CARLA
Os fatos estão dando pancada na minha porta e eu me recuso a abrir. Tem umas duas semanas que eu estou sentindo tudo que senti da primeira vez, o inchaço no pescoço, a dor, a dificuldade de engolir e a rouquidão. A rouquidão foi a primeira coisa que apareceu. Assim como da outra vez. Meu câncer está de volta.
Eu não falei sobre isso com ninguém, sei que assim que eu falar vai se tornar real e tentei ignorar ao máximo, mas agora não da mais, eu preciso encarar.
O Arthur já percebeu que tem algo estranho comigo, eu to apreensiva boa parte do tempo e por vezes flagro ele me olhando com cautela, sei que está tentando identificar o que possa estar errado. Hoje é o dia que vou falar tudo pra ele e pra minha mãe. Penso tudo isso enquanto estou a caminho de casa, da casa do Arthur na verdade.
ARTHUR
Alguma coisa está acontecendo com a Carla e eu ainda não sei o que, eu pensei que poderia ter a ver com a gente, confesso que fiquei apavorado, mas agora ja acho que é outra coisa, ela ta pensativa, ta aflita, quando vamos dormir ela se aconchega em mim e me abraça como se precisasse disso pra continuar, eu a envolvo em meus braços e devolvo o carinho na mesma intensidade.
Já perguntei algumas vezes e ela falou que nao era nada, não insisti, quis dar o tempo dela, mas minha coisinha linda não ta bem e hoje eu vou tentar mais uma vez. Estou preparando um jantar pra gente, só nós dois, hoje ela vai terminar os trabalhos cedo e eu também ja estou livre, combinamos de ela dormir aqui e nos curtirmos. Preparei uma mesa simples, comprei um buquê de girassóis pra ela e chocolates em forma de borboleta, esta tudo a vista para que ela veja assim que chegar.
CARLA
Cheguei no apartamento de Arthur e ao entrar me deparo com uma mesa para dois, com um lindo buquê ja em um vaso, um embrulho com vários chocolatinhos em forma de borboleta, e ele, todo perfeito caminhando até mim. Meus olhos se enchem de lágrimas automaticamente e eu não consigo me conter, desabo em seu colo e ele me abraça forte, e sou grata por isso, tenho a sensação de que vou quebrar se ele me soltar.
Arthur: meu amor, o que aconteceu? - ele pergunta preocupado enquanto ainda choro em seu colo.
Carla: ai lindo, o pior - falo entre soluços.
Arthur: ei - ele segura meu rosto com as mãos me fazendo encara-lo - o que aconteceu? Me fala, eu to preocupado e quero te ajudar.
Carla: meu câncer voltou - falo e meu choro se intensifica.ARTHUR
A puxo de volta para o meu abraço e lágrimas escorrem pelo meu rosto, a envolvo nos meus braços e não quero solta-la. Eu perdi meu chão aqui, eu não posso perder ela pra essa doença maldita, eu não posso e não vou. Eu to apavorado, mas vou precisar usar toda minha força pra amparar ela agora. Minha linda precisa de mim. A pego no colo, ainda chorando, e vou com ela até o sofá. Sento com ela no meu colo e deixo que ela chore enquanto eu faço carinho no cabelo dela.
Arthur: vai ficar tudo bem, a gente vai da um jeito, você vai ficar bem.
Carla: você não sabe disso
Arthur: vai ter que ser assim, eu não vou te perder. - a aperto ainda mais nos meus braços.Passamos um tempo assim e quando percebo que o choro dela cessou e ela aparenta estar mais calma eu tento entender melhor o que está acontecendo.
Arthur: você ja foi no médico?
Carla: não, você é a primeira pessoa para quem estou falando.
Arthur: como você sabe que voltou?
Carla: os sintomas. São os mesmos. Lembra que você comentou que minha voz tava sexy rouca? - confirmo - então, a rouquidão é um sintoma, quando você falou eu nem me liguei, mas ta vendo aqui como ta um pouco inchado? E eu to sentindo dor nessa região aqui - ela fala apontando para um ponto específico no pescoço - e ainda tem a dificuldade de engolir...
Arthur: eu percebi você muito nos líquidos ultimamente. Você ta sentindo tudo isso a o que? Duas semanas? - ela afirma com a cabeça- linda, porque nao me disse? Você tava sofrendo sozinha? Não é assim. - faço carinho no rosto dela secando as lágrimas.
Carla: eu tava com medo, eu to na verdade, e agora que eu falei em voz alta, parece mais real - ela se arrepia e eu a abraço.Arthur: vai dar tudo certo - beijo a testa dela - a gente vai cuidar disso ta?
Carla: eu to com muito medo - ela me abraça apertado.
Arthur: eu também to, mas a gente vai resolver. Agora a gente vai tentar comer um pouco, e você quer contar pra sua mãe logo?
Carla: acho que sim... você vem comigo?
Arthur: lógico que eu vou, eu não vou sair do seu lado por nada. Vou desmarcar todos os trabalhos e você também, nosso foco agora é sua saúde e eu vou ta com você em cada passo do tratamento até você estar totalmente bem de novo, ta?
Carla: ta, obrigada, eu nao tenho nem força pra dizer que você não desmarque seus trabalhos, eu não aguento sem você.
Arthur: eu to com você. Eu te amo, vai ficar tudo bem.
Carla: eu te amo.Nós comemos e resolvemos ir para a casa da minha sogra, vamos dormir la, primeiro porque depois de saber, dona Mara não vai conseguir sair de perto da filha, e nós precisamos ver os exames antigos da Cá, que estão na casa que ela divide com a mãe, e nos prepararmos para a maratona que vamos enfrentar.
Continua
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Um suspense básico. Vocês querem continuação ??Val🦋❤️