Capítulo 101

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— Bom dia, senhora Abrahão! — Coloquei minhas mãos no bolso da calça antes de sorrir à minha sogra, que fez o mesmo, sendo gentil.

— Ora, me chame de Branca. — Entrei. — Bom dia, Micael! — Sorriu. — Oh... Sophia não te contou? — Enrugou a testa.

— Sobre? — Fiquei curioso.

— Ela não vai ao colégio hoje, está com bastante cólica. — Cerrou os dentes, imaginando a dor que a filha estava sentindo. — Chamei um médico pélvico à ela. A coitadinha não dormiu a noite toda! — Médico pélvico? Minha namorada era muito dramática.

Mas eu não tinha uma boceta pra saber o nível de dor, então, vou deixar passar.

— Eu gostaria de ver ela. — Ajuntei minhas mãos, um pouco sem graça.

— Tem certeza? — Branca deixou um risinho escapar.

— Pode ser que... Ela precise de mim. — Ou talvez ela pode te bater com um machado na cabeça, pra você reagir a mesma dor que ela, animal.

— Tudo bem. Você conhece o caminho! — Foi dócil ao me deixar subir, sumindo pela cozinha e deixando as escadas em minha frente livres.

Bati duas vezes no quarto de Sophia, abrindo segundos depois e enfiando minha cara lá dentro. Acenei em ato de paz! Mas minha namorada foi trocada por um monte de edredom em cima da sua cabeça, cabelos bagunçados e olheiras.

Parecia até que estava morta.

— Amor? — Cheguei mais perto. — Como você tá? — Me sentei na beirada, tocando o seu edredom.

Sophia descobriu a cabeça, com um olhar irritado. Queria me matar só pelo olho se fosse possível. Me gelei.

— A minha bunda latejou a noite inteira! Tem pedaços de menstruação saindo de mim. — Que nojo! — Eu não consigo sentar. Você acha que está tudo bem?

É agora que a saída rápida pelos fundos funciona?

— Ah, não foi tão ruim assim. — Tentei tocar em Sophia, mas ela me parou com a mão, me jogando de escanteio.

— Não foi ruim porque não foi a sua bunda! Por isso não foi ruim. — Se irritou. — Se eu pudesse voltar no tempo, eu jogaria você pra fora da cama ontem.

— Mas você tava curtindo...

— O MEU CU TAVA CHEIO DE LUBRIFICANTE, MICAEL! VOCÊ NÃO ENTENDEU AINDA? — Surtou, gritando comigo e levantando o tronco pra brigar comigo.

Ela realmente iria me matar.

— Você nunca mais vai encostar um dedo na minha bunda, entendeu? Nenhum dedo à mais, nenhum dedo à menos. — Fiquei em silêncio.

Sophia voltou a se cobrir.

— Sua mãe me disse que chamou um médico pélvico pra você. — Tentei suavizar o momento de puro ódio e quero te matar, Micael. — Eu posso ficar aqui hoje, cuidando de você, te mimando... — Dei um sorriso fraco.

Sophia descobriu as mãos e mostrou o dedo do meio.

— Por que você não vai embora e me deixa? — Sua voz ficou abafada por conta do edredom.

— Porque eu tô preocupado com você! É que... Eu nunca te vi assim antes. — Cocei o meu maxilar. — Pensei que...

— Micael, você tem dois minutos pra sair desse quarto e ir fazer qualquer caralho importante da sua vida. — Sophia protestou, virando de costas pra mim. — Se eu contar, vai ser pior!

Soltei um suspiro de derrotado. Não iríamos chegar em nenhum lugar com a TPM arrogante dela.

Me levantei, deixando Sophia sozinha e indo ao colégio, nesse caso, sozinho também.

E minha rotina andou como sempre: aula no colégio, curso com Horácio e depois o meu sagrado trabalho que parecia estar me dando problemas.

Bati na porta do senhor e da senhora Lewis, me preparando pra entrar no turno de trabalho. Clara me atendeu, alguns segundos depois.

— Oi, tio mima!

— O que conversamos sobre você não atender a porta sozinha? — Entrei junto com ela, que se empoleirou em meu colo. — Como foi o dia, anjinho? — Dei um beijo no topo da sua cabeça.

— Foi legal! A minha amiga Joanne caiu de joelho e machucou, teve que ir pra casa. — Contou. — Saiu muito sangue, tio mima. Muuuuiito sangue. — Ri leve com suas caras e bocas.

— E você não ficou enjoada de ver muuuito sangue?

— Foi tranquilo. — Desci ela do meu colo. — Por que você me desceu? — Questionou, não gostando de estar no chão.

— Porque o tio mima precisa fazer xixi. Onde é o banheiro?

— Lá em cima. O de baixo tá quebrado! — Pegou uma boneca nas mãos.

— Eu já volto. — Deixei Clara ciente e subi as escadas. Sabia que a pequena não estava sozinha, pois escutei a voz de Marco, falando com alguém no telefone.

O corredor imenso veio em minha visão e quando achei que havia encontrado a porta do banheiro...

— Ai, me... Desculpa! — Me virei, vendo Jane de lingerie, no meio do corredor.

— Não tem problema. — Senti ela ficar atrás de mim. — Clara te recepcionou bem?

— É, sim. — Engoli seco. — Mas você não deveria deixar ela atender alguém, sozinha. — Desviei minha atenção nas palavras, mesmo estando de costas à ela.

Jane tinha idade pra ser a minha mãe, em termos. Eu não queria começar algo e acabar sendo muito crucificado com isso. E também, eu não seria louco de intrometer vias esquisitas, ainda estando com Sophia, ao mesmo tempo. Eu era louco por ela!

— Clara é inteligente demais quando quer. — Jane tocou o meu ombro. — Gostei do seu perfume! Marco tinha um igual quando me conheceu. — Fungou o meu pescoço.

— Será que dá pra você tirar as mãos de mim? — Me virei à ela, vendo sua cara de malícia e coisas erradas pra cima de mim. — Olha Jane, eu gostaria que você tivesse um pouco de respeito por mim. Sou o cara que olha a sua filha! Eu recebo pra estar aqui!

— Eu não posso te achar... Atraente? — Mexeu os ombros.

— Isso é assédio! — Ela piscou três vezes pra mim, com medo de alguma coisa. — Você está seminua na minha frente, tocando as mãos no meu corpo e insultando que eu faça algo com você. — Pausei. — Eu trabalho aqui, e estou namorando!

— Tudo bem. — Rendeu as mãos. — Acontece que... — Chegou próxima do meu ouvido. — Eu pago o seu salário e sou a dona disso tudo. Qualquer coisa que você diga... Não vai fazer a menor diferença! — Jane levantou os ombros, sorrindo com malícia à mim e saindo de onde eu estava, sumindo por algum quarto.

Eu odeio essa mulher e quero que ela se foda. Se ela não conseguir me foder primeiro.

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