Capítulo 30

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— Você é um ótimo enfermeiro, Borboleto. — Sophia brincou após ver o seu dedo quase enfaixado, já que eu estava fazendo todo o processo pra sua cicatrização, limpando o corte e jogando um antisséptico eficaz.

— Prontinho! — Terminei o curativo. — Agora seu dedo não vai mais cair. — Rimos.

— Deus me livre! Eu seria uma pessoa morta sem dedo. — Encarou o curativo.

— Você ficaria linda sem dedo. — Me levantei, indo guardar a caixa de primeiros socorros na minha pequena suíte.

Sophia me seguiu mas logo a tirei de lá. Havia lembrado que não tinha recolhido a sua calcinha, que ficava no meu banheiro agora.

— O que houve?

— É que... — Cocei a nuca, pensando rápido. — Tá muito sujo, fedido. Você sabe. — Torceu o nariz.

— Pra uma gay você é bem desorganizada, Borboleto. — Oi?

— Eu não tive tempo, borboleta. — Me justifiquei. — Depois da viagem eu fiquei um pouco ocupado demais.

— Entendi. — Deu de ombros.

— MICAEL? VEM JANTAR! — Escutei a minha mãe berrar lá em baixo, encarando Sophia com deboche e vendo ela gargalhar bastante.

— Sua mãe é tudo de bom! — Terminou de rir.

— Eu queria trocar a minha mãe por uns dois ou três anos, até ela voltar ao normal. — Sophia ainda ria enquanto descíamos as escadas, juntos.

Andamos até à cozinha vendo meu pai que havia chego. Ainda estava com a roupa do trabalho e sorriu quando viu Sophia, também surpreso pela casa estar cheia.

— Olá, boa noite! — Sophia o cumprimentou com um beijo no rosto. — Meu nome é Sophia, eu sou amiga do Micael. — Sorriu.

— Sophia, que bom que você veio nos visitar! — Meu pai se animou. — Micael fala muito de você. E também, não tem como não identificar a princesa do reino Abrahão. — Sophia corou enquanto sorria. — Seu pai está trabalhando muito?

— Está sim! Ele sempre trabalha bastante. — Por que todo mundo fixava em Renato?

— Mãe, cadê o refrigerante? — Lidiane perguntou, se posicionando na mesa junto do namorado.

— A partir de hoje nessa casa só entra suco natural. — Minha mãe colocou a jarra na mesa. — Laranja com acerola! — Nos avisou.

— Hum, eu amo laranja com acerola. — Sophia juntou as mãos e sorriu, vendo a jarra perfeitamente posta.

— E macarrão com legumes? — Minha mãe estava pondo a mesa.

— Mãe, você podia fazer aqueles cookies de natal, né? — Lidiane se lembrou.

— Cookies de natal sem ser natal? Não quebre a tradição, filha! — Ela se sentou. — Sophia, você come macarrão ou tem preferência em outra coisa?

— Macarrão está ótimo e com um cheiro delicioso! — Entreguei um prato à Sophia. — Imagine o suco. — Sorriu.

— Estamos felizes em receber você, Sophia. — Meu pai soltou.

— Obrigada! Eu estava falando pro Micael que gostaria de morar aqui, minha família não é animada desse jeito. — Observou todos na mesa, ainda encantada por minha família ser louca e anormal.

— Ih, se você morar aqui vai ter que fazer muitas economias. — A desagradável da minha irmã soltou, fazendo uma careta antes de começar a comer.

— Lidiane! — Meu pai lhe repreendeu. — Você perdeu o juízo?

— Perdeu sim, pai. — Coloquei a boca no mundo, a hora era agora e eu amaria colocar a Lidiane em uma coça do meu pai, bem dada. — Eu cheguei e esses dois aí estavam se amassando no sofá. — Apontei aos mesmos.

Meu pai ficou incrédulo e bravo, tudo ao mesmo tempo.

— Sozinhos? — Encarou Lidiane e o namorado. — SOZINHOS? — Estava bastante irritado.

— Micael, por que você foi falar, hein? — Minha mãe o acalmou. — Poxa, hora do jantar não é hora disso. Estamos com visitas!

— Mas foi bom o Micael ter falado, Beth. Depois acontece coisa pior embaixo do nosso nariz e a gente nem percebe. — Meu pai ainda seguia bravo, mastigando a comida em silêncio. — Eu saio pra trabalhar e a casa vira uma zona! É isso que você quer pra sua vida, Lidiane?

Ficamos todos em silêncio.

— Quer saber? Tô caindo fora! — Minha irmã deixou o prato, puxando o namorado e saindo da mesa. Minha mãe tentou revidar mas não conseguiu, viu Lidiane passar pela porta e sumir com o garoto.

— TÁ VENDO, BETH? — Meu pai se irritou mais ainda, o velho iria morrer de nervoso! — É ESSA A EDUCAÇÃO QUE VOCÊ DÁ PRA ELA?

— Jorge, pelo amor de Deus. — Minha mãe se defendeu. — A Lidiane tem quinze anos, sabe muito bem se proteger. O Micael com quinze já sabia, você acha que ela não sabe?

— Acontece que ela é menina, Beth. É tudo diferente! — Meu pai explicou com calma. — Agora eu não posso ir trabalhar pensando que tá tudo em ordem, quando não está. — O velho cruzou as mãos e saiu da mesa, mas antes, se desculpou com Sophia. — Mil perdoes, querida! Eu lamento por você ter presenciado esse tipo de coisa.

— Não precisa se desculpar, é de família, é normal. — Ela entendeu perfeitamente.

— Eu vou subir e tomar um banho, arejar a minha cabeça. — Meu pai disse, saindo de seu lugar. — Fique à vontade, Sophia. Sinta-se em casa! — Ele sorriu antes de sair, rumo as escadas.

Minha mãe encarou o prato, um pouco triste.

— Bom, já que todo mundo se foi... Eu não vou ficar de vela, não é mesmo? — Saiu do lugar também.

— Vela? Quem aqui vai ficar de vela, mãe? — Eu queria matar a minha mãe por ser tão boca aberta e deixar todos constrangidos ao seu redor.

Mas ela saiu antes que eu falasse mais alguma coisa, ou brigasse com ela. Eu e Sophia estávamos sozinhos, terminando o jantar.

Ou só começando.

— Sua irmã ainda é virgem? — Foi direta e reta na pergunta.

— Eu espero que sim. Lidiane é muito nova pra essas coisas. — Havia ficado irritado automaticamente, o que fez Sophia rir. — O que?

— Você, com ciúmes da sua irmã. — Ainda ria. — Você fala isso só porque é homem, quer dizer, porque nasceu no corpo de um homem. — Eu ainda sou homem, é que você ainda não sabe.

E quando souber, quero que não se distancie de mim.

— Mas eu acho que ela é nova pra fazer sexo. Depois acontece alguma coisa e sobra tudo nas nossas costas.

— Nas costas do seu pai, você quer dizer, né? — Assenti.

Sophia encarou o prato com a macarronada.

— Sabe. — Pegou um espaguete fino, colocando na boca com os próprios dedos. — Quando eu como isso, me lembro automaticamente da Dama e o Vagabundo. — Trouxe o espaguete até a minha boca, onde abocanhei, segurando pelos lábios.

Sorríamos e ríamos cúmplices até Sophia puxar o espaguete, seguido por mim. Nossas cabeças foram se juntando, até ficarmos pertinho um com o outro. Nossos lábios estavam perto, iniciando um beijo calmo e suave. Eu estava no céu!

Eu só podia estar sonhando. Sophia não era real!

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