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E esses que ficaram voltaram o bico pro lugar onde eu tava. Me afastei uns bons metros, vendo o braço arranhado pelo estilhaço de tijolo que tinha sido explodido por um tiro bem do meu lado. TK abaixou e muito tiro voou na direção dele, eu tava voltando pra dar cobertura pra ele sair, quando vi ele cair de costas com a mão no ombro. Meti a arma pra fora e acertei mais um que tava numa posição merda daquela perspectiva, isso pra tentar tirar o Túlio de cima dele. Puxei ele pro canto, ainda abaixado. Enquanto isso, os outros avançaram, pra fechar eles e acabar de uma ver com aquilo.

— Tá tranquilo, tá tranquilo. — Ele repetiu a frase, quando eu afastei a mão dele pra ver o buraco de bala. Tinha parado no osso bem próximo ali... pelo menos ia ser fácil de tirar. Apertei com as uma das mãos, pra parar o sangramento, enquanto fazia o sinal pros meus outros seguranças. Quando cessou os tiros, eles vieram.

— Passa um rádio pro Russo e manda ele convocar a Dalila. Leva o TK pra base lá agora. — Mandei, levantando quando era substituído por um deles, que passou a pressionar o ferimento do Túlio com as duas mãos.

— Tô de boa, irmão, relaxa. — Ele falou meio ofegante. — Vai lá ver o que deu e leva eles com você, precisa deixar ninguém aqui comigo não que eu vou andando.

— Fica dois ai, o resto vem. — Ordenei, ignorando o que ele tinha falado por último. Dei uma última olhada do TK, antes de pular pra fora da laje onde a gente tava. Não era grave, apesar de ter sido um tiro de sub. Aquele tipo de tiro, tanto eu, quanto ele, já tinhamos tomado alguns nessa vida. Ele ia sobreviver.

Fiz uma contagem rápida, 8. Pelo menos 3 tavam caído, provavelmente tinham virado peneira, então não tinham nem história. Os outros 5 eram meus. Os outros avançaram, pra fechar eles, não tinha o que fazer. Desarmaram eles e eu passei os olhos de longe, não reconhecendo nada que pudesse indicar qualquer coisa sobre eles. Acompanhei os irmão trazendo os carros pra colocar eles dentro, enquanto isso eu tava dando uma olhada nos que tinham tomado tiro. Dois, o TK e um soldado da 99 ali, que era uma pouco mais grave. Ajudei a levantarem ele e embarcar pra UPA. Reorganizei os que tavam ali e peguei minha moto, indo pro lugar onde eu sabia que tinham levado os pau no cu.

Antes de descer no porão, eu já mandei dar a coça do ano nos filhos da puta. Passei no escritório pra pegar a visão de como tava o Túlio e passar um rádio pro Russo ficar a posto pra mim. Depois, eu fui ver como tava o lance lá entre os meus "convidados". Desci as escadas devagar, olhando pros cinco. Um dele tava baleado e já tava meio na merda, os outros... bom, tava só começando. Quando eu entrei, eles foram colocados de joelhos.

— Boa noite. — Disse, estalando os dedos das minhas mãos e encaixando um soco inglês neles. — Tá cheio aqui. Não preciso de cinco vivo não... vamo fazer assim, vou deixar dois de vocês me contarem o que eu quero saber e ai vocês podem pedir pela vida de vocês. Quem?

Nenhum deles se pronunciou. Diante do silêncio, eu peguei a pistola da cintura e fui pra perto do que tava mais ruinzinho das pernas. Deu um tiro audível a queima roupa na cabeça dele. O sangue espirrou no meu braço e eu não fiz questão de limpar. Fui pro que tava do lado dele e me abaixei pra olhar na cara dele.

— Você? — Perguntei, ele ficou em silêncio. Me afastei e ergui o braço da pistola, dando mais um tiro na cabeça.

Foi na outra ponta e fiz a mesma coisa, com a mesma pergunta. Mais um tiro, que levou o corpo com pressão pra trás.

— Sobraram vocês dois. — Disse, fingindo um bom humor. — De onde vocês são?

Como eu esperava, nenhuma resposta. Me aproximei de um deles e dei um soco com o instrumento de ferro entre os dedos na lateral do rosto, que o derrubou de lado, fazendo cuspir sangue. Me virei pro outro, passando o metal perto de um ponto de luz, fazendo ele cintilar em ameaça.

— De onde vocês são?

— Fogueteiro — Falou.

Aquela era só uma confirmação do que eu já sabia. Eu queria mais.

— Veio fazer o que aqui? — Perguntei uma vez, com a mandíbula trancada. Aquele que eu tava na frente olhou pro lados e tossiu. Bufei, sentindo minha paciência no fim. Eu não tava nem de perto nos meus melhores dias. — Túlio, vem dar um trato aqui.

Me afastei, indo pra outra parede e deixando o TK fazer a maior parte do trabalho sujo. Junto com ele, o DR cuidava do outro. Esse andava inquieto que nem o Russo por causa da irmã, mas nunca teve coragem pra me peitar por causa dele, que nem o Wallace tinha tido. Até agora eu não tinha entendido como eu tinha levado o que ele fez tão por menos, invadir minha casa daquele jeito, irmão... Se pá fosse gratidão, eu devia muito a ele por causa da nossa história, do jeito como ele tava ali firme do meu lado quando eu saí da cadeia... mesmo assim, eu tava muito de cara virada pra ele. Fiquei me perguntando até onde eu ia aguentar aquilo.


Coração em GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora