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Depois, minha mãe e Drei entraram juntos pra falar, enquanto o Gui voltou. Ele disse que tinham feito um monte de perguntas pra ele, especialmente o Barbás, sobre o estado de saúde da minha filha. Sentou do meu outro lado e segurou minha mão, me dando um beijo carinhoso na testa. Nós três sentados ali parecíamos muito miseráveis. Deixei algumas lágrimas silenciosas escorrerem na presença deles, a quem eu tinha plena confiança. Foi um momentinho só pra desabafar o que tava preso no meu peito... 

Depois a Lila foi, mas eu sabia que ela só ia confirmar o que eles já sabiam. Quando ela voltou, eu sabia que era a vez do Russo e da Larissa fazer as considerações deles pro pessoal. Fiquei ali, só aguardando e remoendo o quanto aquela sensação era uma merda, de não ter o próprio destino nas mãos. Eu sempre fui uma mulher que me orgulhei de tomar as rédeas da minha vida, pro bem ou pro mal, eu era a dona do meu próprio nariz e fazia o que eu bem entendia. Errando ou acertando, eu vivia como eu queria. 

Agora eu estava ali, de mão atadas. 

Muito tempo se passou. Não sabia se a discussão deles tava demorando mesmo ou as horas que tavam passando devagar pra mim. O fato é que o sol se pôs, a noite caiu e nós até começamos a ouvir os primeiros graves e agudos das caixas de som do baile que ia rolar hoje. Em algum momento, todos nós nos reunimos ali, bem coladinhos, quando minha mãe e o Drei se juntaram a nós. 

— Vai dar tudo certo. — Consolei Dalila e minha mãe, que choravam quase que compulsivamente. 

— E se não der? — Lila foi a primeira a falar. 

— Se não der... — Nem eu sabia como responder aquilo. — Se não der a gente vê o que a gente faz, tá? 

Por dentro eu me sentia destroçada, mas eu sabia que se eu desabasse na frente deles, eles iam entrar em pânico. O desespero era um sentimento muito perigoso naquele momento, eu sabia.

Uma eternidade depois o Túlio voltou me chamando. Só a mim... 

Levantei e com a tranquilidade mais fingida do mundo, eu botei meus pés pra fora daquela sala. Eu não sabia o que encontraria a frente, enquanto eu atravessava o corredor de volta pro salão. Por dentro das minhas entranhas, um nuvem escura se formava. Me senti enjoada, com a cabeça doendo e mil sentimentos conflituosos me corrompendo de dentro pra fora. 

É como se eu já esperasse pelo pior. Mesmo que eu não tivesse preparada pra isso, eu ia ter que enfrentar de qualquer jeito. E não me deixaria vacilar nem um segundo sequer. 

Voltei para o meio do círculo em silêncio, olhando intensamente pro Barbás, que me devolveu o olhar compenetrado. 

— Todo mundo aqui já teve tempo pra pensar, pra refletir sobre o que foi dito por quem teve aqui. Um a um, deem o voto de vocês em alto e bom som, pra todo mundo escutar. — Disse o Barbás. Suas palavras se chocaram contra mim como lâminas. Minha mão formigou como se um milhão de agulhas me perfurassem. 

Eu ouvi o primeiro voto, pela minha condenação a pena capital, olhando nos olhos do Barbás. O segundo voto, também contra mim. O terceiro... igual aos anteriores. O quarto, do Túlio, o primeiro voto a meu favor. Mais um contra. Outro contra. Um a favor, de um homem que disse que uma eu tinha uma filha que precisava de mim e que criança nenhuma devia crescer sem a mãe, como ele cresceu. Depois dele, recebi 2 votos positivos seguidos, o que eu sinceramente, não estava esperando. Um deles justificou dizendo que eu tinha salvado a vida dele uma vez, há muitos anos, quando tomamos a Rocinha. Por isso, ele tava me devolvendo o favor. 

Depois, recebi uma enxurrada de votos contra mim. 4 seguidos, cada um, ardia como um tiro a queima-roupa. Cada um, despertando um pouco mais o desespero fervente dentro de mim, trazendo o que tinha de pior pra superfície. Meu queixo tremeu e eu apertei as mãos uma contra as outras, ouvindo suas justificativas em silêncio. Alguns disseram que simplesmente não estavam convencidos, outros de que, independente da situação, quem faz o que eu fiz tinha que morrer, tendo eu estado com o Mandarim ou não. Outros simplesmente tinham muita raiva do meu pai e encontrou ali uma ótima oportunidade pra se vingar dele, mesmo depois dele morto. 

— Eu sei da caminhada da Nina, eu nunca vou votar contra a minha irmã. No dia que a policia segurou o Barbás, eu fiquei 3 dias na mata de Vargem pra não cair também. Nem lá, no perrengue, eu duvidei da Nina. Eu sou contra, porque matando ela, vocês vão tá matando um inocente. — Russo desabafou quando foi sua vez, com um olhar nublado no rosto. — E quem mata um inocente não passa impune não. O proceder que vale pra ela, vale pra todos vocês. Se alguma coisa acontecer com ela e ficar provado que minha irmã é inocente, eu vou atrás de cada um que tá aqui. 

— Wallace... — Neguei com a cabeça pra ele, pedindo pra ele deixar aquilo quieto. Eu senti nas palavras dele o quanto ele tava desolado. 

— Meu voto é pela vida dela também, Barbás. Não preciso falar mais nada, que eu já disse demais aqui, tô cansada de me repetir pra vocês que tão escolhendo cagar pro que tá sendo dito. — Larissa cruzou os braços na frente do peito, desviando seus olhos de mim.

Eu sabia que não podia tomar mais um voto contra mim sequer ou, do contrário, eu já estaria condenada. Ainda faltavam mais 4 votos, simplesmente não tinha como nenhum deles votar contra. Aquela batalha tava perdida. 

Fechei os olhos, fazendo uma oração silenciosa, pedindo direção à Deus. Eu não sabia o que faria, não sabia... o pânico cresceu em mim e eu senti meus olhos arderem. Respirei profundamente, abaixando meu rosto e fazendo toda a força do mundo pra manter aquilo tudo dentro de mim. E

— Porra, eu não tenho como votar diferente não... — Começou o rapaz depois da Larissa. 

— Aguenta aí, aguenta aí. — Falou o Barbás, interrompendo ele no meio do que ele dizia. 

Coração em GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora