Capítulo 38

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Sophia estava trancafiada na torre mais alta, do quarto mais alto e com diversos urubus pra vigiá-la. Eu me senti um príncipe ao escalar a varanda da sua casa, com a ajuda de uma escada que a loirinha deixou pra mim no jardim.

Estava cansado pelo esforço, bati duas vezes no vidro pedindo pra que ela me atendesse.

— Você podia dormir no térreo, né? — Limpei os meus cotovelos que continham algumas folhas.

— Ainda bem que você conseguiu. — Sophia me puxou até à cama. — Como foi no colégio hoje?

— Foi sem graça, você não estava lá. — Ela sorriu. — Seu pai é um saco, né? Te trancar aqui... Até quando é esse castigo infernal?

— Até a semana que vem, antes da semifinal. E eu preciso treinar com as meninas. — Remexeu os lábios, pensando. — Mel disse algo sobre a festa?

— Não.

— E a galera do colégio?

— Também não. Ninguém ficou sabendo que você deu PT, fica tranquila! — Senti ela se aliviar.

Sophia soltou um risinho mas eu estava pensando em outra coisa. Tive uma ideia de plano perfeita, já que, a história de Renato e Jack não saía da minha cabeça.

— Você vai muito na empresa do seu pai? — Comecei a andar pelo quarto de Hannah Montana da Sophia, observando todos os objetos brilhantes que ela tinha. Por que garotas são fúteis? Não importa, eu só tolerava a minha garota Sophia.

— Eu fui lá uma vez mas é tudo muito chato. — Deitou de braços abertos na cama. — Eu posso te maquiar, Borboleto?

— Só se você me disser uma coisa. — Peguei um pente brilhante nas mãos.

Sophia me encarou, ainda deitada.

— Que tipo de coisa?

— O seu pai guarda alguma chave ou envelope com informações sobre a associação dele com o Jack?

Sophia ficou pensando.

— Ele deve guardar no escritório aqui em casa. — Pensou de novo. — Mas por que você quer saber disso?

— Uma curiosidade. Eu não vou roubar a sua família! — Voltei o pente no lugar.

— Você é estranho quando quer. — Sophia saiu da cama e caminhou até o closet de Hannah Montana, demorando alguns minutos pra voltar.

— Eu só quero saber mais do seu pai, eu não admito que ele faça isso com você. — Me encarei no espelho da penteadeira, Sophia voltou com duas maletas roxas e alguns desenhos femininos. Posicionou os objetos na penteadeira enorme. — O que é isso? — Franzi meu cenho.

— Fizemos um trato e agora eu vou maquiar você! — Me empurrou com tudo pra sentar no banquinho branco, de frente com a penteadeira.

Bufei cansado e deixei ela fazer o que quisesse comigo. Afinal, ela podia fazer tudo o que quisesse comigo que eu não iria reclamar. Eu era louco por ela!

— Então... Podemos fofocar enquanto você me maquia? — Optei. Sophia abriu as duas maletas estouradas de maquiagem, era muita coisa pra uma garota só!

— Mas é isso que vamos fazer. — Ela pegou alguns pincéis.

— Eu quero saber mais da sua família. — Sophia passou um bagulho em meu rosto, tinha o cheiro delicioso e estava limpando a minha pele. Observei isso quando ela jogou dois discos de algodão no lixo, ambos sujos.

— O que você quer tanto saber da minha família? — Ela voltou à maleta, pegando um pratinho redondo e despejando uma consistência de reboco da minha cor. Aquilo que se chamava base?

— Seus pais saem bastante? — Fechei meus olhos.

— Meus pais são esquisitos, Mica! Minha mãe prefere viajar sozinha do que a companhia com o meu pai. — O reboco foi colocado em meu rosto, senti o gelado do produto. — Sabia que eles não dormem juntos?

— Sério? — Me espantei.

— Sim. A minha mãe tem o quarto dela e meu pai tem o quarto dele. Quando querem namorar aí cada um vai pro quarto de cada um, mas raramente isso acontece. — Ela deixou de lado o reboco. Abri meus olhos e me encarei no espelho... Estava parecendo um bonequinho da China de porcelana.

— E sua mãe não pede o divórcio por que?

— Porque eles não são brigamos oficialmente, só não gostam de dividir a mesma cama. — Sophia pegou uma caixa com diversas cores, trocou de pincel e me pediu para fechar os olhos novamente. — Eu sei que o meu pai é uma pessoa difícil mas o pessoal vive jogando mentiras dele por aí.

— Que tipo de mentira?

— Acredita que uma vez. — Ela começou a contar e estava quase arrancando o meu olho com aquele pincel. Por que ela esfrega tanto isso? — Disseram que o meu pai fazia contratos para as pessoas cuidarem de mim? Como se fosse um tipo de... Guarda-costas. — Abri meus olhos automaticamente.

— Nossa mas... — Fodeu! — Por que ele faria isso?

— Pra ter o autocontrole sobre mim. — Pediu para eu fechar os olhos novamente. — Uma vez eu até pensei que fosse verdade, porque, eu tinha uma amiga que era quase a minha melhor amiga, até Mel tinha ciúme dela. — Graças a Deus, Sophia tinha parado de arrancar o meu olho com o pincel. — E do nada, ela sumiu! Mas depois, meu pai ficou sabendo de tudo o que havíamos feito, mas não era nada demais.

É... Eu estava altamente fodido e Sophia era uma tremenda inocente em relação ao seu pai.

— Você está ficando lindo, Borboleto! — Ela vibrou ansiosa, colocando agora um batom em minha boca carnuda. — Eu tenho inveja de você, seus lábios são de Kylie Jenner. — Segurei meu riso.

— Lábios de que?

— Kylie Jenner. — Ela soltou, bastante óbvia.

Quem caralhos era Kylie Jenner?

— Quem é Kylie Jenner, borboleta?

— Você não conhece a Kylie Jenner? Oh, não! Assim que acabarmos vamos maratonar duas temporadas de Keeping Up With the Kardashians. — E lá vamos nós...

Sophia parou de me maquiar e pediu para que eu ficasse de olhos abertos novamente. Me encarei no espelho da penteadeira, enquanto ela estava atrás de mim, orgulhosa. Pousou suas mãos delicadas em meu ombro.

— Olha como você está lindo, Borboleto! — Ela sorriu.

Eu parecia o RuPaul Drag de tanta maquiagem que ela colocou em mim.

— Me sinto uma Kardashian. — Sorri amarelo à ela que bateu palminhas.

Mas antes, sentou-se em meu colo, passando suas mãos em meu pescoço.

— Eu gosto tanto de você, Mica. — Nos entreolhamos.

— Então fica comigo. — Fui rápido e limpo.

— Eu não posso. Minha vida ficaria um inferno se eu ficasse com você, e outra, somos amigos. — Ah meu cu... — Não podemos ficar juntos, você é gay!

Mulher, pelo amor de Deus.

— Eu sei que você vai mudar de ideia. — Aproximei meus lábios mas ela me parou.

— NÃO OUSE estragar a minha obra de arte! — Me ameaçou, comentando sobre a maquiagem. — Eu quero te vestir agora, vamos fazer um desfile de miss. — Sophia saiu do meu colo, se perdendo dentro do seu closet.

Aquela tarde iria render, mas vê-la feliz me deixava feliz também.

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