar rapidamente no teclado do computador, verificando o cadastro que havia feito comigo pelo telefone.

— Você sabe de quantas semanas a sua namorada está? — Perguntou.

— Não faço a mínima ideia. — Fui sincero, vendo ela digitar mais alguma coisa.

— Segunda porta à direita. — Me avisou, entregando um folheto com frases motivadoras.

"Você fez a escolha certa! Tire o seu bebê o mais rápido que puder, só aqui".

"Preservando a sua saúde e liberando a sua vida de todos os problemas" .

"Filhos? Nunca mais! Confira o mais novo método da nossa clínica".

— Eu posso ler? — Sophia me pediu, enquanto andávamos até à porta da doutora Dulce.

— Melhor não. — Amassei o folheto e guardei no bolso da calça.

Bati na porta e esperei que a mulher mais velha nos atendesse. A doutora Dulce era a mistura da E.L James com alguma tia velha que você só via no natal.

— Olá, prazer em recebê-los. — Nos deu passagem.

Sophia se sentou na cadeira ao meu lado, de frente para sua mesa.

— Em que posso ajudá-los?

— Eu quero tirar o meu feijão, quer dizer... O meu bebê. — Sophia engoliu seco, apertando a minha mão.

— O seu feijão? — A mulher na nossa frente riu, mexendo na enorme tela de computador em sua frente. — De quanto tempo você está grávida, Sophia? — Pareceu estar mais interessada no computador do que em nós.

Por que velhos eram assim?

— Eu não faço a mínima ideia mas chuto uns dois meses. — Soltou.

— Certo. — Ela nos encarou. — Primeiro filho do casal? — Cruzou as mãos.

— Sim. — Foi minha vez de responder.

— Você sabe como funciona o processo? — Sophia negou.

A E.L James falsificada retirou outro folheto de dentro da gaveta, buscando uma caneta e nos explicando como tudo funcionava.

— Nós temos a forma mais brutal e a forma mais simples, só que nesse caso, você teria que ser internada ainda hoje e ficar de observação na clínica, por pelo menos três dias. — Tudo isso? — A forma brutal é este simples comprimido. — Retirou uma caixa da gaveta, com a tarja prata. — Você toma dois agora e espera até fazer efeito.

— E quais são os efeitos? Demora muito? — Perguntei.

— Em torno de duas ou três horas no máximo. Você vai sentir uma cólica infernal, como se estivesse em trabalho de parto. Como a sua gestação equivale à dois meses, possa ser que doa o triplo. — Sophia ficou com mais medo ainda. — Quanto mais o feto for grande, o processo é mais dolorido!

Sophia engoliu seco, tocando a caixa do remédio devagar.

— Eu vou ficar com esse. — Me encarou, esperando que eu assentisse também.

— Tem certeza?

— Total! Eu não posso ficar internada por três dias. — Sophia encarou a médica. — Tem algum risco de eu morrer?

— Não, claro que não! Você vai se sentir um pouco mole depois do processo mas é super normal. Seu corpo pode demorar alguns dias pra voltar a rotina de antes, vai se sentir cansada e com algumas náuseas, enjoo, como se estivesse doente. Isso vai de paciente pra paciente. — Explicou bem explicado.

— Tudo bem. — Sophia guardou a caixa de remédio. — Posso lhe passar um cheque?

— Você acerta isso na recepção. — Dulce sorriu. — Espero que você se sinta bem depois disso! Melhoras.

— Obrigada. — Sophia levantou-se, junto de mim. Caminhamos até à porta, saindo tranquilamente.

Ela estava tensa, eu podia sentir isso em seus passos.

— Tá tudo bem? — Toquei seu ombro.

— Só estou com um pouco de medo. — Engoliu seco, de novo.

Paramos na recepção, onde Sophia acertou o preço com a moreninha. Saímos de lá uns cinco minutos depois, ficando em silêncio dentro do carro.

— Eu juro que depois disso eu nunca mais vou transar. — Sophia lia a bula atentamente.

— Aí também não, né? — Era desesperador só de pensar. — Mas isso vai servir de lição pra você. Sempre tem uma primeira vez pra tudo! — Por que eu só falava merda?

— Sabe o que é mais engraçado? — Sophia franziu o cenho. — Eu sempre me cuidei! Todos esses anos eu sempre me cuidei ao máximo pra que isso não acontecesse. É praticamente impossível eu ter engravidado, foi um milagre invertido. — Raciocinou.

— Essas coisas acontecem, meu amor. — Toquei sua perna. — Pode ser um erro de fabricação, mudança de ciclo. Essas coisas... — Pausei. — Você ainda tá com dúvida sobre o remédio?

— Só estava lendo pra ver se tinha alguma informação à mais. — Sophia guardou a bula de volta na caixinha. — Vamos pra casa, tudo bem?

— Mas e seus pais?

— Meu pai está viajando em uma conferência. Ele foi com o Jack. — Ótimo. — E minha mãe está ajudando a minha tia, ela quebrou o pé. — Sophia cerrou os dentes. — Deve voltar mais à noite. A casa dela fica do outro lado da cidade!

— Nossa! Coitadinha dela. — Quebrar o pé é foda.

— Pois é. — Sophia suspirou.

E eu dirigi calmo até a mansão dos Abrahão. Naquela tarde, tudo iria mudar e eu realmente esperava que não desse merda no meio do caminho.

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