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— Que porra é essa, caralho? — Até eu me assustei quando vi o sangue na mão dela. Tirei a lâmina de perto dela e empurrei a Nina pela ombro pra longe. — Ficou piroca da cabeça, filha da puta? 

Eu fiquei puto. Pra começar, me senti na hora meio culpado por ela ter se machucado. Fiquei sem reação com a mão dela pingando vermelho, sem acreditar que ela tinha feito aquilo. Irmão, tinha uma porrada de maneiras de entender o que ela tinha feito. Podia ter sido só um impulso, porque ela tava bêbada, mas a verdade é que ela tinha metido a mão no meu canivete pra salvar o doutorzinho. Ela tava sangrando por causa dele. 

— Você não pode matar ele. — Ela piscou, descabelada, com uma expressão muito triste e determinada no rosto. Nina foi limpar uma lágrima que tava se acumulando no seus olhos, até porque ela odiava chorar em público, e ao passar as costas na mão no rosto, deixou um rastro sanguinolento na sua bochecha. 

— Tu ama esse maluco, Nina? — Eu tive que perguntar, irmão. Aquilo ficou rodando na minha cabeça desde que ela tinha tido a loucura e a coragem de fazer o que fez. Segurei ele pela raiz do cabelo, enfiando o joelho nas suas costas pra deixar ele na posição mais desconfortável possível. Aquela porra tava me corroendo por dentro. Uma coisa era ela se fazer de puta e quase dar pro meu segurança na frente da mesa toda pra me afrontar, outra totalmente diferente era se machucar pra defender o doutorzinho. 

— Eu amo... — Sem me ligar, eu apertei o punho ao redor do cabelo do loiro fodido, puxando pra trás, com a resposta dela. — Ele é meu melhor amigo há muitos anos. Não é do jeito que você tá pensando. Além disso, ele quem vai fazer o transplante da Ísis... porra, Barbás, ele não merece morrer só porque não quis me deixar sozinha, bêbada e puta por aí. 

Apertei a mandíbula, puxando a cabeça do doutor pra ele olhar pra mim. 

— Seu dia de sorte, playboy. Eu não tô de bom humor não, mas minha filha precisa de tu ainda. Depois disso, não abre seu olho não pra tu ver. — Larguei ele e dei um chute na lateral da barriga dele, pra descontar a raiva que eu tava sentido. — Bocão. — Chamei um dos meus seguranças com a mão, dá uma geralzinha de leve no doutorzinho pra ele se ligar onde ele tá e que aqui não é playground. Depois leva ele pra onde ele tá dormir, pergunta pra essa aí que ela vai te dizer onde ele. — Apontei pra Nina com a pistola na mão. 

— Ele tá ali no Hostel da Sol, perto do Mirante. — Disse, fungando. — Não machuca ele não, tá? — Pediu pro Bocão. Meus homens já fora puxando o doutorzinho pelo braço e botando ele de pé pra sair com ele, meio se arrastando por aí. 

— Vai todo mundo, vai ficar só o TK e mais 1 comigo. Vê ai quem começou o turno por último pra ficar. O resto pode vazar que o dia já tá raiando e eu tô indo pra casa. — Mandei, tirando e colocando o cartucho da minha pistola pra distrair minha mente do estresse. Cada estalo metálico que fazia quando o pente batia no fundo da pistola, a Nina dava um pulo no lugar. Ela tinha um olhar culpado no rosto, parecendo um cachorro que sabia que tinha feito merda. Porra, claro que essa puta tinha feito de propósito. Inconsequente, maluca. 

Esperei o meu grupo de seguranças saíram da nossa vista. Assim que eles viraram a esquina, eu quase pulei em cima da Marina. Segurei ela pelas cabelos, a mão em punho fechado na nuca dela e empurrei com meu corpo até o lado da casa que beirava ali o campinho, batendo o corpo dela e o meu braço com força contra a parede de tijolo laranja. Eu tava muito puto, eu devia ter uma cara de doido olhando pra ela naquele momento. Porra, que mulher filha da puta. 

Seu rosto foi de susto pra raiva. Ela tentou se livrar do meu aperto e eu respondi segurando ela mais forte ainda contra a parede. 

— Eu tô com tanto ódio de você que eu podia te arrebentar aqui mesmo. — Murmurei pra ela. 

— Faz isso, tu que vai se sentir um merda demais. — Ela me desafiou. Marina me conhecia bem demais, ela sabia que eu não batia em mulher por princípio mermo. Eu não queria ser um fodido que nem meu pai que esculachava minha mãe todo dia na minha frente quando eu era moleque. Ter contado isso pra ela foi dar uma bazuca na mão dela, pra usar contra mim... mas, porra, mesmo se ela não soubesse isso, mesmo que eu já tivesse batido nela mesmo, eu duvidava que ela arregasse pra mim, de qualquer jeito. 

— Tu não vale a pena, sua puta. — Xinguei, com raiva. — Puta papel merda o que tu prestou hoje, pintando de vagabunda pra favela toda... 

— Aham, igualzinho o papel que tu se prestou andando com um monte de vagabunda por aí. Quem anda com peixe só pode ser peixe também. — Respondeu, os olhos brilhando de raiva. 

— E aí o quê? Tu se fez de vagabunda porque me viu andando com vagabunda? Tu queria chamar minha atenção, porra? — Xingar ela e demonstrar minha raiva só ia deixar ela mais confortável pra ficar me cutucando. Jogar o jogo dela era muito melhor. 

— Seu ego é do tamanho mundo, seu merda. — Ela me empurrou com as mãos, eu puxei a cabeça dela pra trás pela nuca em resposta. — Eu não posso só querer conhecer gente diferente? Dar pra outro fodido que tenha a mesma vida de merda que eu e você temos? Não tem só você de bandido nessa favela não, Barbás. Muito menos de homem. Tu não queria ficar com as tuas cadelas? A Juliete e a outra lá? Vai lá cobrar delas fidelidade, porra. 



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VOLLLLLLLLLLLLLLLTEI. Demorei mais tempo do que o planejado na casa do meu amô, mas já estou de volta pra vocês. Devo postar uns 3 hoje e nossa maratona vai rolar em breve pra compensar vocês pela pausa que demos. Talvez amanhã mesmo. 

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Coração em GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora