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— Eu não tenho mais nada pra falar com você, Andrei. — Falei com firmeza e eu vi os seguranças seguraram ele pelo braço. Minha mãe segurou um dele e me olhou suplicante. Eu estava muito magoada... — Como você deve ter percebido, aqui eu sou sua inimiga. Alemão. — Falei com um tom de voz muito mais suave dessa vez, deixando transparecer meu cansaço. — E você sabe como funcionam as coisas. É melhor você ir embora, antes que alguém da Rocinha perceba que você tá aqui...

— É por isso mermo que eu vim aqui. Nina... — Ele negou com a cabeça. — Eu nunca entreguei você de verdade, porra. Se eu tivesse, o Barbás ia saber onde você morava com a Marizinha. Ele não sabe. Não sabe nem dela direito. — Falou afobado e eu fiz um sinal com a mão pra soltarem ele. — Mas agora eu vou ter, porque se não, eu vou morrer.

— Que? — Neguei com a cabeça. Ele parecia tão afobado que a situação tava começando a assustar a Maria, que agarrou mais a minha perna, até começar a machucar. — Você se colocou nessa situação, Andrei. Eu não tenho como te ajudar.

— Eu não quero sua ajuda só por mim, é por você também. — Insistiu. — Eu não quero falar que você tá aqui, Nina. Não quero... Eu preferia nem saber disso, namoral mesmo.

— Falar de mim pra ele não é o que você tem feito desde que foi pra lá? Não é sua função? Não sei porque o medo agora... — Continuei irredutível, vendo um brilho de desespero oscilar em seus olhos. Lágrimas?

— Isso é além da minha vontade, Nina, porra. Mesmo se eu disser 'não', ele vai me fazer falar de qualquer jeito. — Ele subiu um tom comigo e, por mais que eu quisesse continuar discordando dele, sabia que naquele ponto ele tava certo. Não era escolha dele. Maria soltou um gemido baixinho, apertando minha pele com força. Aquela não era uma conversa para uma menina como ela...

— Mãe, leva a Maria de uma vez. Com o Andrei eu me entendo. — Peguei minha filha pela mão e a levei até minha mãe, dando um beijo na testa dela, antes de deixá-la ir. Liberei os seguranças e fechei a porta atrás de mim, isolando eu e meu irmão na sala de estar.

— Você não precisa voltar pra Rocinha. — Falei de uma vez só. — Se voltar, vai estar indo pelas suas próprias pernas e vai ter que arcar com as consequências disso. Você é da guarda dele, conhece o Barbás, sabe o buraco onde está se metendo... sempre soube.

— Isso não vai me ajudar, nem ajudar você. — Falou e eu o vi passando a mão no rosto. — Se eu não voltar, vai ficar claro que eu não quero falar o que eu sei. Ele vai saber que eu quero proteger você, se eu ficar aqui no Fallet, vai saber exatamente onde você tá. 

Fechei os olhos, suspirando pesado e sentando no sofá. Barbás era muito inteligente, eu quase estava me esquecendo do quanto ele era perspicaz... Claro que ele ia dar um jeito de ler nas entrelinhas, mesmo que não lhe falassem claramente. Não dava pra escapar tão simples da sua artimanha. Ele tinha nos pegado. Suspirei, olhando pra ele, que tinha uma expressão derrotada no rosto.

— Que porra... — Neguei com a cabeça. — Eu já devia saber... Eu devia ter pensado nisso, é que, sei lá, nunca passou pela minha cabeça que tu podia estar lá mancomunado com o Barbás na Rocinha.

— Perdoa, Nina... — Sua voz vacilou por um momento. — ...mas eu não gostava do Mandarim. Eu não queria ficar aqui, sendo um soldado na mão daquele filho da puta. Eu não me encaixo naquela porra de Copacabana, eu sou favelado, cacete. Eu cresci na favela, com o povo da favela, é lá que eu sou feliz. Eu sou da Rocinha. Os velhos daquele bairro de merda me olham como se eu fosse bandido...

Minha raiva começou a se dissipar naquele momento. Caralho, como eu ia culpar ele por ter voltado pro lugar onde ele cresceu, onde se sentia bem? Eu não podia, sabia que o mundo era cruel com a gente, sabia o quanto a gente era menosprezado aqui fora. Como eu ia exigir que ele se submetesse a isso por mim? Agora eu me sento mal... de verdade.

— Eu só queria viver minha vida e ser feliz, só isso. — Sussurrou pra mim, fungando. — Eu nunca quis fazer mal pra tu.

— Tá, tá, não fala mais nada. — Falei, passando a mão na perna dele e ficando em silêncio com meus pensamentos. A questão era: E agora? — Fica aqui, não volta mais pra lá, tá?

— Ele vai saber, Nina.

— Deixa ele saber, então. — Disse, sabendo que aquela era uma batalha que ele tinha ganhado. — Uma hora ele vai ter que saber mesmo... Não queria que fosse tão cedo, mas é... É isso o que nós temos pra hoje.

— Não, cara, você não tá entendendo. Ele vai vim atrás de você. — Ele continuou.

— Eu já ouvi tudo isso da Larissa, não se preocupa em me contar sobre ele você também. — Dei de ombros. — Eu já tô sabendo de tudo, mas acredita em mim, aqui não é tão fácil de ele entrar. Eu também tenho armamento. — Dei de ombros. De qualquer maneira, eu sabia que não ia ser fácil.

— E ai? Ele tem também e vai querer comprar a briga. — Rebateu. — Aliás, ele tá mandando gente investigar a favela. Pode ser que tu tenha gente falando coisa pra ele daqui de dentro, po. — Continuou. — Tu vai conseguir sustentar até o final? 

Coração em GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora