CARLA
Deixo que ele chore tudo, mas ele se mantém rígido, tenso. Em nenhum momento relaxa. E eu preciso que ele relaxe, eu quero que ele fique bem. Meu coração dói de ver ele assim. A quem eu quero enganar? Eu amo esse menino, e não suporto o ver sofrer.
Carla: relaxa, você não ta só, vai ficar tudo bem, eu to aqui - sussurro no ouvido dele e faço carinho no seu cabelo.
O choro dele se intensifica, mas ele deixa os braços caírem, deixando seu rosto livre, o rosto banhado em lágrimas. Eu passo meus dedos pelas lágrimas e o puxo pra mim, o abraçando, e ele se deixa vir. Ele me abraça também.
Eu deito na cama o puxando comigo, faço com que ele deite no meu colo e o envolvo nos meus braços, ele chora cada vez mais, mas permanece abraçado a mim.
Quando finalmente seu choro cessa, o escuto falar.
Arthur: até quando?
Carla: o que?
Arthur: você disse que ta aqui, mas até quando? Quando você vai embora?
Carla: Arthú - minha voz embarga, a forma que ele fala é tão dolorida que abre um buraco no meu peito. Ele ta sofrendo, e por isso eu sofro três vezes mais. - eu não vou embora - não sei o que me fez confessar, mas é a verdade, eu não quero mais ir embora.
Ele se desvencilha do nosso abraço e senta de costas pra mim.
Carla: Arthú, fala comigo
Arthur: porque você veio aqui?
Carla: fiquei preocupada com você. Eu liguei pra Thaís pra saber da Manu, e ela acabou me contando que tava tentando falar com você e não conseguia
Arthur: ela nao tinha que ter te dito nada
Carla: não fica bravo com ela, eu insisti. Insisti ate ela me dizer que tava mais preocupada pelas suas crises de ansiedade - ele estremece e eu me aproximo dele, sentando ao seu lado novamente e fazendo carinho nas suas costas - conversa comigo.
Ele me olha, penso que vai me mandar embora, ate que volta o olhar pro chão novamente e começa a falar.
Arthur: quando a gente terminou, eu passei pelo inferno - engulo em seco - eu sabia que boa parte da culpa por tudo que tava acontecendo era minha, e isso era o pior de tudo. Eu mais uma vez tinha conseguido estragar algo bom da minha vida
Carla: Arthú, não... - a culpa não foi só dele, eu errei também
Arthur: deixa eu terminar - ele me interrompe e eu me calo - enfim, eu tinha estragado tudo. Entrei numa vida que eu não queria entrar, passei uma imagem que eu lutei pra tirar de mim, eu me perdi. Fiz muita coisa que me arrependo, coisas que não me orgulho, eu... me perdi - ele da de ombros - Aparecia de uma forma na internet e toda noite dormia chorando, com falta de ar e angustiado. Eu não via mais um futuro pra mim, eu só, sei lá, existia, sobrevivia.
Meu rosto está banhado em lágrimas e eu não resisto a abraça-lo. O abraço e encosto minha testa em seu ombro, esperando que ele continue. Eu jamais imaginei que ele tava sofrendo assim, parecia que ele tava muito bem sem mim.
Arthur: a Thais me obrigou a buscar ajuda - ele continua - foi quando comecei a fazer a terapia, e descobri que estava com ansiedade e depressão, eu tava me afundando. Fiz o tratamento, tomei uns medicamentos e funcionou por um tempo. Eu consegui lidar com algumas questões, consegui aceitar outras e encontrar formas de seguir em frente sem o peso da culpa e da perda, da perda... de te perder. - eu soluço pelo meu choro e ele continua - eu tava indo bem, até que a Manu precisou de um transplante e você foi a doadora. - ele da uma risada triste - eu fiquei tão grato por você existir e mais uma vez tive a certeza de que você é uma pessoa incrível, com o coração lindo. Só que com essa constatação veio também o fato de que eu tinha conseguido te perder, e tudo voltou. O baque foi gigante, eu precisei retomar a medicação e tenho tentado me reerguer, hoje eu caí de novo... tive que fazer uma publi pra C&A e Carla, fui soterrado pelas lembranças de tudo que eu perdi. C&A é Carla e Arthur, era nossa marca quando estávamos no programa, era a publi de dia dos namorados que teríamos feito se não tivéssemos terminado na primeira vez, eu não aguentei. Foi mais um lembrete de como eu estrago tudo. - ele desaba no choro novamente.
