A Sósia - Volume I

Capítulo 144

Blanca= Quero contar, porque você é minha filha! – levantou-se, brava. – Se eu não disse antes, foi porque quis te proteger. Já sei que fiz mal e que você preferia que tivesse acontecido de outra maneira, mas não posso mudar o passado.

Dulce= É, você não pode. – suspirou pesadamente.

Blanca= Achei que seria melhor se você não soubesse das coisas, ok? – sincera. – Seria melhor não te falar nada, você aceitaria melhor.

Dulce= Não! Não aceitaria melhor! – levantou-se para poder encará-la. – Eu queria confiança, queria saber o que estava acontecendo. Minha cunhada sabia, e eu não!

Blanca= Porque ela estava com o Christian! – justificou-se.

Dulce= Oh, ótimo! – ironizou. – Vamos falar do meu irmão que sabia tudo também?

Blanca= Eu pensei que fosse o melhor! – desesperada. – Não quis te dar algo pela metade, não quis contar e... sei lá, e se depois não desse certo? Era só o começo.

Dulce= Uau! Vocês passaram um ano começando? – foi obrigada a rir ao final. – Quem passa um ano começando qualquer coisa? Por favor!

Blanca= Eu sei que errei! – tentou se aproximar dela. – Eu errei e te peço desculpas, ok? Deveria ter contado, ainda que no começo ele fosse apenas um amigo pra mim.

Dulce= Qualquer coisa é melhor do que nada. Mas tudo o que recebi de você foi um nada. Foi um vazio, como se eu nem fizesse parte dos seus planos. – olhou para cima, impedindo a lágrima de cair. – Que tipo de confiança você teve em mim?

Blanca= Não foi problema de confiança, mas sim pensar na melhor maneira de te proteger. – a morena negou. – Eu estava te protegendo! Eu queria o seu melhor! Contar algo assim só te deixaria confusa. Eu precisava saber que você havia superado o seu pai e...

Dulce= Nunca vou superá-lo. – cortou-a. – É o meu pai. Mas superei o que houve com ele, e agora vou ajudá-lo a superar também. Vou ficar do lado dele, vou dar o apoio que ele precisar.

Blanca= Aquele homem não é o seu pai. – insistiu. – Você falou com ele, não foi? Por acaso ele se lembrou de você? Por acaso ele se lembra de como você entrou na faculdade? Como se formou? O que tem feito? Ele não sabe! Ele não sabe, porque seu pai se foi naquele acidente.

Dulce= CALA A BOCA! – descontrolou-se por um momento. – Eu tenho coração, não sou como você. Ele não se lembra de como eu entrei na faculdade e muito menos de como eu sai. Não, ele não se lembra da minha formatura ou os lugares para onde eu viajei, ele não se lembra de nada que fiz depois dos meus quatorze anos, é verdade. – seus olhos voltaram a encher-se de lágrimas. – Mas ele se lembra de como se sentiu quando soube que eu iria nascer, ele se lembra de como foi me pegar no colo pela primeira vez, me ensinar a falar, andar... Ele se lembra que é meu pai. E sinto muito, mas isso é tudo o que importa pra mim.

Blanca= Claro, claro, ele é seu pai. É fácil ser pai só nas horas boas, não é? É fácil ser pai pra ensinar a andar ou falar. Mas e ser pai quando seu filho sofre um acidente? E ser pai pra tentar consertar quando seu filho faz uma merda atrás da outra? Aí já não é tão fácil. – magoada com o que ouvira dela.

Dulce= Aí não é tão fácil. Mas é fácil cuidar e tentar consertar as merdas que seu filho faz, pra depois jogar na cara dele. É fácil ser uma 'boa mãe', pra depois achar que sua filha vai se embebedar na primeira oportunidade. Você está certa, isso é realmente fácil. Difícil é saber perdoar e ver que as pessoas crescem e se endireitam. – respirou fundo e a encarou. - Então meu pai não se lembra de mim, e minha mãe me culpará eternamente pelos meus erros. Acho que, seguindo sua teoria, eu estou sozinha agora, não é? Por minha conta.