Imperador Geta

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No mesmo instante que seus olhos se abriram, ela xingou os deuses. Como eles ousavam permitir que os pássaros cantassem naquela manhã? Como eles permitiam que outros fossem livres quando seu destino era ser para sempre uma prisioneira, primeiro de seus pais e agora, do homem que comprou sua posse. O grande Imperador Geta.

Não é como se ela não soubesse que aquele dia iria chegar, ela sempre soube que esse foi seu destino. Assim como diversas outras na cidade. Todas as  famílias foram forçadas a oferecer a mão de sua filha para o futuro Imperador. Essas oferendas deveriam permanecer puras e intocáveis por qualquer outro, por tal, deveriam sempre permanecer sob os olhos vigilantes dos pais, o que fez com que diversos, inclusive ela, ficassem presas sob seus quartos por toda sua vida.

Quando o Imperador chegou em sua idade, ele visitou cada casa pôde escolher quem seria sua futura esposa, e para a infelicidade de Sn, ela foi a escolhida.

- Bom dia minha filha! Como você está? Animada? Aposto que sim! Conseguiu dormir? - a voz de sua mãe era animada, mas Sn via as lágrimas presas em seus cílios.

Sn jamais culpou seus pais por terem a oferecido, ela sabia que não havia sido culpa deles, não quando seus pescoços estavam sob a lâmina afiada do império.

- Bom dia mãe... Onde está meu pai? - perguntou se aproximando da mulher mais velha, tomando a mão dela na sua podendo sentir o nervosismo dela.
- Ele acordou cedo para ir no campo... Sabe como ele é... Não é o melhor com despedidas. - a mais velha respondeu trêmula e triste. Sn podia somente suspirar com a dor sabendo que sua carruagem estaria se aproximando para leva-la ao sua boca casa, onde iria ser limpa e preparada para o Imperador. - Venha, vamos te arrumar algo para comer...

Infelizmente, em meio a sua última refeição com sua mãe, elas ouviram o som dos cascos fortes dos cavalos pisando contra as pedras na rua, os chicotes dos guardas queimando no ar, seus vizinhos correndo para saírem da frente deles, temendo pela suas vidas. Aqueles guardas não eram nem um pouco humanos, assustando propositalmente todos ao redor, causando o terror por somente diversão.

Sn apertou a mão de sua mãe com força, segurando suas lágrimas com medo do que iria acontecer com ela. Sua mãe tentou ser forte, mas as lágrimas escorriam por sua pele ao ver os guardas andando em direção a sua preciosa filha.

- Mãe, diga ao papai que eu o amo. - falou como se não estivesse apavorada. Ela sabia que não poderia causar nenhuma cena, deveria ir de cabeça baixa junto com os guardas, afinal, quem saberia dizer o que eles iriam fazer caso ela se recusasse a ir. Entretanto, sua mãe não pensava igual.
- Não... Isso não é certo. Você deveria dizer isso a ele. Podemos esperar um pouco? Ele já está voltando! - seu desespero foi claro, tomando a mão de sua filha a força e tentando impedir que Sn andasse para mais perto dos guardas. Infelizmente, eles tomaram aquilo como ameaça.
- NÃO! - ela gritou em vão vendo os guardas se movendo em sua direção, seus chicotes sendo atirados em direção a sua mãe, acertando ela uma, duas, três e quatro vezes. - NÃO! POR FAVOR! NÃO MACHUQUEM ELA!!! - gritou se forçando entre eles e sua mãe caída ao chão. Os guardas imediatamente recuaram, as ordens deles eram não ousar tocar na futura esposa do imperador, e eles não eram loucos de quebrar a promessa. - Mãe... Eu tenho que ir... Eu sinto muito, eu tenho que ir. - chorou tocando no rosto ferido de sua mãe, que dessa vez, não tentou impedir. - Eu te amo, mãe. Adeus. - deixou um último beijo nas mãos de sua mãe, antes de se erguer e andar em direção a carruagem, ouvindo o choro dela atrás de si ser abafado pelo som do metal batendo em si mesmo nas armaduras dos guardas.

Durante toda a viajem até o castelo, Sn via sua vizinhança dizer adeus para si, sabendo que jamais iria voltar ao seu lar.

Quando finalmente chegou em sua nova casa, o sol do dia pareceu se apagar pelas pedras frias de mármore que compunham suas paredes. Sn não teve a chance de colocar seus pés no chão antes de ser obrigada a entrar naquele lugar que Sn jamais chamaria de casa. 

IMAGINES ALEATÓRIOS PARTE IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora