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— Nunca pensei que diria isso um dia, mas ainda bem que eu errei, sua idiota. — Disse pra ela, morta de vontade de enfiar o dedo no machucado só pra zoar. Caralho, que saco... Na verdade, eu me sentia bem mal de ter feito aquele treco nela. — Volta e para de perder meu tempo.

— Eu só vim porque tava armada. — Ela respondeu e eu franzi a sobrancelha, não entendendo o que ela quis dizer com 'armada'. Onde ela tinha arrumado uma arma? Aí... ai eu entendi. Ela ergueu uma faca de serrinha de cozinha, do tipo talher mesmo. Se eu tivesse uma mão livre, eu teria dado um tapa na minha testa. — Pedi na cozinha do bar. É uma arma branca, né?!

— Não era desse tipo de arma que eu tava falando, porra. Tu vai fazer o que com isso? Vai pedir licença pro cara pra serrar ele? — Eu me senti falando com a Maria Ísis. — Porra, eu retiro tudo o que eu disse sobre você antes. — Eu tava bolada demais. Caralho, porque eu já tava quase numa missão suicida ali sozinha. Por que eu ainda tinha que ter uma mala sem alça na minha cola?

Ouvi uns barulhos no andar de cima e percebi que meu tempo tava correndo mais rápido do que eu tava sendo capaz de perceber.

— Tá, tá, olha... — Me afastei e me apaixei pra pegar um objeto que eu sempre levava dentro do meu sapato pra caso de emergências. Um canivete fininho, que eu tinha ganhado quando era adolescente e sempre usava pra ameaçar os outros no ensino médio. Era antigo, mas tinha sido caríssimo na época. Até hoje eu mandava afiar a lâmina pra continuar usando. Dei ele, um objeto que eu tinha um apego emocional gigante, na mão dele. — Joga essa merda ai fora e usa isso. Fica atrás de mim e não faz nenhuma doideira. Aliás, não faz nada que eu não tenha mandado... E vem calada. — Mandei, já me afastando e arrumando a empunhadura da pistola nas minhas mãos. Voltei ao meu estado de vigilância com ela no meu encalço.

— Caso tu precise, passa isso no pescoço... — Fui explicando em um tom baixíssimo de voz, enquanto dava conta do 2° andar.

— Eu sou enfermeira, eu sei onde é ponto vital. — Respondeu impaciente no mesmo tom que o meu.

Concordei com a cabeça, segui pro terceiro. Sussurrei um 'atenção' pra Dalila e fui na graça de Deus. Não tinha ninguém ali, mas eu sabia que no próximo teria. Eu quase parei de respirar no lance seguinte de escadas, o ar entrava e saía extremamente controlado pra não fazer barulho nenhum. Ouvi vozes alteradas, logo na entrada pro corredor do apartamento X tinha um deles. No instinto, eu dei um tiro no peito dele e mais um monte quando ele caiu pra não dar tempo de reação nenhum pro infeliz. Ainda bem que tava de pente estendido...

Me aproximei dele meio abaixada, sabendo que o silenciador não ia deixar que os tiros que eu dei me denunciassem. Verifiquei se ele ainda respondia alguma coisa, se podia gritar, mas não. Dei um pisão forte no peito dele pra ter certeza. Catei a pistola dele no chão e dei ela na mão da Dalila, que olhou pro treco como se fosse alienígena.


— Emergência. — Falei a palavra sem emitir som. Depois, fiz um sinal de 'pare' pra ela, sinalizando que ela não devia sair daquela posição. Colada na parede, eu avançei muito devagar, pra me aproximar do grupo de dois homens que tinha do lado de fora. Percebi que eles tinham conseguido entrar no apartamento, mas ainda não tinham saído. Estavam separados... Eu tava me cagando muito, tipo... muito. Eu confiava no meu taco, mas porra, era só eu, com uma pistola, e mais um monte de caras. Clara desvantagem, claro risco de morte. Me escorei na parede do extintor de incêndios pra me ocultar por um momento. Suspirei profundamente antes de dar o passo que podia custar minha vida.

No segundo seguinte, eu me joguei pro meu do corredor e sentei o dedo nos dois de um jeito extremamente rápido. No primeiro, menos de um segundo depois, no segundo. Eu nem parei pra ver se tinha acertado, foi pá-pum mesmo. Felizmente eu não tava muito longe e minha mira era bem boa, apesar dos apesares. Eu trabalhava muito melhor de fuzil e armas de grosso calibre, era o meu estilo total, mas com a pistola eu dava conta do recado também.

Corri pra dentro do corredor, pra verificar os dois alemão. Um deles eu acertei no pescoço e ele já caiu estragando a parede branca dos bacana. O segundo, foi no peito. Quando ele me viu, falou alguma coisa num volume bem audível e procurou pela própria arma. No que eu vi reação dele, a minha foi dar mais uns dois tiros na direção da cabeça dele, pra apagar de uma vez só. O que aconteceu... só um pouco tarde demais. Já avançei pra dentro do apartamento, atirando duas vezes contra o que veio verificar o que o brother dele tinha falado antes de morrer. Ok! Foram 4, mas agora eu já tinha chamado a atenção. Eu só tava rezando pra não terem pegado a Maria e Cláudia... se tivessem, eu tava fodida. O bagulho ali ia ficar muito pior. Parei um segundo do lado de fora pra verificar quantas balas ainda tinha no pente e ver a Dalila, que agora tava se aproximando de mim do jeito mais desengonçado com a arma possível.

Voltei pra vasculhar o apartamento. Ali era a pior parte... Olhei a cozinha, chutei a porta do primeiro quarto, do segundo, do banheiro... dei uma geral em tudo e não achei ninguém.

— Fecha a porta da frente, Dalila. Pode tar vindo mais gente, vai. — Mandei, apontando pra escada do 2° andar, subindo lentamente. Puxei o ar pelo nariz e soltei pela boca muito lentamente, notando como não tinha ninguém aparente no final da escada. As portas dali estavam fechadas, porém... tinha gente ali, eu sabia. Não sabia quantos, nem com o que estavam armados, mas que estavam ali eu tinha certeza.

Coração em GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora