— Oi, sou eu. Já fala com o comandante da 12° DP, Barbás, e se prepara que ele vai querer te secar. Tem corpo no corredor, chamou a atenção pra caralho. Já tô com todo mundo aqui, vou tentar sair com eles em segurança, mas vou precisar que os amigos cheguem pra garantir. Carro pra tirar o pessoal... — Expliquei rápido.
— Já tá a caminho, fica ai dentro até eles chegarem. Agora... a polícia deve estar colando ai também. Porra, irmão. — Eu sabia pela voz dele que ele tava estressado.
— Eu não tive nem como evitar, po, peguei os caras aqui dentro do apartamento já. Tá uma lenha. Os que entraram aqui, foram desativando as câmeras de segurança, então, já usa isso em teu favor. Não tem a filmagem do corredor, dá pra alegar o que quiserem. Combina a história que o comandante vai contar pra tirar a gente daqui. São 3 corpos no corredor e mais uns 2 ou 3 aqui dentro. Os daqui de dentro vai ter que mover... — Comecei a contabilizar.
— Não move nada, deixa as coisas do jeito que tão. Eu vou dar um jeito nessa porra. Só tira a Maria Ísis daí. — Falou. — Já tem um tempo que saiu gente daqui, vê se tem uma rua mais parada pra eles pararem. Se for pela porta da frente vai ficar pica.
— Acho que nesse prédio aqui tem uma saída pra rua de trás, manda parar lá. — Falei. Eu me lembrava de ter visto uma saída pro outro lado.
— Quem tá dirigindo é o Russo, liga pra ele e combina ai. Eu tenho que resolver essa pica com o batalhão, pra tu não sair presa daí e me foderem aqui. Segura tuas pontas aí. — Falou, desligando na minha cara sem nem se despedir. É... normal. Sabia que a situação agora tava bem delicada... Ali era Copacabana, em plena luz do dia acontecendo um negócio desses... Claro que ia chamar a atenção de todo mundo e era uma oportunidade de ouro de foder com todo mundo, se quisessem. Se tinha uma coisa que o governo dessa bosta de Estado não admitia, era quando gente como a gente descia pra fazer bosta no asfalto. Dava a impressão que a cidadezinha deles não era tão segura como queriam fazer parecer. Quando um negócio escandaloso acontecia, então eles elegiam um bode expiatório como inimigo popular pra fingir que tinham resolvido o problema. Nesse caso, podia ser o Barbás, podia ser a Rocinha a ser colocada na lista negra do governador, e aí... Aí sim a gente tava fodido, porque eles fazer de tudo pra quebrar nossas pernas. Eu já tinha visto acontecer, o Barbás também. Talvez fosse isso o que ele tentava evitar agora.
Disquei o número do Russo pra ver por onde eles andavam. Pra minha sorte, a gente pegou eles quase chegando. Pedi pra ninguém pegar fuzil, mas a real é que eles não podiam simplesmente virem desarmados. Podia ter algum dos invasores aqui ainda... Sabendo disso, eu fui apressar o pessoal. A gente tinha que meter o pé. Dona Cláudia desceu com as coisas dela e da Maria, enquanto as outras duas meninas vinham com uns negócios esquisitos que eu julguei que fossem da garotinha também. A filha da Nina vinha no colo do único homem do grupo. Dalila tava com um saco com as coisas que eu pedi dentro, já tendo limpado o sangue das mãos e parecendo mais recomposta.Desci com o pessoal sem maiores incidentes, mas notei que ia ser impossível sair pelo corredor principal, porque já tava enchendo de curioso lá fora. O Russo já tava na rua de trás, esperando a gente.
— Dona Cláudia, a gente sai por onde aqui? Eles tão na rua de trás, mas não dá pra meter a cara ali. — Perguntei pra ela, observando do 2° andar a aglomeração que se dava na porta do prédio.
Ela indicou pra gente a saída de incêndio, que dava na parte administrativa do prédio. Basicamente a gente ia sair pelo lugar onde o zelador tirava o lixo... Vamos dizer que não era um bagulho assim agradável, mas era o que tinha. O cheiro era podre, mas todo mundo engoliu em seco e não reclamou. Fui na frente, apagando todas as câmeras, que o irmão da Nina ia me sinalizando antes que focassem a gente, com um tiro. O silenciador servia muito bem à aquela questão. Do lado de fora, já tinham alguns carros esperando a gente, parados convenientemente à nossa espera. Esperei o Wallace me fazer um sinal.
— Dona Cláudia, vai você, seu filho e sua neta com o Russo lá. Entrem rapidinho no carro com ele. As duas meninas vem comigo e com a Dalila no de trás, tá? — Falei, sem dar muita margem pra contestação. Ela se adiantou com a menina e o filho adolescente. Assim que eles entraram, eu chamei as outras pela mão e a gente fui na direção do carro de trás, eu na frente, elas atrás. Os dois sairam juntos, contornando pra não ter que passar pela movimentação na rua da frente.
Agora que já estávamos a caminho da Rocinha, eu senti o pessoal relaxar. Eu, por outro lado, ainda tava com medo de ser parada pela polícia. Foi só quando saímos de Copa, que eu realmente consegui respirar aliviada. Dali pra frente, tudo ocorreu de uma maneira tranquila, simples, sem grande incidentes. Em 30 minutos já estávamos subindo a favela... Agora, o verdadeiro problema a ser resolvido era do Barbás: limpar a bagunça que ficou pra trás.
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Coração em Guerra
Romanceㅤㅤ"Sou a morte, o diabo, o capeta, a careta que te assombra quando fecha o olho. Sou seu colete à prova de balas, seu ouvido à prova de falas... Eu vou tomar nosso mundo de volta." Djonga ㅤㅤㅤHá 5 anos ela foi acusada de trair o homem a quem ela amav...