— Mas a gente sabe que não existe justiça nesse mundo, Marina. — Disse com o tom de um velho conformado com as suas derrotas. — Se tivesse, eu e você não íamos estar aqui, vendendo droga e trocando tiro pra sobreviver. Uma porrada de inocente morreu aqui ontem, uns foram por balas nossas... — Dei de ombros. — E o que que a gente pode fazer? Nada. Até porque se não for nós, vai ser outros.
— É foda se conformar com isso. — Ela negou com a cabeça. — Eu não sou santa, eu sei que não sou... Nem eu e nem meus pais... Mas meu irmão não merecia ter morrido por coisas que a gente fez. Ele não tinha nada a ver.
— Nem o Pedro... — Disse, olhando pra ela de canto e soltando a fumaça pelo nariz. — Agora ele tá lá naquele hospital, eu tô preso aqui nessa favela. A gente vai levando como pode, Nina.
— Pois é. — Ela piscou, de virando de costas.
— Deixa seu irmão descansar da injustiça desse mundo. — Disse, passando a mão nas costas dela, que me abraçou.
— Eu vou, prometo. — Ela murmurou, bem amuada. — Vou dar um jeito de fazer meu coração aceitar. — Eu passei a mão nos cabelos dela. O sol começava a aparecer de verdade agora, abrindo espaço entre as nuvens. — Eu te atrapalhei ontem, né?! Tu devia estar lá com os outros consolidando o novo comando da Rocinha.
— Devia. — Concordei com a cabeça. — Mas foda-se também, o trabalho vai ser feito de qualquer jeito. Parma e Russo dão conta. Tu tava precisando mais de mim do que a Rocinha.
— Obrigada. — Sussurrou com a voz fina. — Eu vou voltar pra cama e deixar você ir fazer as suas coisas agora. — Disse, se afastando uns centímetros e passando a mão no meu peito. — Mais tarde eu ligo pra minha mãe pra resolver as coisas do enterro...
— Eu vou ver isso pra você, pode ir dormir em paz. — Beijei a testa dela e levei a Nina de volta pra dentro do quarto. Ela se enrolou no edredons de novo e ficou quietinha. É... Ela ia levar um tempo, mas agora eu tinha certeza que não ia morrer por causa disso. Ela era forte.
— Barbás? — Ela me chamou uma última vez, enquanto eu separava uma roupa e a minha toalha, antes de ir tomar banho
— Diz.
— Eu quero a cabeça do M7. Agora também é pessoal pra mim. — Eu ouvi firmeza na voz dela... e raiva. Ela queria vingança também. Eu sorri de canto pra ela e concordei com a cabeça. Cada dia que passava eu tinha mais certeza que aquela mulher era a porra da mulher da minha vida.
— A justiça dele vai chegar, Nina. E vai ser pela minha mão e pela tua. — Garanti à ela, que concordou com a cabeça, voltando a deitar de costas pra mim.
Tomei meu banho e saí de casa uns minutos mais tarde. Eu tinha mais uma missão pra cumprir, antes de poder voltar pra minha vida normal. Irmão, eu ia correr atrás do Misael sem parar, sem cansar, sem fraquejar. Ele ia cair de um jeito ou de outro.

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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...