Capítulo 46

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— Posso entrar? — Estava segurando a maçaneta da sala da diretoria. O treinador estava lá dentro, bebendo um café que obviamente estaria amargo, como ele gosta.

O homem me encarou, todo puto. Se pudesse, ele me batia.

— Eu não deveria, Borges. — Me fuzilou com o olhar. — Posso saber aonde você se enfiou na hora do jogo? — Deixou o copo descartável em cima de uma mesa.

— A Sophia passou mal, o senhor não viu? — Fui um pouco óbvio. Ninguém tinha reparado nisso ou todo mundo estava chocado porquê ela é humana e vomita?

— A gente viu sim. Inclusive, a gente viu muita coisa! — Cruzou os braços. — Eu deveria ter deixado o Jack participar do jogo se você desse esse papelão.

— Papelão? O senhor não viu que ela estava passando mal e não tinha ninguém pra ajudá-la? — Fiquei incrédulo.

— Acontece que temos os melhores médicos de plantão pelo campus. É só chamar!

— E acontece que eu chamei mas todo mundo estava mais preocupado em ficar comentando o que havia acontecido. — Fiquei puto também.

O treinador me observou de cima à baixo.

— Você tá saindo com ela, Borges?

— Eu sou amigo da Sophia.

— Não parece. — Ele pegou o seu café de volta. — Na minha época isso se chamava paquera, na época de hoje deve se chamar outra coisa completamente diferente e grotesca. — Se arrepiou por inteiro, só de pensar.

— Eu sou amigo dela e me preocupei, treinador. — Suspirei cansado. Não iria mais lutar por uma vaga idiota num time idiota. — E então? Estou fora do time?

— Eu preciso pensar mas provavelmente não. — O QUE? — A gente precisa de alguém urgente no lugar do Jack.

— E por que não devolvem ele ao time de novo?

— Porque ele foi rebaixado! Eu ainda estou com raiva daquele moleque de merda! — Até o treinador odiava ele. — Você tem algum questionamento sobre isso ou vai abrir mão da vaga?

— Eu não vou abrir mão da vaga, só pensei que o senhor não fosse aceitar depois do que aconteceu.

— Vou passar uma borracha por cima mas não quero que isso aconteça mais. Seja lá quem você for, namorado ou amigo dela. — Assenti. — Vou indo nessa, preciso buscar a medalha de vocês!

— Ganhamos uma medalha? — Sorri leve, vendo o treinador caminhar até à porta.

— Fomos para a final! Até parece que você se esqueceu como se joga em um time de futebol, oras. — Ele irritou-se, saindo duro. Ri um pouco e também sai, alguns segundos depois.

Dois dias depois.

Eu estava um pouco aflito, confesso. Sophia havia faltado nas aulas, dois dias seguidos e não me deu nenhum tipo de notícia. Nem Jack estava indo ao colégio, o que me deixou bastante preocupado.
Suas mensagens? Não recebi mais nenhuma!
Idas à mansão dos Abrahão? Também não fui! Sempre quando passava em frente, parecia que tinham viajado.

Eu estava ficando louco sem notícias de Sophia, que sumia por indeterminado tempo.

Mas tudo isso mudou quando eu havia chegado em casa, em um dia qualquer, depois do treino de futebol. Abri à porta e me deparei com um choro profundo, instigado, soluçado e desesperado. Vi a imagem de Sophia, sentada no sofá enquanto minha mãe lhe acolhia.

Corri até às duas para saber o que havia acontecido.

— Borboleta? — Meu corpo estava trêmulo por ver Sophia naquele estado. — Mãe, o que aconteceu? — Encarei ela que estava sem entender também.

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