#3 - Volta

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CARLA

Eu estava muito firme na minha decisão, com tudo muito claro na minha cabeça e no meu coração. Mas, quando ele entrou no quarto, eu senti tudo, absolutamente tudo, se abalar. Eu não tinha mais certeza de nada.

Tentei me mostrar indiferente a presença dele ali, e nossa, eu precisei de muita energia pra isso, mais ainda quando ele me perguntou "porque?" . A voz dele, os olhos dele, eu estremeci. Prendi a respiração e fui clara: pela Thais e a Manu, apenas. Foi isso que eu disse, ou algo assim.

Minha sorte foi que ele não voltou mais, eu não posso cair nessa de novo, não posso e não vou. O melhor é voltar pra minha vida e seguir como eu estava seguindo, tava funcionando.

O transplante correu bem, deu tudo certo. Eu só preciso ter alguns cuidados agora. A Thaís veio me ver logo que acordei da cirurgia. Nossa conversa foi linda, eu tenho um carinho muito grande pela Thais e pude sentir o dela por mim.

Agora nós temos um laço mais forte ainda: A Manu. Ela levou a nenem ate mim e eu me apaixonei na hora, que bebê linda, a cara do Pedrinho. Ninei a nenem como pude, por causa da cirurgia, logo a Thais teve que levar ela de volta pro quarto, nos despedimos após ela me chamar pra ficar um pouco com eles, na casa da dona Bia, que ja tinha feito o convite antes, mas eu recusei.

Recusei e recusaria quantas vezes fosse preciso.  Eu não posso me reaproximar assim, por mais que eu ame a família Picoli, ame... enfim. Eu não posso, não vou. Se tudo acontecer novamente, eu não terei forças pra me reerguer. Não posso arriscar. Fiz o que fiz pela Thais e pela Manu e não me arrependo. Mas acaba aqui. Obviamente quero manter contato, mas vai se limitar a isso.

No dia seguinte recebo alta, e volto pra São Paulo com minha mãe, e a promessa de ligar ou atender a Thais, para que não nos percamos de novo. Somos amigas, de um jeito conturbado pelo histórico, mas somos.

Não tive mais notícias do Arthur, ele inclusive sumiu dos stories, no ultimo mês as aparições dele se resumiram a publis. Eu ja estou bem recuperada e praticamente toda semana falo com a Thaís, ela sempre ta mandando uma mensagem pra saber como estou, eu logo pergunta pelas crianças e a gente se liga pra conversar. Não falamos sobre o Arthur.

Hoje tive um dia mais tranquilo, gravei algumas publis em casa e a tarde terei livre, decido ligar pra Thais, quero ver o rostinho da Manu e faço uma chamada de vídeo.

~Chamada on ~

Carla: oieeee
Thais: oi Carlinha! - apesar de tentar esconder, percebo ela aflita
Carla: ta tudo bem? Cadê as crianças?
Thais: as crianças tão em casa, ficaram com o Eri. Eu precisei vim no meu escritório resolver umas coisas.

Carla: eu posso ajudar em algo? Você parece preocupada, Tha.
Thais: não, Carlinha, deixa. Vai dar certo.
Carla: sério, Thais. Você sabe que pode contar comigo. O que ta acontecendo, conta.

Thaís: foi você que pediu! Eu to preocupada com o Arthur. - meu coração salta na hora, droga - ele não me atende, tem uma publi da C&A pra entregar ate o fim do dia e eu nem sei se ele fez, to no escritório agora pra falar com a marca e tentar adiar essa entrega porque o Arthur sumiu!

Carla: Tha, o Arthur é responsável, ele deve ter feito, só não conseguiu te mandar ainda.
Thais: não, Carlinha. Tem mais. Há um tempo o Arthur começou um tratamento para as crises de ansiedade dele, estava estável, mas desde o transplante da Manu as crises tem voltado. E ele sozinho, eu não sei como ta, to com medo de ele ta numa dessa e não quer pedir ajuda. - meu coração apertou na hora e meus olhos encheram de lágrimas.

Carla: onde ele ta? Ta no Rio?
Thais: ta em São Paulo. No hotel que ele sempre fica, ele tem uma gravação pra fazer amanhã a tarde e fez outra ontem a noite. Ontem foi a ultima vez que falei com ele.
Carla: eu vou lá. Me diz o número do quarto e libera minha entrada.
Thais: sério?
Carla: sério. Bêjo! - desligo

~ Chamada off ~

Não sei porque to fazendo isso, to me colocando em algo que eu não vou conseguir sair depois, mas só sei que não consigo agir diferente. Não sei o que será de mim depois disso, mas ele precisa de ajuda. E eu vou ajudar.

Quando estou saindo de casa recebo a mensagem da Thaís me dizendo o número do quarto e avisando que minha entrada foi liberada.

Estou nervosa, com medo da reação dele ao me ver e preocupada com a forma que vou encontra-lo. Eu ja tive minha cota de crises de ansiedade, não é nada legal.

Chego ao hotel e pego o elevador, mando uma mensagem pra Thais quando estou na porta do quarto dele, avisando que dou notícias, mas que ela fique tranquila, ja estou prestes a vê-lo.

Bato na porta e espero, com uma bateria de escola de samba no meu peito. Que poder é esse que desse garoto em mim?

Escuto o clique da porta se abrindo e prendo a respiração. Finalmente o vejo. Meu coração aperta na hora. Os olhos estão vermelhos e inchados, ele está abatido, cansado. Me olha confuso.

Carla: posso entrar?
Arthur: o que você ta fazendo aqui? Melhor você ir embora.

Ele diz e se afasta da porta, mas a deixa aberta. Eu entro no quarto. Ele está sentado na cama com as mãos no rosto. Percebo que ele inspira e expira rapidamente, ele ta tentando respirar. Ele está em crise.

Me adianto até ele com as lágrimas ameaçando cair, tenho medo de falar qualquer coisa e não conseguir controlar o choro. Sento ao seu lado e passo meus braços em torno dele, ele começa a chorar, e é demais pra mim. Choro também e o aperto nos meus braços.

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Ai gente, tao preparados? O próximo é o último 🤧

Vou Revelar (One Shots)Onde histórias criam vida. Descubra agora