Capítulo 41

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Eu adorava dormindo, adorava sonhar... Principalmente quando o sonho é com aquela pessoa que você ama de paixão, e no meu caso era Sophia. Sonhar com a Sophia era como casar com ela na vida real, e olha que eu nunca tinha casado!

Meu sonho estava tão perfeito que certeza que eu estaria sorrindo entre os meus travesseiros, com as sobrancelhas leves e alguns suspiros de menininha apaixonada. Eu podia sentir o cheiro do cabelo dela no meu nariz, ali, tão próxima.

Mas não me lembro que no meu sonho estava chovendo.

— CACETE! — Dei um pulo da cama. Lidiane estava de pé, despejando um copo-d'água em temperatura ambiente no meu rosto. — POR QUE VOCÊ FEZ ISSO? — Me sentei, indignado. Por que ela tinha feito aquilo?

— A mamãe te chamou dez vezes, Micael! Você não acordou, pensei que tivesse morrido. Você bem que poderia mesmo. — Ela levantou os ombros, se fodendo pro que eu pensava. — Melhor você se arrumar, tá atrasado!

— Atrasado? — Dei outro pulo da cama, só que dessa vez, saindo dela.

Se arrumar atrasado é a pior coisa que existe no mundo! Obrigado por isso, Sophia!

Eu não sabia que tinha coordenação motora pra escovar os meus dentes, mijar, vestir a minha jaqueta e procurar pelos meus tênis que estavam perdidos em algum lugar do quarto. Eu parecia um louco com a escova de dente na boca, cheia de espuma, correndo contra o tempo já que estava bastante atrasado.
Peguei a minha mochila e desci as escadas correndo, a mesa do café ainda estava posta mas meus pais não estavam mais lá.

Enfiei um pedaço de pão na boca. Lidiane desceu, me observando.

— Vem cá. — Apontei pra Lidiane. — Não era pra você estar na escola? — Disse de boca cheia, com dificuldade de engolir o pão seco.

— Eu não vou ter aula hoje.

— Não? — Arqueei uma sobrancelha.

Eu não confiava na Lidiane nem fodendo.

— Não. A mamãe já sabe! — Era óbvio que estava mentindo. — Que foi? Você não confia em mim?

— Nunca nesse mundo. — Bebi o leite direito do gargalo. — Mas eu vou saber se você tá mentindo, então, pode me dizer a verdade. — Fiz o meu papel de irmão mais velho, só que Lidiane não arredou. Ela continuou com a mentira até o final!

— Eu não tô mentindo! — Começou a se irritar. — Eu acho melhor você parar com esse questionário e ir logo pra sua aula, já faz uma hora que você tá atrasado, Micael. — Ela me informou, observando o relógio que tinha na cozinha.

Eu estava totalmente fodido e atrasado! Sai correndo às pressas, entrando no meu carro e partindo até o colégio.

Fiz um atalho maluco e cheguei rápido ao colégio, procurando uma vaga no imenso estacionamento. Corri até à porta de entrada mas a inspetora me parou, a velha barrou o meu peito com a mão, pronta pro seu sermão matinal.

— Aonde você pensa que vai, Borges? — Ela arrumou o óculos fundo de garrafa.

— Assistir as aulas?

— Com uma hora e quinze de atraso? Mas não vai mesmo! — Levantou o indicador, gesticulando um não. Me pegou pelo braço, me levando até o cantinho do castigo, um banco imenso de madeira onde ficávamos esperando o segundo tempo de aula. Baboseira!

Fazia tempo que eu não parava ali. Senti até falta.

— Ah, qual foi? Quebra essa! — Tentei fazer uma carinha de arrasado pra ela, que não cedeu. — Aconteceu umas coisas lá em casa...

— É sempre assim, acontece isso, acontece aquilo, o cachorro morreu, papagaio da vizinha fugiu e eu tive que ajudar... Eu não acredito em mais nada vindo de vocês. — Como ela era ruim! — Vai ficar com fichinha carimbada, Borges. — Estava preenchendo uma folha de atraso. Me entregou quando estava pronta. — Já sabe, né? Entrega pro teu professor pra ele dar baixa no portfólio.

Eu queria rasgar aquela folha na frente dela.

— Olha ela ali! — A inspetora parou agora Sophia, que também tinha chegado atrasada. Eu me impressionei, ainda mais Sophia. — Vocês estão achando que aqui é a casa da mãe Joana, né?

— Me libera, por favor! Eu passei mal e não pude vir mais cedo. — Pareceu bastante séria.

— Cadê o seu atestado pra comprovar que você passou mal?

— Com o meu pai. Ele vai trazer mais tarde!

— Seu pai? Faz anos que eu não vejo o seu pai nesse colégio, garota. A única coisa que ele faz aqui é pagar, e ainda paga a mensalidade na casa dele, pela internet. — A inspetora riu sozinha, em deboche com Sophia. — Você vai pegar as suas coisinhas e sentar do ladinho do Borges, que também chegou atrasado hoje. — Sophia revirou os olhos e caminhou até o banco, sentando ao meu lado.

Meu coração bateu mais forte e as palavras parece que tinham saído da minha boca, ou na verdade fugido.

— Oi. — Só consegui dizer isso. — Você ainda tá brava comigo?

Sophia não me respondeu.

— É... Você ainda tá brava comigo. — Resmunguei.

— É claro que eu tô brava com você! — Ela rebateu, irritada. — Você me bateu! Você me deu um soco no rosto!

— Não foi de propósito, Sophia! Você entrou no meio e ninguém te viu. Poderia até ter sido o Jack, ninguém iria saber a loucura que você cometeu. Entende isso!

— Tá me chamando de burra? — Ela conseguia ficar linda até irritada.

— Não, claro que não. — Contornei a situação. — Eu nunca vou encostar um dedo em você com essas intenções, seria maluco de fazer isso! — Olhei em seus olhos. — E eu ainda não engoli aquilo que o Jack fez.

— Eu não quero falar sobre isso. — Sophia virou o rosto, ficando de frente agora, encarando a parede.

— Tudo bem. — Respirei fundo. — Vamos mudar de assunto, que tal?

— Pode ser. — Ela estava fria.

Mas foi assim que conquistei sua confiança de novo.

— Seu pai deixou você voltar pro colégio?

— Minha mãe brigou com ele ontem e achou ridículo a idéia de me colocar nesse castigo infernal. — Ela me encarou. — Ele desencanou e me deixou vir pro colégio de novo.

— Menos mal. — Dei um sorriso leve. — E por que você se atrasou? Dormiu demais? — Dei um risinho.

Mas Sophia não complementou isso, ficou séria enquanto me encarava. Até eu estranhei!

— Eu tô atrasada, Micael.

— Eu sei. Eu também tô! É por isso que estamos aqui. — Dei outro risinho e Sophia ficou séria de novo.

O sinal havia tocado. Sophia se levantou e saiu às pressas, fiz o favor de segui-la.

Puxei suas mãos com força, fazendo ela se virar à mim e me encarar de novo.

— Aconteceu alguma coisa com você? — Ela não respondeu. — O Jack te fez alguma coisa?

— Eu preciso ir. — Sophia se soltou, sumindo no meio da multidão de alunos que estavam saindo das salas.

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