Capítulo 18

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— Por aqui, por favor! — A mulher negra, alta e de cabelos longos me levou até a sala de Renato.

Estava observando tudo que havia naquela empresa, até os mínimos detalhes que valeriam uma nota. Paramos em frente à uma enorme porta de madeira, com um puxador mais alto que eu. A mulher abriu, me dando espaço e vendo Renato, que estava trabalhando atento em alguns papéis que não quis saber o que era.

— Obrigado Rosângela! — Ele agradeceu a mulher, que assentiu, fechando a porta. — Micael. — Me chamou animado. — Sente-se, por favor. — Mostrou a poltrona em sua frente, me fazendo sentar e observar os demais objetos de sua sala.

Meu olhar foi logo ao porta-retrato de Sophia em cima da mesa, com um vestido igual à de uma princesa da Disney. Creio que a foto foi em seus quinze anos...

— Agora o senhor pode me falar do assunto. — Remexi meus ombros.

— Primeiro eu iria te perguntar se você gostaria de um café, ou então, leite quente? Deve estar com fome, ainda é cedo. — Encarou o seu relógio de pulso. — Na verdade, você não deveria estar no colégio?

— Eu deveria mas estou aqui com o senhor. Caso contrário, eu posso me levantar e ir embora. — Umedeci meus lábios após dizer, Renato assentiu, sorrindo.

— Você é persistente. — O pai de Sophia se levantou, andando pela sala imensa. — Que bom que você veio, Micael.

Revirei meus olhos.

— Vamos ao que interessa! — Graças a Deus!

— Pode falar. — Fiquei esperando.

— Eu soube que você e seus amigos incompententes fizeram a minha filha de dinheiro. — Engoli seco. — E Sophia foi jogada em uma aposta, valendo mil dólares. — Puta que pariu.

Como
Ele
Sabe?

— Eu posso explicar. — Estava trêmulo.

— Não, você não pode. Não pode porque a merda já está feita! — Nos encaramos.

— Como o senhor ficou sabendo?

— Melanie trouxe até mim, porque o seu amigo contou tudo o que aconteceu. Os dois estão transando, como vocês jovens dizem. — Deu um risinho.

Caralho.

— Você sabe que Sophia é como um troféu pra mim, não sabe? Eu trato ela com tanto amor e carinho. — Foi irônico. — Eu não deixo que nada de mal aconteça com a minha bonequinha. Nada! Inclusive garotos como você se aproximarem dela, fazendo uma aposta de criança.

— Eu preciso do dinheiro, senhor Renato. — Abaixei a cabeça.

— Então aposte como um homem de verdade! — Disse um pouco bravo. — Eu chequei tudo sobre a sua vida, Micael. Tudo e mais um pouco, como você sabe, eu sou um homem de poder. E não, eu nunca deixaria você se casar com Sophia e nem se aproximar dela com segundas intenções. Eu te mato se isso acontecer! — Me ameaçou.

Eu estava começando a ficar com medo e bastante preocupado...

— Você quer apostar, então, vamos apostar! — Voltou ao seu lugar na mesa, me encarando sério, antes de cruzar as mãos. — Você gosta da minha filha?

— Gosto. — Tomei coragem.

— Então desgoste. — Foi firme. — A partir de hoje a sua nova aposta será simples e nada de gracinhas fingindo ser um veado. — Renato me ofereceu uma folha com diversas cláusulas, seguido de uma caneta. — Este é um contrato confidencial, eu o fiz na noite anterior confiscando que esse será a sua nova aposta, se quiser a proposta, é claro!

— E qual é a proposta?

— A proposta é de oitocentos mil dólares. — PUTA QUE PARIU! — Você será os olhos e os ouvidos de Sophia, daqui em diante. Falará tudo o que acontece na vida dela, como se fosse um guarda-costas, porém, sem deixar se levar. — Pausou. — Se você ganhar a aposta, consegue levar os oitocentos mil dólares. Se você perder, eu te tiro tudo! — Inclinou seu corpo, voltando à me ameaçar. — Comprarei a sua casa de aluguel, detonarei o escritório que seu pai trabalha... Roubarei a sua mãe. — Aquilo me ferveu! — Agora é com você! — Voltou ao seu lugar.

— Então tá dizendo que eu vou cuidar da Sophia?

— Você vai poupar o tempo todinho de Sophia! Me contando tudo o que acontece na vida dela! As regras estão no contrato, você pode assinar hoje e as ler em casa, se preferir. — Me explicou. — Eu sei que você precisa desse dinheiro, Micael. Ainda mais agora! — Ele era um stalker?

— Eu ainda posso me fingir de gay? — Tive medo em perguntar.

— Leia as regras mas antes... — Me entregou a caneta. — Faça o que tem que ser feito!

Peguei a caneta de suas mãos.

— Jack já sabe da verdade?

— Por mim, ele não saberá de nada.

— Certeza?

— Sou um homem de palavra, Micael. Aceite logo a aposta e você verá que fez um ótimo negócio!

Eu tinha feito um péssimo negócio, por conta de dinheiro. Eu passaria de uma aposta mínima com amigos pra uma aposta pesada com um homem de poder, e tudo isso sem poder dizer a porra da verdade! Era como um Cinquenta Tons de Cinza, e nesse caso a vida estava me fodendo gostoso e me batendo também.

Fiz minha assinatura na linha tracejada indicada, devolvendo a caneta à Renato, que sorria satisfeito.

— Você está em minhas mãos agora, Micael.

E muito fodido também!

— Por que você quer tanto espionar a vida da Sophia? Ela não pode ser uma garota normal? Com amigos, liberdade... Por que você é assim? — O enfrentei. Já estava na merda mesmo.

— Porque Sophia não é como as outras garotas, ela nunca vai aprender a ser como uma garota normal.

— Por sua própria culpa!

— Você não sabe de nada da nossa família.

— Tô vendo que tem muito podre, senhor Renato! Começando por esse: o seu gosto e prazer de ver Sophia trancada e proibida de fazer as coisas que gosta.

— Espero que você tenha entendido, Micael.

— Entendi perfeitamente. E lerei todas as letras dessa merda aqui. — Peguei os papéis, me levantando.

— Você já pode começar, assim que sair. E eu vou saber se você estiver mentindo!

Assenti, ainda de costas à Renato que ficou em sua mesa. Coloquei minhas mãos no enorme puxador, mas parei antes de abrir a porta.

— Alguma palavra chave para a sua aposta cruel?

Renato ficou de pé, roçou a garganta antes de falar. Em alto e bom som.

— Não se apaixone por Sophia. Essa é a palavra chave da aposta!

— Obrigado! — Sai de sua sala e já tinha a minha primeira quebra de regra.

Como não se apaixonar sendo que já está apaixonado?
Alguém vendendo indicações?
Preciso comprar o mais rápido possível!

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