Ele começou a ligar e chamar no rádio um monte de gente e, de repente, todo mundo ficou tenso. Juntei minhas mãos, estalando os dedos com força. Agonia... angústia. O calor da troca de tiro tinha me distraído da sensação ruim que tava se agarrando no meu peito desde cedo. Agora, ela tinha voltado com força total.
— Que que houve? — Vez ou outra, a gente continua ouvindo os tiros esquisitos em áreas que a gente já tinha dominado.
— Russo não responde, deve estar trocando tiro na frente dele. Mandarim tá chegando ai, mas tá tentando ligando pra sua mãe. Tô passando rádio pros caras da escolta, mas não respondem de jeito nenhum, ô... — Ele mostrou a chamada pra dois dos que iam levar minha família pra fora, que simplesmente não eram respondidas por ninguém. — Tá esquisito.
— Ô Will, eu tenho que ir lá. É minha família, pelo amor de Deus. — Falei, sentindo um desespero bizarro formar um bolo na minha garganta.
— Calma, Nina. Calma... — Ele fez sinal de 'espera' com a mão pra mim.
— Não, não, me deixa. Me deixa, é minha família. — Insisti.
— Vai ir sozinha, tá doida? — Reclamou, parando um segundo pra pensar. É certo que ele não ia poder me segurar ali e nem devia... Se tava dando algum problema lá trás, alguém tinha que ir verificar. — Calma ai, leva uns três contigo ai. Verifica lá o que tá rolando, se não for nada tu volta, se for, tu avisa pra mim no celular que a gente vai resolver.
— Tá, tá. — Falei, já saindo apressada pelo caminho de volta, enquanto ele selecionava os 3 que iam me seguir.
— Tranquilidade na mente, Nina. Não se afoba e não faz merda. — Falou, tentando apaziguar. — Pode não ser nada demais. — Ele murmurou e eu concordei com a cabeça de qualquer jeito. Todo tiro que eu ouvia pra nossa direta, à distância, me deixava um pouco mais agoniada, eu só queria ir lá e ter certeza que tava tudo nos conformes. — Ô TK, vai com ela.
— Ô Barbás... — Ele quis protestar, mas não conseguiu. TK era o segurança dele, tinha que ficar do lado dele... Era compreensível que não quisesse sair dali.
— Vai com ela, Túlio. — Mandou com mais vigor e ele concordou com a cabeça, se juntando à nós.
O nosso grupo de cinco desceu correndo a Nova, seguindo o meu ritmo acelerado. Eu quase nem sentia os meus pés tocando o chão. Só a velocidade jogando os meus cabelos pra trás. Quanto mais a gente avançava, mais éramos capazes de ter certeza que realmente os tiros eram dali. Meus pulmões começaram a arder, pela falta de oxigênio e a força me faltou um tempo depois, mas eu não consegui parar de jeito nenhum. Só diminuí o ritmo um pouco... Sorte nossa que em poucos minutos, já estávamos no ponto inicial, onde as motos de geral tavam paradas. Subi na do Túlio e os outros pegaram a deles.
De ouvido, eu e o TK fomos seguindo a linha dos tiros, que agora estava intermitentes. Saímos no cruzamento da Barcelos, caindo pra dentro da Alegria. Lá, a gente nem precisou ir muito longe pra além do lugar onde as ruas se cruzavam, logo a gente identificou um bando de pau no cu com o fuzil na mão, trocando tiro contra só dois maluco que tavam protegendo as costas entre as casas do lugar.
— Aquele ali é um dos caras da escolta, certeza. — Confirmou pra mim, na mesma hora que ele parou a moto. Eu e ele descemos correndo, já ajeitando a arma no ombro pra encher os que tavam de costas pra gente de bala. Na hora que perceberam a gente, que iam virar pra atirar, os amigos que tavam na moto em dupla passaram do lado, largando rajada de glock pra cima deles. Como não conseguiram prever o que eles tinham feito, dois deles já cairam de cara. Enquanto isso, a gente viu eles darem a volta na moto e vir de novo, fazendo a mesma coisa. O outro tava do nosso lado, também com o fuzil na mão, dando muito tiro nos que sobraram. Rapidinho a gente deu um jeito naquele pessoal. Aí, fomos secos em cima dos dois que tinham sobrado do grupo que ia escoltar minha família.
— Coé, irmão. Cadê o pessoal que vocês foram pegar lá na Cachopa? — Tulio tomou a frente, perguntando. Ai eu ouvi um gemido de dor de uma voz que eu conhecia... Dalila.
Dei a volta neles dois e nos dois passos que eu dei pra dentro do beco, eu vi a Lila jogada no chão, com as costas na parede e abraçando a própria barriga ensanguentada.
— Dalila! — Gritei, correndo até ela e me abaixando. Ela tinha rasgado um pedaço da própria blusa e estava amarrando com força na cintura dela, gemendo pela dor que o ato provocava. Tentando estancar o próprio ferimento... — Isso foi tiro?
— Foi. — Ela confirmou. — Que bom que você chegou.
— Meu Deus do céu, Lila. Meu Deus, aguenta firme ai... — Pedi, colocando as mãos no ferimento dela e pressionando, ela gritou e se encolheu. Eu senti a bala alojada sobre as minhas mãos. Tinha ficado travada no osso lateral da cintura. — Firme. Não morre pelo amor de Deus, pelo amor de Deus, eu não sei como é minha vida sem você, mulher...

VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...