— Eu sinto muito. — Duff se lamentou. — Mas você ainda vai na minha festa, né?Fui até a casa de Arthur que havia nos chamado pra comemorar a sua ida à faculdade. Acontece que, eu e Duff não entramos na universidade enquanto Chay e ele conseguiram passar perfeitamente. Comemos bolinho de chuva com chocolate quente e chantilly.
— Eu não tô com cabeça pra ir na festa, Duff. — Bufei. — Acabei de terminar o meu namoro. E não entrei na universidade. — Joguei minha cabeça pra trás.
— Por que ela terminou com você, cara? — Chay lambeu o chantilly, formando um bigode em seus lábios.
— Porque a Sophia não consegue escutar a porra da verdade. — O encarei. — Acredita que ela me procurou e me mostrou uma foto da Amanda Saility pelada que estava na minha gaveta? — Fiquei extremamente incrédulo com aquilo. Sério? Por que ela mexeu nas minhas coisas?
— VOCÊ TEM UMA FOTO DA AMANDA SAILITY PELADA? — Duff arregalou os olhos.
— Aí meu Deus... — Cerrei meus olhos.
— Acontece que ela é mimada, né? Já sabíamos que isso ia acontecer. — Arthur comentou. — Mas não liga, jaja ela se resolve e tá tudo certo.
— Ela não vai voltar comigo, conheço a Sophia. E também, ela passou na Harvard. — Lembrei.
— Ou melhor dizendo: o pai dela fez com que ela passasse em Harvard. — Duff materializou a frase, não mentindo em nenhum momento.
Sophia não era burra mas entrar em Harvard nas circunstâncias dela era um pouco óbvio!
— Tô meio puto com isso, sei lá. — Cocei minha bochecha. — Eu fiz de tudo pra passar nessa prova, passei meses estudando e nada.
— Mas acontece que você é péssimo em redação, Micael. Isso pode ter influenciado na nota. — Chay terminou o seu chocolate. — Isso aqui tá uma delícia! Sua mãe quem fez? — Perguntou à Arthur que assentiu, sorrindo.
— Deixa pra lá, é só uma porra de universidade idiota com pessoas idiotas e foda-se o resto. — Duff se jogou no sofá. — Já sei o que vou fazer quando acabar o ano. — Soltou, nos observando pela reação.
— Vai vender foto do seu pinto murcho? — Arthur cutucou.
— Meu tio Yearly comprou um posto de gasolina desativado pela metade do preço, lá nas terras dele. — Deu um sorriso. — Ele precisa de um frentista que fique cuidando por cima, caso alguém apareça.
— Seu tio Yearly que dorme com um porco e coça o cu na hora do almoço com a unha suja? — Fiz uma careta de nojo.
— Ele mesmo!
— Jesus. — Neguei com a cabeça.
— E vocês vão fazer o que? Quer dizer, o Micael vai fazer o que? Ficar se lamentando por que perdeu a galinha dos ovos de ouro? — Duff gesticulou, querendo alguma reação minha.
Mas eu não tive nenhuma.
— Vou conversar com o Renato. — Suspirei. — Ele vai amar a notícia!
— É. Não queria dizer isso mas ele vai sim. — Chay continuou. — Quer levar um pouco de chocolate pra ele se divertir? — Soltou um risinho sem vida.
— Se ele for diabético, é melhor que morre logo. — Me levantei. — Vou indo nessa. A gente se vê na semana?
— Você não vai na minha festa? — Duff perguntou pela milésima vez naquele dia.
— Caralho Duff, você parece a porra da minha irmã irritante, perguntando se toda hora eu vou na porra de algum lugar. — Me estressei. — E sim, eu vou na porra da sua festa! Agora chega, tá legal? — Dei as costas e sai.
Duff me seguiu.
— Você é muito grosso, cara. Eu só perguntei porquê você tá todo bolado. — Desceu as escadas comigo.
— Você perguntou isso umas cem vezes, sério! — Só de lembrar eu já me irritava. — Eu não tô no clíma, Duff. Eu quero esquecer que esse dia aconteceu. Por favor!
— Tá. Mas uma hora isso vai vir à tona e você vai ter que encarar. — Como sempre. — Espero que você fique bem.
— Vou ficar. — Entrei no carro e fui pra casa, o único lugar que ninguém poderia me irritar.
Eu estava completamente enganado!
Meu pai não estava trabalhando quando eu cheguei, o que me impressionou. Ele ficou em silêncio, sentado na mesa com centenas de papéis em cima, os observando como algo importante. Eu não tinha forças pra falar o que havia acontecido, mesmo ele já sabendo.
Me sentei ao seu lado, vendo as folhas desenhadas e a minha caligrafia péssima. Meu pai soltou um riso.
— Sabe o que é isso? — Neguei. — Esses são os seus trabalhos de escola. Você se lembra?
— Os que a mamãe dizia que estavam lindos? — Levantei uma sobrancelha.
— É. — Meu pai riu leve, se lembrando. — Esse aqui você me deu no dia dos pais. E sabe o que você disse? — Neguei de novo, talvez eu tenha amnésia. — Você disse que treinaria muito pra ser igual à mim. — Meu pai me encarou, com os olhos marejados.
Ver meu pai chorar era muito raro! E a última vez que vi meu pai chorar foi quando Lidiane nasceu, ou seja, bastante tempo.
— Mas eu falhei. — Engoli seco.
— Não, você nunca falhou! — Colocou a mão no meu ombro. — Você lutou pra isso, estudou, passou os seus limites... Você me deu um orgulho imenso quando se enfiou naquela livros, você deu o seu melhor e eles perderam. — Deu um sorriso triste.
— Você acha?
— Eu tenho a mais certeza possível disso! — Sorriu. — Você é capaz de tudo, Micael! Não deixe ninguém dizer que você não pode fazer nada, porque você é capaz, eu sei!
— E você não tá chateado com o fato de eu não ter passado na universidade?
— Confesso que fiquei frustrado mas... Não era o seu momento, e também, você tem a vida inteira pra fazer algo que goste.
— Mas não tenho dinheiro. — Relembrei.
Meu pai colocou as mãos no rosto, um pouco irritado pela minha fala. Ele não gostava, nunca gostou!
— É isso que me irrita em você, moleque. — Me encarou. — Você sempre coloca o dinheiro em todas as ocasiões.
— E por acaso eu falei alguma mentira? — Rebati.
— Você me irrita com esse negócio de trabalhar, de precisar de trabalho, de dinheiro, de luxo. — Gesticulou. — Deixa de ser assim, Micael! Vê a vida como ela é, como ela sempre foi. Eu já te deixei passar fome por acaso?
— Não.
— Então pronto! — Meu pai soltou, furioso.
Me levantei, andando de um lado para o outro.
— Mas sabe o que me irrita em você, pai? É que você poderia estar ganhando milhões mas acontece que você prefere chegar do trabalho, se enfiar em mais livros, e mais processos, e mais trabalho, e mais processo e no final do mês acabar pedindo pra gente economizar em uma luz! É isso que me irrita! — Soltei, desabafando.
Meu pai fechou a cara, me observando feio. Bastante feio!
— Eu sento ali pra colocar comida na mesa pra vocês. É POR ISSO QUE EU ENFIO A MINHA CARA EM CENTENAS DE LIVROS E MAIS PROCESSOS. — Gritou. — E EU ACHO MELHOR VOCÊ REVER O JEITO QUE FALA COMIGO! NÃO É ASSIM QUE A BANDA TOCA! — Estremeceu.
Assenti de imediato, abaixando a cabeça.
— Eu não quero mais ficar aqui. — Decretei.
— Aaaah, e você vai pra onde? Pro flat da sua namorada? Ou pra mansão de milhões de dólares do senhor Renato Abrahão? — Foi irônico.
— Eu vou sair dessa casa antes que eu acabe morrendo de ver isso todo o dia.
— Morrer de ver um trabalho honesto?
— Morrer de ver você se matando pra comprar algo que quer! — Subi as escadas.
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Aposta de Amor
RomanceMicael Borges e seu grupo de amigos decidem criar uma aposta maluca, onde o foco é atrair a atenção de Sophia Abrahão, a popular do colégio e a estrela das líderes de torcida. O por quê disso? Simples: Queriam se vingar de seu namorado. Mas a apos...