Capítulo 185

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|Narração Ana Beatriz|

Algumas semanas depois...

Inalei o ar que vinha em minha direção, são ares Brasileiros, por fim desembarcamos em São Paulo, Cecilia estava animada com a ideia de ver sua dinda, Fernanda e ela sempre conversam por Skype, mas só se viram umas duas vezes pessoalmente.

Caio entrelaçou nossas mãos e caminhamos em direção ao portão de desembarque, foi quando eu vi o Smith de longe com uma plaquinha em mãos escrita "Ana Beatriz Yang e Família", soltei um longo suspiro olhando para o Caio e caminhamos até ele.

— Boa tarde! — tentei sorrir ao me aproximar, mas eu não conseguia disfarçar o quanto eu estava nervosa por estar ali de novo.

— Boa tarde Bia, que bom que você veio. — me abraçou desesperadamente, dava pra ver de longe que ele estava mais aliviado por me ver ali.

Ele cumprimentou o Caio, e só então me dei conta de que havia um homem do seu lado, suspeito que fosse seu namorado ou marido, pois eles estavam de mãos dadas.

— E essa mocinha... Como se chama? — se agachou sorrindo para a Cecilia.

— Cecilia. — disse tímida se escondendo atrás das minhas pernas.

— Filha, esse é o Smith, amigo da mamãe e do papai... Diz oi! — acariciei seus cabelos.

Ela sorriu sem jeito e sussurrou um breve oi para o Lucas, ela não é tímida com a família, apenas com pessoas de fora. Iriamos ficar hospedados na casa de Fernanda, Smith queria que ficássemos em sua casa, que era onde o Barcelos estava, mas eu não quis, não sei se eu teria psicológico para ficar na mesma casa que ele depois de tudo.

— E então... Você quer ir lá em casa vê-lo? — perguntou assim que entramos no carro.

— Ainda não... Nos leva na casa da Fernanda, eu quero deixar a Cecilia lá para que possamos conversar antes de eu vê-lo. — murmurei apertando a mão de Caio que estava sobre a minha, eu estava aflita.

— Ok... — suspirou.

Chegamos ao apartamento de Fernanda, ela ficou eufórica ao nos ver ali, deixamos as malas no quarto onde iriamos ficar e eu fui conversar com Cecilia, eu a deixaria ali por algumas horas para resolver tudo em relação ao Barcelos, confesso que estou nervosa por vê-lo depois de anos. 

(...)

— Filha, a mamãe vai sair... Você fica aqui com a Dinda e mais tarde eu te explico tudo. — falei firme e ela assentiu. Cecilia era muito esperta, e era muito "madura" para a sua idade, às vezes falávamos como duas adultas, mas por sorte ela sempre era muito obediente.

— Tá bom mamãe, trás um chocolate pra mim? — pediu dengosa.

— Trago minha princesa. — beijei sua testa.

Caio se despediu dela e fomos a uma cafeteria para conversar com mais calma, por telefone ou mensagens não era o mais apropriado e eu tinha muitas perguntas para o Smith. Pedimos um café, e sentamos de frente para ele, pude perceber o quanto ele estava abatido.

— Pode começar! — o incentivei.

— Por onde você quer que eu comece? — indagou fitando suas mãos.

— Pelo começo de preferência... — falei obvia.

— Vou fazer um breve resumo de tudo o que aconteceu nesses últimos anos... — fez uma pausa erguendo o seu olhar, dessa vez ele me olhava nos olhos. — Barcelos foi à falência, seu sócio junto com a sua empresa de Auditoria estavam dando um golpe nele, e conseguiram... Ele perdeu tudo o que tinha, e o pouco que sobrou ele gastou com o Câncer, ele não tem mais nada... Nada mesmo. — a voz dele embargou e seus olhos marejaram.

— Há quanto tempo ele sabe do câncer? — perguntei firme.

— Três anos, ele já vinha sentindo dores fortes na cabeça há muito tempo, mas nunca deu bola, até que um dia ele passou muito mal, Valeria o levou até o hospital, eles fizeram muitos exames e descobriram que o Câncer estava agravado, e que era maligno. Ele gastou com cirúrgias, quimioterapias e ele tinha "sumido", só que agora voltou mais forte, e foi quando o médico disse que não tinha mais jeito. As sequelas começaram a aparecer, ele está magro, fraco, não consegue fazer quase nada sozinho, está perdendo a sensibilidade aos poucos e os movimentos têm dias que ele perde. Ele já caiu muitas vezes por fraqueza, por isso o médico pediu que ele andasse somente de cadeira de rodas, tem dias que ele acorda feliz, sorrindo, fazendo brincadeiras, já outro ele não come, não fala e só pede por você, e que não quer morrer sem antes te ver. Ele não aguenta mais sofrer, teve vezes que ele já tentou se matar, se não fosse a Valeria ele já tinha tirado a própria vida. Ela não sabia mais o que fazer e recorreu a mim, a família dele nem ligou para ele, Barcelos não tem ninguém além de mim e da Valeria, ele está sozinho, e por mais que ele tenha sido horrível com todos nós, ele não merecia morrer dessa forma, por isso eu te liguei, eu não sei mais o que fazer, vê-lo morrendo dia após dia é torturante para mim. — Smith se derramava em lágrimas, eu nunca o vi assim, na realidade eu nunca vi uma pessoa chorar dessa forma, o que mais me admirava era que mesmo depois de tudo ele estava ali, cuidando do Barcelos até o seu último suspiro.

— E você me ligou achando que poderia ajudar? É isso mesmo? — perguntei rude, eu estava aflita ao saber tudo isso, essa notícia caiu como uma bomba em cima de mim.

— Amor... Calma. — Caio sussurrou beijando meu rosto.

— Como vou ter calma Caio? Ele simplesmente jogou essa bomba para cima de mim como se fosse fácil aceitar isso assim... Ele vai morrer!!! — praguejei impaciente.

— Bia... Eu não queria bagunçar a tua vida te contando isso, mas como vocês tiveram uma história eu achei justo te contar o que estava acontecendo. Sem contar que ele não vai conseguir descansar em paz sem antes te ver pela última vez... Desculpa se eu atrapalhei a tua vida. — suspirou se levantando.

— Smith... Não vai! — Caio o impediu. — Ela só está confusa com tudo que você contou, tenta entender. — disse cauteloso e eu cafunguei sentindo as lagrimas molharem o meu rosto, não sei se eu estava preparada para vê-lo depois de tudo o que o Smith me contou.

— Desculpe pela forma como eu falei, eu só estou bastante assustada com tudo o que você disse... — dei de ombros e minha voz embargou, eu nem estava me importando mais se isso iria demonstrar que eu fiquei sentida com o fato de que ele estava morrendo, eu sou um ser humano, apesar de tudo eu consigo ter compaixão de uma situação como essa.

— É compreensível Ana Beatriz. — o rapaz que estava com ele disse sereno. 

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