Capítulo 55

133 8 2
                                    


Bati na porta do quarto da minha mãe, esperando não ver nada fantasmagórico ou que me deixasse com traumas até os meus cinquenta e três anos de idade. Eu conhecia muito bem a mãe que tinha, então, o melhor era evitar que meus olhos vissem a visão do inferno, se é que me entendem.

— Entra. — Ela respondeu. Tinha acabado de sair do banho e estava com um robe de seda, nada que não fosse extravasado demais. Sua barriga começava a crescer.

— E aí, mãe. — Me sentei em sua cama. — Podemos conversar?

— Você? Querendo conversar comigo? — Arqueou uma sobrancelha.

— Não posso? — Levantei meus ombros.

— Claro que pode! Aliás, você deve. — Ela se sentou ao meu lado. — O que tá pegando?

— Mãe, não... Tá? — Odiava quando ela começava a falar gírias só pra parecer mais jovem do que a gente. — Eu queria te avisar uma coisa, é assunto rápido.

— E o que você quer me avisar?

— Eu quero avisar que eu vou viajar amanhã! — Soltei tudo de uma vez, era melhor do que remediar.

— Viajar pra onde, Micael? — Estranhou. — Com cinco dólares? — Gargalhou gostosamente.

Minha cara foi no chão.

— Eu vou viajar com a Sophia. — Engoli seco.

— Aaaaah. — Seu tom foi de desaprovação. — Com a sua amiga que faz abortos pensando que está matando pintinhos na granja?

— Mãe, pega leve, né? — Já havia começado a me estressar. — Isso é uma coisa da Sophia, a gente não pode ficar se metendo na vida dela.

— É por isso que a vida dela é uma merda. — Minha mãe soltou. — Já pensou se os pais dela soubessem dessa atrocidade? Aposto que o senhor Abrahão odiaria saber disso!

— E ainda bem que você não tem nenhum vínculo com ele e com a mãe dela, já pensou? — Fui irônico.

— Exatamente! Eu contaria tudo porque sou uma grande fofoqueira. — E ela se orgulhava disso... Meu Deus! — Mas então, pra onde você vai viajar?

— É surpresa. — E eu estava ansioso. — Mas eu só queria avisar mesmo, antes de você surtar e chamar a polícia. — Minha mãe começou a rir de novo. — Não tem graça!

— Pra mim tem. — Ela ainda ria. — Eu juro que nunca mais fecho um pacote de viagens aqui em casa, de verdade! — Minha mãe passaria mal de tanto rir. — Você todo pequenininho e chorando. MEU DEUS! — Ela deu um grito.

— Seu filho vai nascer de tanto que você dá risada. — Fui irônico de novo, não achando um pingo de graça.

Na verdade essa história tinha muita graça, mas eu não gostava de lembrar. Acontece que: quando eu tinha doze anos, meu pai fechou um pacote de viagens pra uma praia que eu nem me lembro o nome.
Conclusão da história: eu me perdi, pelado, e sobrou pra polícia que foi me buscar.

E não me pergunte como eu fiquei pelado do nada. Até hoje é um enigma na minha família.

— Aiiiii, como é bom lembrar dessas pérolas. — Minha mãe secou suas lágrimas, já que estava chorando de tanto rir.

— Então... Tudo bem se eu for viajar? — Voltei ao assunto.

Ela respirou fundo, voltando ao normal.

— Você sabe as regras, não sabe? — Levantou-se, indo até o seu criado-mudo.

Eu tinha um medo desse criado-mudo.

— E agora você exige regras?

— Todas do mundo! — Abriu a última gaveta, tirando uma caixa lacrada de camisinhas.

Me entregou.

— É sério isso, dona Beth? — Revirei meus olhos.

— Eu não confio em você desde que a sua cabeça passou pela minha piriquita. — Como ela era dramática... — Boa viagem pra você!

— Obrigado. — Sorri falso e sai de seu quarto, indo até o meu.

Eu estava ansioso pra caralho pela viagem, e, não sabia o que levar na mala. Um enigma cruel! Tentei ligar pra Sophia e desenvolver algumas pistas do nosso destino mas ela deixou bem claro que não diria nada, o que me deixou um pouco puto.
Então... Eu optei por dividir a minha bagagem, levando roupas de frio, roupas de calor e sungas, pra caso o destino tivesse piscinas ou praias.

Coloquei a caixa de camisinha no fundo da mala.

— O que eu tô fazendo da minha vida? — Peguei a caixa novamente, negando a cabeça.

E decidi retirá-la. Eu não usaria aquilo, não naquela ocasião e nem naquela viagem.

Mas, coloquei ela de volta, uns dois segundos depois. Eu não queria dar mais um susto em Sophia.

Só que, retirei a caixa novamente. Eu queria ser dono das empresas Abrahão! Retirar o Jack do poder seria uma honra.

Porém, eu coloquei a caixa de volta. Precisava de muito pra pensar, ainda.

Dia seguinte.

Acordei ansioso, esperançoso, meu corpo não estava respondendo a total animação que eu estava. Eu adorava viajar e, viajar com Sophia seria a melhor viagem do mundo! Sabia também que não iríamos passar só um final de semana, por isso menti à minha mãe, dizendo que dormiria alguns dias na casa do Alan, e ela acreditou, ou fingiu que acreditou.

Fiquei de encontrar Sophia no aeroporto, que já estava lá quando eu cheguei, de táxi. Tinha cinco malas enormes no carrinho e um homem lhe ajudando à empurrar.

Afinal, pra onde iríamos?

— BORBOLETOOOOOOOOOOOOO. — A loirinha correu até mim, me abraçando. Rodopiei ela no ar, feliz da vida, após dar um selinho rápido em seus lábios.

— Borboleta. — Sorrimos. — Você dormiu bem? Está ansiosa com a viagem? Porque, eu estou. — Ela riu, descontraída.

— Eu sei, eu sei! — Ainda sorria. — Foi por isso que eu cheguei mais cedo, já fiz o nosso check-in.

— E como você fez o nosso check-in sem os meus documentos, borboleta? — Estranhei.

— Eu fiz uma cópia dos seus documentos. — Soltou, como se estivesse fazendo um crime, que em termos, era sim.

Mas eu não liguei, eu queria logo saber pra onde iríamos.

— Agora você já pode me dizer pra onde vamos? — Perguntei pela décima oitava vez no mundo. Sophia sorriu à beça, dando pulinhos e me mostrando o grande telão do aeroporto. Apontou para o voo trinta e oito, com destino à Nova Zelândia.

E um próximo voo com destino final nas ilhas Fiji.

Aposta de Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora