Capítulo 19

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Eu passei a tarde inteira lendo aquele maldito contrato, aquele maldito papel que eu topei fazer parte por oitocentos mil dólares. É! Não era oito dólares ou oitocentos dólares apenas. Eram oitocentos mil dólares, em dinheiro vivo, entregues por Renato Abrahão, o diabo em pessoa que tinha poder sob tudo.

O nome da empresa estava escrito no logotipo da folha, em seguida o nome do homem de poder, em baixo o enunciado da aposta, e para terminar: todas as regras que não podiam ser quebradas, impedindo Sophia de curtir alguma coisa da adolescência.

Ela não podia:

— Não beber e não usar qualquer tipo de droga.

— Não fazer sexo com outra pessoa ou demais pessoas. Apenas com o próprio namorado.

— Ser submissa do namorado para qualquer questão, ou afins.

— Não frequentar baladas, motéis, bares clandestinos.

— Ir ao médico regularmente.

— Perder a virgindade só depois do casamento.

— Nunca trabalhar.

E o principal:

— Poupar todo o tempo de Sophia, intercalando horários em que o namorado possa estar com ela ou não. Mais precisamente, horários que os dois não se encontre.

A última eu achei confusa mas até que gostei.

— Toc-toc? — Minha mãe bateu na porta mas abriu antes da resposta. Ela sempre fazia isso. — Você voltou!

— É, eu voltei. — Guardei rapidamente as folhas. — Queria te pedir desculpas por ontem. Eu não devia ter feito aquilo com você. — Observei ela sentar em minha cama, suspirando.

— Você foi Rebelde. — Eu sou Rebelde. E você? — Mas gostei do enfrentamento com o seu pai. Mostra que você está se tornando homem.

— Mostra que eu tenho mais mentalidade do que vocês dois juntos.

— Você não ficou feliz com a novidade?

— Não?

— Por que?

— Porque é um bebê, mãe! Você mal fica em casa, você mal cuida da gente. A história vai se repetir de novo. A vovó vai ter que ficar aqui pra cuidar da gente, já estou até vendo. — Assim como foi quando Lidiane nasceu.

— Não é bem assim, Micael. — Ela tentou se justificar. — Eu queria unir mais vocês...

— Acontece que tem muita coisa nessa casa que não consegue unir a gente. — Expliquei. — Começando pela Lidiane que não aceita nada do que a gente fala.

— Ela é adolescente!

— E eu também! Só que eu tenho mais responsabilidade, tenho meu próprio carro e agora quero me manter longe daqui.

— E você vai morar aonde, Micael? Debaixo da ponte? — Cruzou os braços.

— Vou conseguir a minha própria grana. — Pensei na aposta maluca.

— Espero que não seja vendendo drogas. — Minha mãe se levantou, caminhando até à porta. — Sua amiguinha ligou, ou namorada. — Fez uma careta. — Eu não sei definir o que vocês dois são!

— Sophia? — Estranhei. Como ela sabia o número da minha casa?

Aliás, eles sabiam de tudo sobre mim. Só eu que não sabia de nada deles!

— O nome dela é Sophia? — Minha mãe franziu o cenho quando passei correndo por ela, descendo as escadas e indo até o telefone fixo. Verifiquei o número dela na bina, retornando a ligação.

Não tinha ido ao colégio hoje, de novo, e com certeza ela se questionaria com isso.

— Alô? — Uma voz esquisita me atendeu.

— Alô! É da casa da Sophia? — Lógico, anta!

— É sim! Quem deseja?

— Eu gostaria de falar com ela. É o Micael, amigo dela! — Disse calmo, após dar um sorriso.

— Só um minuto. — A mulher pausou. — Eu vou transferir a ligação.

— Ok. — Esperei ansioso.

Falar com Sophia era praticamente mudar o meu humor de 50% para 100%

— Oi, Borboleto!

— Oi, borboleta. — Ah meu Deus! Por que essa garota era tudo de bom? E eu ainda não tinha beijado a boca dela. — Como você está?

— Estou com saudade. Quer dizer... — Suspirou do outro lado da linha. — Você não foi ao colégio, eu também não...

— Por que você não foi? — Estranhei.

— Digamos que eu não estou na cidade. — Arregalei meus olhos. — Jack me raptou por quatro dias. Estamos em Vegas! — O QUE?

— Vegas? — Meu coração deu altas batidas. Eu iria morrer de raiva? Ciúmes? Desespero? — Como assim você foi pra Vegas, borboleta? Você não pode ir! — Agora não mesmo.

— Ei! E por que eu não posso ir?

— E seus pais, Sophia? Como eles vão reagir à isso?

— Eu contei que estaria dormindo na casa da Mel, eles aceitaram normalmente. — A história ficava cada vez pior... — Eu volto!

— Pera aí. — Pensei calmamente. — Eu acabei de ligar pra sua casa e disseram que era daí. — Franzi meu cenho.

— Esse telefone é da minha casa em Vegas. — A MENINA TINHA UMA CASA EM VEGAS! — Quem te atendeu foi uma empregada que administra por aqui, a gente vinha quase todo o natal mas paramos quando minha avó faleceu. — Contou. — Achei legal passar uns dias aqui, com Jack. Já que meu pai não deixa a gente sozinhos.

Eu achava uma péssima ideia.

— Sophia, não dá. — Soltei, puto. Eu me ferraria mais ainda se Renato descobrisse a sua fuga. — Estou indo pra Vegas! — Decretei.

— Como? — Ela morreu de rir no outro lado da linha.

— Eu não posso deixar você correndo perigo.

Eu não estou em perigo, Borboleto. Eu estou com o Jack! — Deixou bem claro e eu já havia entendido. — Estamos aproveitando!

— Eu tenho medo de você se aproveitar assim. — Pensei alto. — Me diga o seu endereço, eu vou ir para Vegas! Mesmo você não querendo, eu vou.

Lá vai eu entrar em mais uma confusão.

— Tudo bem. — Sophia bufou. — Te mandarei uma passagem reserva também, e acalmarei os ânimos de Jack. Ele vai odiar você aqui! — Eu não queria nem saber.

Sophia me passou o seu endereço, amoite tudo certinho e arrumei uma mochila com algumas roupas necessárias. Disse à minha mãe que dormiria por lá, ela aceitou, ficava tranquila em me ver com alguma garota. Mas a última frase que soltou, me deixava puto em todos os idiomas possíveis. Por que ela não confiava em mim?

— Você me promete que vai usar camisinha em todas as posições que você fizer com ela? — Tá vendo? Eu nasci na família errada!

— Mãe, eu não vou transar com ninguém. — Disse óbvio.

Ela cedeu, me dando um beijo na testa e me vendo entrar no carro, partindo até o aeroporto.

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