Voltei pra casa me sentindo meio amargurada. A verdade é que eu queria ter conseguido alcançar o Barbás e falhar naquilo tinha tido um efeito merda sobre a minha moral. Bom... mas se eu achei que eu ia chegar lá e que ele ia vir correr pra mim que nem uma criança assustada, eu não tava esperando lidar com o William.
Chequei a Ísis e velei o sono dela por algum tempo. Eu podia ter ficado lá a noite toda, mas tinha uma inquietude me rasgando por dentro. Se eu ficasse ali remoendo meus sentimentos e pensamentos, eu ia surtar. O fato era que agora que o problema "Rocinha" tinha sido resolvido, eu tinha que me voltar pros outros BOs. Eu tinha deixado todos eles em espera porque eu precisava me resolver com o Will e pagar a conta que eu tinha deixado pra trás no passado, pelo bem da minha filha. Agora que tudo estava se encaminhando, minha negligências às minhas favelas tinha transformado os meus negócios numa bomba relógio. O vácuo de poder que eu deixei no Rio Comprido tinha feito estourar uma guerra feia... guerra essa que eu ia ter que comprar, uma hora ou outra.
Esperei pelo Will por um tempo, não queria arrumar merda com ele logo agora por sair de madrugada. Se ele tivesse vindo, eu teria ficado. Como ele não veio...
Liguei pra minha mãe, pedi pra ela vir e dormir com a minha filha, que eu precisaria sair. Quando chegou, eu vi no olhar da Claudia a vontade enorme que ela tava de me encher de perguntas, mas ela se conteve. Peguei meu celular novo, o cartão de crédito que eu deixava com minha mãe e saí.
Era tarde, mas eu tinha que ocupar minha mente com alguma coisa. Desci de carona com um motoboy e do pé do morro, eu peguei um Uber pra Rio Comprido. Enquanto isso, liguei pro Rogier.
— Rogier? Sou eu. – Falei de uma maneira curta e direta.
— Coé... Que bom ouvir sua voz, porra Nina. — Ele pareceu aliviado. — Se eu tô escutando sua voz, então deu tudo certo.
— As coisas saíram bem melhores do que eu achei que sairiam. Minha situação com a Rocinha tá resolvida, agora é hora de focar nos outros problemas. — Disse, passando a mão na testa. — As armas que eu pedi pra tu comprar...
— Já tão chegando, Nina. Deu um problema foda na fronteira, mas a primeira remessa já tá aqui. O resto tá a caminho.
— Tá e... como tá a situação por aí? Tô vendo na TV que o pau tava torando ai por baixo, mas eu não podia dar muita bandeira de que eu tava envolvida de alguma maneira no conflito do Rio Comprido. Como tu sabe, o Barbás não tá ligado que eu tava a frente disso ai.
— Tá uma merda, mas os bicos novos tão ajudando. Conseguimos segurar Santa Teresa e o Fogueteiro, conseguimos empurrar eles pro final do Fallet. — Explicou e quase arfei de alívio. Meu medo era que a gente perdesse o complexo do RC e aí as coisas ficariam muito mais fodidas. Pra recuperar ia ser uma pica... eu tinha que manter aquela base ali a qualquer custo. — Só que a polícia tem subido direto pra apaziguar aqui, segundo eles, né? Tá uma puta guerra fria agora. Tô esperando o resto das armas chegarem pra ver o que que a gente vai conseguir fazer.
Olhei pra janela, pensando no que ele tinha acabado de me falar. Era uma situação foda e todo passo que eu teria que dar, tinha que ser com muito cuidado, muita cautela. Não que eu duvidasse da capacidade do Rogier de ter sucesso naquela empreitada, ele era uma puta velha de guerra, tinha experiência e motivação... mas também era um fato que ele precisava de ajuda. Em breve teríamos as armas, mas só isso não seria o suficiente. Também precisávamos de estratégia e gente pra segurar o fuzil.
— Tô indo praí, onde que eu te encontro? — Perguntei
— Tá vindo agora? Porra, vai dar uma da manhã. — Estranhou ele.
— É o horário que eu posso sair, Rogier. Tu não ouviu quando eu disse que ainda não falei com o Barbás sobre essa merda aí? Antes de eu envolver ele, precisamos acertar uns ponteiros, eu e você. — Falei de uma maneira direta, mas que me pareceu meio grosseira. Cara, minha paciência andava meio mal das pernas, eu tava começando a me parecer demais com o William pro meu próprio gosto.
Eu tinha deixado as coisas armadas pro Rogier sair da situação que eu infelizmente nos coloquei caso eu morresse, mas agora que minha vida não corria mais risco, as coisas tinham mudado. Se antes o Will seria nosso aliado por ser uma manobra vantajosa pra ele, agora eu não sabia mais como as coisas se desenrolariam.
Como eu ia chegar e dizer "oi, então... eu sou frente de umas favelas na Zona Norte e tava precisando da sua ajuda"? Nossa relação de confiança ainda estava lentamente se reconstruindo, ainda havia muitas rachaduras de desconfiança surgindo hora ou outra entre nós. Algo assim poderia terminar de estilhaçar a relação que estávamos nos esforçando pra sustentar, apesar de todos percalços.
— Tô aqui no Fogueteiro. Rua Cataruma, de frente pro servidor de TV a gato aqui.
— Show, em 20 minutos tô aí. — Concluí e desliguei o telefone.
Pedi pro Uber me deixar na entrada principal do Morro de Santa Teresa, ele obviamente não subiria pra me deixar no meu destino, então dali eu teria que ir de moto-táxi. Escolhi chegar ao Fogueteiro por um território mais seguro do que subir direto... as coisas não estavam tranquilas por lá e eu não podia dar sorte ao azar.
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Estamos OFICIALMENTE de volta. Coração em Guerra está se encaminhando pro fim, como vocês sabem. Ficaremos juntos mais uns 1 ou 2 meses, dependendo da minha disponibilidade, pra finalizarmos essa história que tanto amamos. Depois, vou tirar um tempo pra escrever aquele spin off que eu tinha comentado com vocês, da Dalila e da Larissa, e começar um novo projeto (já tá todo bolado na minha cabeça aaaar).
Eu não contei pra vocês, mas eu estou na universidade de novo. Finalizei minha pós e prestei vestibular novamente, fui aprovada em Medicina aqui no meu estado e tô bastaaaante feliz com os rumos que minha vida tem tomado. Reservei um tempinho livre na minha rotina pra poder voltar a fazer o que eu tanto amo nessa vida, que é escrever histórias.
Bem-vindos de volta, meus amores, e vamos que vamos!
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Coração em Guerra
Roman d'amourㅤㅤ"Sou a morte, o diabo, o capeta, a careta que te assombra quando fecha o olho. Sou seu colete à prova de balas, seu ouvido à prova de falas... Eu vou tomar nosso mundo de volta." Djonga ㅤㅤㅤHá 5 anos ela foi acusada de trair o homem a quem ela amav...