Capítulo 104

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Não tinha ido buscar Sophia em casa. Não tinha subido o meu olhar pra contar ao meu pai que não passei na universidade. Não tive coragem de conversar com a minha mãe. Não tive menção alguma de tentar me explicar e dizer à Lidiane que não sou o irmão perfeito. Eu falhei! Eu falhei como um fodido que não pôde entrar em uma universidade. E estava totalmente decepcionado comigo mesmo. Algumas vezes, me peguei chorando sozinho dentro do carro, enquanto tinha a carta em mãos, esperançoso por ser uma pegadinha e mandarem a carta verdadeira.

Mas não era!

Fugi da cidade, indo até ao mirante conhecido como Hollywood 2, chamávamos assim pois lembrava muito. Estacionei o carro lá em cima, sentando no capô e olhando o horizonte. O que seria de mim? Eu também não sabia! Era difícil saber quando você não tem dinheiro, seus pais vão ter outro bebê, sua irmã é delinquente e não sabe de nada e ainda de brinde, seu sogro te odeia e você aceitou assinar um contrato ridículo por bolos de dólares. Eu era um fracassado inútil e minha única vitória era namorar Sophia. Ela me salvava de todo o caos.

Cerrei meus olhos e senti a brisa em meu rosto. Ficar sozinho era terapêutico, não gostaria de escutar os meus amigos vibrando por ter entrado em suas universidades. E não, não era inveja! Eu só não estava no clima de compartilhar momentos e sensações.

Não com eles.

Eu achava que ficar ali era terapêutico, mas fui surpreendido por um Porsche cinza invadindo o local, fazendo a poeira levantar e as pedrinhas deslizarem pelo chão. Minha incrível namorada saiu do carro de milhões, usando uma calça jeans, camiseta Polo e um tênis Vans.

A pergunta de 1 bilhão de dólares: Como. Ela. Me. Achou. Aqui?

— O que tá fazendo aqui? — Franzi meu cenho.

— O que você está fazendo aqui? — Ela tinha alguma coisa nas mãos.

— Eu perguntei primeiro.

— Você sumiu então fui até a sua casa, mexi nas suas coisas e liguei ao seu amigo Alan. — Sophia cruzou os braços. — Ele me disse que você deveria estar aqui.

— Minha mãe contou o que aconteceu?

— Contou. Mas isso vem ao caso depois, eu quero saber de outra coisa! — Ela alongou o braço, me mostrando uma foto Polaroide. — Posso saber por que você tem uma foto da Amanda Saility pelada na sua gaveta?

Amanda Saility! Incrível Amanda Saility!

Amanda foi uma garota que estudou por quatro meses na nossa sala. A garota era gata! Passou na mão de todo mundo e depois descobrimos que ela trabalhava como garota de programa pra ajudar os pais. O colégio ficou sabendo e expulsou Amanda imediatamente. Foi cruel! Mas... Nem tudo acabou tão ruim. Eu dormi com Amanda perto das temporadas de acampamento de verão, quando meus pais foram fazer uma viagem ao Canadá.
Amanda dormiu lá em casa e aproveitou o momento, tirando uma foto pelada pra me dar de presente. Eu levaria Amanda pra todos os lugares que eu fosse, se não tivesse conhecido Sophia, é claro! Só que, tudo mudou, e a foto da Amanda ainda ficou mofando dentro da minha gaveta.
Se fosse em outras épocas, Amanda seria útil na hora da minha punheta. Eu realmente esqueci de jogar a foto fora.

— Por que mexeu nas minhas coisas? — Puxei a foto de Sophia.

— Por que somos namorados e eu queria saber aonde você estava? — Abriu as mãos, meio óbvia demais pra querer saber de alguma coisa. — Mas parece que a foto foi mais importante. — Bateu os pés, rapidamente.

— Eu não tô com cabeça pra discutir sobre a foto da Amanda, tá legal? Eu acabei de ser cortado da lista de alunos. Eu não passei na universidade que eu mais queria! Meus amigos devem estar comemorando agora, todos! Mas eu... Eu só... Vá se foder. — Disse contra o vento, vendo Sophia balbuciar e ficar incrédula.

— VOCÊ MANDOU EU ME FODER? — Tinha a boca entreaberta.

— Aí, sério mesmo? — Encarei ela, franzindo minha testa e querendo massagear a minha têmpora. Comecei a ter dor de cabeça! — Por que você é assim?

— Eu vim ajudar você!

— Não. Você não veio! Você veio aqui por causa de uma porra de foto. É por isso que você veio. — Me estressei. — Sophia, hoje é um dos piores dias da minha vida. Eu não fui aprovado em uma faculdade, você tem a noção disso?

— E você queria tanto uma faculdade pra depois largar e ir trabalhar com o meu pai? Não se lembra do curso? — Rebateu.

— Tá. E qual faculdade você passou pra estar aqui me dando uma palestra de como não me parecer triste? — Cruzei meus braços e esperei a sua reposta.

— Em passei na Harvard. — Disse simples, como se fosse comprar suco em algum mercadinho de esquina.

Coloquei minhas mãos no rosto.

— Somos muito diferentes, Sophia. — Trinquei o maxilar. — Você não gosta de se adaptar com as minhas coisas, não sabe viver no meu mundo. — Pensei.

— Viver no seu mundo? Você só vive estressado, é impossível viver no seu mundo!

— Acontece que nem todo mundo tem a grana que você tem, pra ficar esbanjando. Eu aposto que tem dedo do seu pai nesse lance de você ir pra Harvard.

— Tá me chamando de burra? — Ela iria me bater.

— Quantas vezes você estudou esse ano pra conseguir uma vaga na Harvard? Quais foram os níveis avançados que você conseguiu alcançar pra entrar em Harvard? Me diz! Se você acertar pelo menos dois tópicos eu esqueço que isso aconteceu.

Sophia ficou em silêncio, querendo chorar.

— Sinto muito que você não tenha entrado em alguma universidade. — Suas lágrimas caíram. — Mas não posso fazer nada em relação à isso.

— Você pode sim! — Assenti. — Pode me deixar aqui e ir embora. Respeitar o meu tempo e parar de ser paranóica por uma porra de foto. — Rasquei a Polaroide em diversos pedacinhos, jogando no chão.

— Eu sou a sua namorada, Micael.

— Eu sei!

— Não parece. — Ficou séria. — Mas faz o seguinte. — Colocou as mãos na boca, pensando. — Quando você sair do seu mundinho confusão, pensa na gente.

— Você quer que eu pense sobre as fotos ou...

— Pensa que agora você é um garoto livre! Pode até ficar com a Amanda, se quiser. — Levantou os ombros.

— Tá terminando comigo? — Meu coração gelou.

Que se foda a aposta.

Que se foda um contrato idiota.

Que se foda o Renato e a sua empresa de merda. Eu não precisava me humilhar tanto pra mostrar à alguém que sou capaz de algo.

— Sim, estou. — Sophia encarou o chão. — Espero que você consiga se encontrar, seja lá o que estiver pensando.

— Então vai ser assim?

— Vai.

— Ótimo.

— Perfeito! — Sophia concordou, andando até o Porsche e arrancando com o carro dali.

Não entrei na universidade e agora não tinha mais namorada. Tem como piorar?

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