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[WILLIAM]

Acordei no dia seguinte sentindo a cabeça martelar. Meus olhos arderam com a luz assim que eu abri eles, me fazendo fechar de novo as pálpebras e me deitar de novo no colchão. Eu tava me sentindo na merda, puta que pariu. Não lembrava a última vez que eu tinha me sentido tão fodido como eu tava agora. Tudo doía, tudo... a cabeça, a barriga, até a porra da minha moral. Irmão... Como eu tinha me deixado fazer um negócio desses eu não sabia. Eu não conseguia nem acreditar que tinha perdido a conta e enchido a cara daquele jeito. Irmão, esses excessos simplesmente não eram do meu feitio. Depois de ontem, eu podia falar, com toda a certeza do mundo, que não eu não tava mais me reconhecendo.

Tirei força do cu pra me levantar daquela cama e ir pro banheiro. Eu tava vestido com um roupão e, quando fui procurar minhas roupas, achei elas no cesto. Porra... eu não sabia nem onde eu tava, mas não deixei bagunçado, pica... Entrei pro chuveiro, tentando buscar alguma coisa na minha mente, que parecia mais um buraco enorme do que qualquer outra coisa. A vontade de vomitar tava foda, eu tava me sentindo literalmente um lixo. Deixei a água me escorrer pelo meu corpo, enquanto eu tentava entender o que eu tinha feito da minha vida. Porra, eu tava no baile, sentado numa mesa, mais mal humorado que nunca, meio puto por estar ali, já que eu não tava me sentindo na onda de festa e nem nada, mas eu acabava indo pra fazer uma sala e pra conversar com os parceiros que tavam ali pra mim sempre.

Minha mente tava daquele jeito ainda, então, eu acabei que não consegui nem entrosar direito. O dia seguinte era o dia que eu ia ter que fazer a Marina falar com aquele povo dela lá de novo, pra não brecar minha droga, enquanto eu corria atrás de um jeito de me livrar daquela situação... Nem que eu tivesse que trocar o fornecedor. Eu tinha que dar um jeito e tava vendo todas as minhas opções. Enquanto isso, eu ia levando de qualquer jeito. Mesmo assim, não poder fazer o que eu queria com ela me deixava com o gosto amargo na boca, me deixada com a sensação de que eu tinha conseguido uma parada que eu queria muito, há muito tempo, e agora eu não podia brincar com ela. Só de pensar nisso, eu já sentia minha cabeça dando nó de raiva. Ela me tirava do sério, a consciência da presença dela me desregulava a cabeça. Eu não sabia mais o que fazer... não adiantava os muitos quilômetros que me separava dela, era como se ela tivesse aqui, dentro da minha mente.

Pra piorar a situação, até ali dentro do meu banheiro, do meu chuveiro, eu imaginava ela. Como se ela tivesse estado ali comigo... Eu tinha essa impressão, eu tinha algumas imagens desconexas dela ali comigo. Não na minha outra casa, na que morei com ela, ali. Respirei fundo, socando a parede. Era quase como uma lembrança... um flash... de ontem? Junto com todos os flashes que eu conseguia resgatar, como eu brigando com meus seguranças e mandando eles me deixarem sozinho, ou a sensação de cair algumas vezes no caminho até em casa... eu tinha uma visão dela. Não era concreta como os últimos acontecimentos do baile antes de eu ter dado um apagão, era quase como uma fumaça, que um passava a mão e sentia, sentia o cheiro, mas a visão era subjetiva. Pior ainda, eu sabia que era ilusão.

Eu não precisava nem pensar duas vezes pra chegar a óbvia conclusão de que aquilo era absurdo, ela tava socada dentro de uma casa, nas profundezas do Paula Brito, com dois seguranças na porta. Ela não tinha como sair de lá, mesmo que conseguisse, o que ela ia vir fazer comigo? A filha da puta ia fugir e seguir em frente. Nada nessa equação batia, então, eu tomei aquilo como mais um sonho... um dos muitos que a minha mente perturbada plantava na minha cabeça pra me fazer acordar assustado e puto de madrugada. Tortura. Era isso o que a Marina era pra mim, uma tortura pra porra da minha sanidade.

Coração em GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora