Eddie Munson 30

812 72 18
                                    

Assim que Eddie parou a van em frente a casa da melhor amiga, ele sabia que algo estava errado. Ela não sorria em sua espera, ao invés, ela tinha os fones de ouvido em suas orelhas, andando de um lado para o outro, falando consigo mesma. Aquilo somente significava uma coisa, hoje não seria bom.

Haviam dias bons e dias ruins. Desde que eles se conheceram, há quase dez anos, Eddie sabia dos dias bons e dias ruins. Ele se lembra como na infância eram mais dias ruins do que bons, por isso ela quase nunca falava com ninguém, escolhendo ficar reclusa no canto do ginásio, ao invés de interagir com outras crianças. Se ele não tivesse caído em sua frente, eles jamais teriam conversado aquele dia, e nunca seriam amigos.

- AU!!! - ele falou em dor. Eddie sentiu seu joelho arder enquanto se levantava do chão duro do ginásio. Ele se sentou no chão, olhando para o culpado de sua queda, seu tênis desamarrado. Apesar dele se irritar por ter caído, a dor em seu joelho cortado não deixava que ele sentisse qualquer outra coisa.
- Ma-ma-machu-machucou? - uma voz desconhecida chamou a atenção dele, ele levantou seu rosto para ver a menina de cabeça baixa, com as bochechas mais vermelhas que um tomate, seus dedos brincando entre si. Eddie se lembrava dela de suas aulas, ela nunca falava nada e sempre que a professora pedia para ela ler uma parte do livro, ela negava com a cabeça. As crianças até fofocavam sobre ela não saber ler, mas talvez essa não fosse a verdade. - E-e-e-eu-eu p-p-posso c-c-ch-ch- ela fechou os olhos, puxando fundo o ar. Eddie via como ela estava lutando para formar uma simples frase, e quando aquilo parecia deixar ela tão frustada. - E-eu p-p-posso ch-cha-chamar a-a-a p-profe-professora. - por fim ela conseguiu terminar o que dizia.
- Por que você fala assim? - Eddie perguntou. Ele era apenas uma criança, e uma criança que tinha zero filtro, por sinal. - Só falar normal. Sabe? Sem repetir? - ele continuou a perguntar como se não fosse grande coisa. Mas então, ele viu, lágrimas crescendo nos olhos da menina, ela dando passos para trás como se estivesse tentando fugir.
- E-e-e-eu-eu e-es-est-estou t-t-ten-tentan-tentando!!! - ela falou um pouco alto demais, chamando a atenção de alguns de seus colegas de sala. Eles jamais tinham ouvido ela falar, e claro, que sua gagueira foi o motivo de todos pararem com a aula de educação física, apontarem para ela e rirem como se tivesse contado uma piada. Naquele momento, ela sequer conseguia mais disfarçar as lágrimas.
- HEY!!! - Eddie gritou se levantando, bravo com seus colegas, como eles não viam que ela estava chorando? - Calem a boca seus idiotas! Do que estão rindo?! Vocês não sabem nem limpar a própria bunda e estão rindo dela?!
- EDWARD MUNSON!!! - a voz da professora veio por trás do garoto, que já sabia o que iria acontecer em seguir. - PARA A SALA DO DIRETOR! AGORA! E você também, senhoria Sn!
- M-m-ma-mas e-e-eu-eu n-n-nã-não
- Só vai logo Sn! Que enrolação! - a professora falou, claramente não sabendo lidar com aquela situação.
- Não fala assim com ela! - Eddie respondeu andando em direção a menina, pegando sua mão e a puxando para fora do ginásio, não antes de cortar a língua para a professora.
- E-e-e-es-espe-espera. - ela falou parando de andar e se ajoelhando no chão, amarrando o tênis de Eddie. - A-a-a-assim v-v-você n-n-nã-não c-c-cai d-de no-novo.
- obrigado. Qual seu nome? - ele perguntou estendendo a mão para que ela se levantasse.
- S-s-sn. - ela respondeu e Eddie apenas sorriu.
- Quer ser amigos? Você parece legal. Eu prometo que não tenho piolho! - falou conhecendo bem como as crianças inventaram histórias, somente por ele morar em um trailer com seu tio, dizendo que ele é sujo e cheio de piolhos. Para a surpresa dele, ela sorriu balançando a cabeça empolgada. - Que bom! Você já foi parar na sala do diretor? Eu já fui várias vezes! Se você chorar ele diminui o castigo...

Eddie desceu da van, sabendo que se buzinasse ela não iria ouvir de qualquer forma, já que seus fones eram sempre no volume máximo. Ele já sabia exatamente o que tocava ali, e não era música.

IMAGINES ALEATÓRIOS PARTE IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora