Só que a vida sempre tava me surpreendendo... O que eu descobri ali, na muralha de pedra que era aquele homem, foi suavidade. Eu esperava uma pedra, rígida e gelada, mas o que eu senti foi uma brisa vinda do mar. Suas sobrancelhas juntas, com a testa franzida, e a mandíbula apertada firme lhe dava uma expressão melancólica, tensa e emotiva. Ele respirou audivelmente, puxando lentamente o ar pelo nariz e soltando pela boca.
— Eu sei que você tá assustada, filha, mas... — Fechei os olhos e soltei o ar que eu prendia. — Você não precisa ter medo. Vocês... não precisam ter medo. Vocês dois esperaram por isso, se encontrem.
Botei minha menina no chão e passei a mão pelo topo da sua cabeça. Ela olhou pro Will e se aproximou alguns passos dele, que desviou o olhar de mim pra ela, deixando a tensão do seu rosto se esvair em um sorriso que surgiu nos seus lábios. Não era um sorriso como os que ele costumava dar, era... diferente. Era genuíno, de felicidade verdadeira, de emoção.
— Baixa a guarda só por uns segundos, tá? Eu juro que vou esquecer as coisas que eu ver aqui... — Sussurrei pra ele. — Somos só nós três.
— Maria Ísis... — Ele disse, surpreendentemente com a voz embargada. — Maria Ísis. — Ele pegou a mão dela também e dessa vez, ela não se afastou. Quando ele trouxe a mãozinha da minha menina entre a sua, virando pra ver o que ela guardava entre os seus dedos, percebeu os objetos que um dia já tinham sido nossos. Nossas alianças.
Ele olhou pro céu por um momento, como se pedisse por conselho ou intervenção divina, seus olhos voltaram pro mão da Maria Ísis e ele se abaixou em frente à ela, fechando novamente os seus dedinhos ao redor dos anéis. Eram dela agora. Ela... A herdeira do nosso amor. Seus olhos desviaram pra mim por um momento e eu não consegui decifrar o que significou aquele olhar terno que ele me dedicou.
— Você, Maria Ísis, é o meu presente. — Disse pra ela, com a voz rouca. Eu vi amor nele. Eu sabia bem como ele se parecia quando demonstrava o amor que sentia por alguém, eu nunca tinha me esquecido do brilho dos seus olhos quando estavam transbordando daquele sentimento tão puro.
Minha filha, então, deu um sorrisinho inocente e, assim como ela fazia comigo, jogou seus braços nos ombros dele, apertando ao redor do seu pescoço. Ela o abraçou de um jeito tão bonitinho e tão repentino que pegou até mesmo ele de surpresa. Barbás demorou alguns segundos pra entender e deslizar seus braços ao redor do corpinho pequeno dela. Eu sabia que ele estava dando à ela um espaço no seu coração e aquilo era definitivo.
— Oi, papai. — Ela falou pra ele, não era nem pra mim, mas foi uma flechada violenta no meu coração. Eu me abaixei também com a impacto, pra não cair sentada naquele cimento.— Você é o meu... pai mesmo, tio? — Foi muito engraçadinho ela se confundindo em como chamar ele. Ela tinha uma carinha tão alegre, tão amável que eu derreti todinha. Barbás olhava pra ela do mesmo jeito que eu, tinha tanto amor na expressão dele que até eu fiquei afetada.
— Sou. — Disse, segurando ela pela lateral do abdômen, não saindo totalmente do abraço que ela tinha dado nele.
Ela pulou no pescoço dele de novo, que sorriu sozinho no lugar, apertando ela entre os braços de novo. No meu lugar, eu juntei meus caquinhos pra me reestruturar depois aquilo. Eu quase senti que tava sobrando ali.
— Tio... — Ela parou, olhou pra mim meio confusa e depois se voltou pra ele. — Pai... — Se corrigiu e, toda vez que ela chamava ele de pai, eu via ele se lavar de felicidade. As bochechas dela ficaram rosinhas e foi a melhor visão do mundo. Pisquei, sentindo a umidade, que eu tentava controlar, se acumular abaixo dos meus olhos. — Você vai deixar eu fazer desenho no meu braço aqui também?
Na hora eu fiquei de cara com a esperteza daquela garota. Meu Deus, viu? Lá ia ela, toda assanhada pra poder fazer uma tatuagem, ignorando o fato de que eu tinha dito não.
— A resposta é não. — Disse, fungando, e me colocando de pé.
— Mas o meu pai vai deixar, mãe. — Eu não sabia se achava aquela malcriação super bonitinha, porque ela realmente estava se gabando pra mim de ter um pai, ou se ela merecia uma surra bem dada por estar querendo me desautorizar.
— Quem sabe sou eu, Ísis. — Briguei e ela ficou emburrada, cruzando os braços e fazendo biquinho.
Barbás não soube o que dizer, eu vi que ele tava sem palavras. Não sabia se ele ainda tava digerindo tudo, ou se o efeito "Maria Ísis" ainda tava deixando ele confuso, mas o silêncio dele foi impagável. William não era o tipo de gente que ficava sem palavras.
Em determinado momento, eu vi ele se levantar lentamente. Percebi que estávamos atraindo alguns olhares curiosos. Túlio estava lá atrás, fazendo um sinal pra gente.— Vamo' pra casa. — Falou, encarando os curiosos e fazendo um sinal intimidador com a cabeça pra eles.
— Cê não tem mais nada o que fazer hoje? — Perguntei, não querendo atrapalhar o trampo do homem.
— Ter eu tenho. — Disse, sem me olhar, se virando pra trocar alguma informação por código com o Túlio. — Mas eu tenho quem faça por mim. — A expressão dele fechou por um momento e ele chamou a gente com a mão, apontando pro carro que tinha nos trago ali.
Ele foi na frente sozinho e eu fui pegando a Maria pra gente acompanhar ele. Ela, por outro lado, cagou 3 quilos pra mim e correu pro lado do William, pegando na mão dele de um jeito não inocente e orgulhoso que eu fui obrigada a me sentir ciumenta.
Will olhou pra ela surpreso e com um sorrisinho de canto no rosto, perdendo a expressão severa na mesma hora. Achei fofo. Enquanto eu ia sozinha atrás, observando eles, eu me perguntei internamente por quanto tempo a Ísis desejava ter um pai, por quanto tempo ela pensava sobre ele? Desde meados dos seus 3 anos, ela vinha me perguntando sobre isso. Quando fez 4, eu briguei sempre que ela insistia no assunto, ela ficou reclusa e eu me senti mal por não deixar ela expressar os próprios sentimentos.
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Coração em Guerra
Romantizmㅤㅤ"Sou a morte, o diabo, o capeta, a careta que te assombra quando fecha o olho. Sou seu colete à prova de balas, seu ouvido à prova de falas... Eu vou tomar nosso mundo de volta." Djonga ㅤㅤㅤHá 5 anos ela foi acusada de trair o homem a quem ela amav...