#3 - Conversa

915 121 79
                                    

CARLA

Eu gelei quando me dei conta que ele estava ali na porta. Eu não sabia o quanto ele tinha ouvido, mas por sua expressão acredito que ouviu o suficiente.

Tudo isso ta confundindo ainda mais minha cabeça, desde que o vi estou tentando bloquear tudo que sinto, e ele sendo tão gentil e lindo não ta ajudando, é esse o Arthur por quem me apaixonei, é esse o meu Arthú.

De inicio eu tava muito preocupada com o Chaplin, então foi fácil canalizar minha atenção nisso, mas depois que soube que ele ia ficar bem, o peso de ter o Arthur perto de mim me atingiu, e quando ele me convidou pra ficar na sua casa, bem, minha cabeça me mandava recusar, mas meu coração falou mais alto, na verdade ele gritou, e eu ouvi.

Quando estava arrumando minhas coisas pra vim pra casa dele, lembrei que deixei o nosso álbum, que ganhamos dos nossos fãs, aberto no sofá, eu tenho olhado ele todos os dias, e tenho chorado todos os dias por isso.

Me apressei pois deixei o Arthur na sala, ele ia ver o álbum e não era disso que eu preciso. Quando chego la não vejo o álbum e Arthur estava no celular, devo ter deixado em outro lugar, o que importa é que ele não viu. Não queria ter que explicar nada, não tenho forças. Mas, o destino é maravilhoso, agora é inevitável.

Carla: não vi que você tinha voltado - finalmente quebro o silêncio - desculpa
Arthur: cheguei a pouco - ele engole em seco - ia te alertar que estava aqui mas...

Carla: o quanto você ouviu?
Arthur: o suficiente

Carla: Arthú - dou um passo em sua direção - e-eu, me desculpa. Eu to indo embora - falo ja pegando minhas coisas
Arthur: não - ele entra no quarto depois de muito tempo parado na porta - não vai, acho que a gente precisa...
Carla: conversar? - o interrompo completando sua frase e ele concorda sinalizando com a cabeça.

Eu suspiro e sento na cama, ele se aproxima e senta ao meu lado.

Arthur: o que aconteceu com a gente hein? - ele pergunta me olhando e vejo o brilho das lágrimas nos seus olhos
Carla: eu to nessas mini ferias tentando descobrir...

Arthur: é, ouvi essa parte... por isso você tava vendo nosso álbum?
Carla: você viu o álbum? - olho pra ele sobressaltada

Arthur: vi sim, fiz que não pra não te constranger
Carla: não me constrange, eu só - suspiro - não tava pronta pra essa conversa.

Arthur: acho que ela é importante, você não?
Carla: acho que sim, e acho que se tivesse acontecido antes não teríamos chegado a tanto

Arthur: provavelmente não - ele fica calado alguns segundos - você não ta mais...?
Carla: o que?
Arthur: comprometida - ele fala limpando a garganta

Carla: não - dou uma risadinha sem emoção - aquilo foi um surto, uma piada eu poderia dizer
Arthur: é - ele ri da mesma forma que eu - cantos gregorianos - eu rio e dou um tapinha em seu ombro

Carla: e você? Viciado em viver? - falo com um deboche leve
Arthur: boa hahaha to de boa agora, não to comprometido também. Acho que nós dois armamos um lindo circo

Carla: a 5º D passou dos limites
Arthur: de todos eles - ele esfrega o rosto com as mãos

Carla: eu sei que te devo desculpas - toco seu braço e ele me olha - eu fui muito covarde e me deixei influenciar, deixei as pessoas opinarem sobre minha vida, e segui conselhos que não precisava, só eu sabia o que eu sentia e o que eu queria... - tento engolir o choro - não é fácil pra mim sabe, eu passei 29 anos da minha vida assim, e eu só tenho 31, eu aprendi a ouvir os conselhos que sempre foram buscando o melhor pra mim e pra minha imagem. E é muito difícil pra mim ir contra tudo que todos estavam dizendo, eu tive medo, muito medo das consequências, e - seco as lágrimas - te perdi e me perdi junto.

Arthur: eu te entendo - ele segura minha mão - agora eu consigo te entender, mas na época eu tava muito magoado, e sabe o ditado de que o animal ferido ataca? - eu balanço a cabeça em concordância - me desculpa também? Eu nunca quis te fazer sofrer, nunca quis te fazer chorar. E eu sei que eu fiz isso, e sei que foram minhas atitudes que me fizeram te perder de vez.

Carla: eu senti como se você tivesse soltado minha mão, não me entendesse e tivesse desistido de mim, tudo que eu senti quando saí daquele programa voltou com tudo, além do medo, veio a insegurança, a culpa... tudo. E eu precisava superar, eu precisava seguir em frente, da forma que eu conseguisse, me apeguei ao que eu pude e acabei metendo os pés pelas mãos. E aqui estou agora.

Arthur: eu senti como se eu nunca fosse ser suficiente pra você, como se mostrar o quanto eu te amava - ouvir o verbo no passado foi um soco no estômago - não fosse suficiente pra você pegar na minha mão e enfrentar tudo. Isso me devastou. Eu meti os pés pelas mãos tal qual você, tentei me apegar a qualquer coisa pra tentar te esquecer, me viciei em viver - ele deu uma risadinha - uma chacota.

Carla: acho que nós dois estávamos tão magoados que nem percebemos que tudo que sentíamos se baseava em paranoia e achismo, e que se tivéssemos guardado as armas e tido uma conversa expondo todos os nossos medos poderíamos ter nos resolvido. E enfrentado juntos quem tentou nos atrapalhar. Conseguiram porque a gente não se fortaleceu.
Arthur: acho que você ta certa. Nosso problema sempre foi a falha de comunicação.

Carla: poderia ter sido diferente.
Arthur: poderia.

Ficamos em um silêncio confortável, pensando em tudo que acabamos de falar, em como poderia ter sido, e acredito que assim como eu, ele não sabe como encerrar essa conversa.

Arthur: mágoas passadas então? - ele passa a mão pelas minhas costas
Carla: podemos ser minimamente civilizados não acha? - sorrio usando a frase que ele usou a pouco e ele se aproxima.

Por um instante acho que vai me beijar, mas ele me abraça.

Arthur: acho que a gente precisava disso - diz se levantando - dorme bem, qualquer coisa me chama - e sai do quarto.

Eu estou com mil pensamentos ao mesmo tempo, eu queria o beijo dele, eu queria outro fim pra essa conversa, eu queria ele na minha vida de novo.

Porém, não é assim que ele se sente, me ajeito pra dormir e me deito frustrada, rolo pela cama enquanto as horas passam e minha cabeça não para de pensar, as lágrimas não demoram a chegar, é um choro de saudade pelo que vivemos e de dor pelo futuro que não tivemos.

—————————————————————-

Vou colocar meta, 50 comentários e eu volto com a continuação 🗣

Val 🦋🥁

Vou Revelar (One Shots)Onde histórias criam vida. Descubra agora