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— Agora, Marina. Eu não vou conseguir dormir sem você aqui. Eu não vou... — E parou de novo. A agonia dele tava começando a passar pra mim também.

— Eu tô indo praí. — Falei, limpando o rosto e levantando do sofá.

— Vou te buscar. — Murmurou com a voz morta.

— Fica ai, eu vou de mototáxi. — Garanti.

— Você é menina.

— E sou bandido também. Tanto quanto você. — Rebati, pegando minha pistola que tava no rack da tv. — Ninguém vai mexer comigo. Já chego ai.

Ele não falou mais nada, eu não me despedi. Saí de casa e caminhei nem reserva nenhuma até a esquina, onde ficava um dos postos dos mototáxis dali. Como eles só paravam lá pras 3h da manhã, eu sabia que ainda tinha tempo. Assim, eu consegui fazer o caminho até a casa dele com muita rapidez. Quando a moto parou no portão do Barbás, ele já tava me esperando na porta. Eu não precisei nem bater...

Ele me puxou pra dentro e bateu o portão, passando a chave com rapidez. Aquilo lá era um indicativo do estado de espírito perturbado que ele tava. A gente se olhou por uns segundos e ali, eu tive certeza que nós dois estávamos expostos. Não tinha espaço pra falsidade, nossos sentimentos estavam estampados na nossa cara... Isso sim era assustador pra caralho. Me aproximei devagar e passei meus braços pelo ombro dele, escondendo meu rosto no seu peito. Ali a gente ficou, no sereno gelado da madrugada, buscando proteção e consolo nos braços um do outro. Nos apertamos, procurando por forças que naquela hora a gente não achava dentro de si.

— A gente vai ficar de boa. — Sussurrei pra ele, passando minhas unhas pela nuca dele. — Eu sei disso. Os justo prevalecem, tá na bíblia.

— Nem sempre. — Disse.

— Nós vamos ficar bem, tu tem que acreditar. — Me afastei pra olhar nos olhos dele. — Tu tem que ter fé, Barbás. — Lentamente, puxei ele pelo braço pra dentro de casa. Tava puta frio lá fora e o medo do resfriado bateu forte.

— Eu não podia ter aberto a guarda daquele jeito. Eu botei meu filho na linha frente, meu filho não tinha nada a ver com meus rolos. — Ele falou, se encostando no bar e levando as mãos ao rosto. — Caralho, eu via meu filho duas vezes na semana porque eu queria que ele ficasse seguro e de boa longe disso aqui, pra que eu fui abrir a guarda logo quando o cerco apertou? Puta que pariu.

— Não é sua culpa, porra. — Falei, agarrando os ombros dele.

— Não é minha culpa? Nina, o dever de proteger ele era meu. Se meu filho tava num carro que foi crivado de bala a culpa é minha nessa porra. — Murmurou e eu vi o rosto dele ficar vermelho de nervoso. Uma das mãos secou a umidade dos olhos. — É pior ainda, irmão. Fuzilaram aquele carro porque acharam que eu tava lá dentro. Deram um tiro no Pedro tentando me pegar. É culpa minha pra caralho. Eu tô com ódio de mim por não ter previsto essa porra.

— Não faz isso, mano. — Balancei ele com a pouca força que eu tinha. — Não é hora de tu fazer isso consigo mesmo, direciona a sua raiva pro lugar certo. Direciona a culpa pra quem realmente tem culpa, que é quem mandou puxar a porra do gatilho.

Ele concordou com a cabeça, desviando o olhar pro outro lado da sala, enquanto apertava os lábios uns contra os outros. Passei a mão no peito dele e subi pro rosto, limpando eu mesmo os lágrimas que iam se acumulando nas pálpebras dele.

— Tá de boa, homem chora também, sabe? Esse negócio de que homem não pode chorar é coisa da década passada. — Falei, sorrindo pra ele. — O mundo mudou.

— Eu não choro, Nina. — Ele falou, dando um sorrisinho de canto também, antes de desviar os olhos pra baixo. — Antes disso, fazia um tempo do caralho que eu não ficava triste ou puto o suficiente pra chorar. Nem lembro mais quando foi a última vez.

— Tá bom, machão, eu não vou contar pra ninguém. — Brinquei, passando a mão na bochecha dele. — Teu segredo tá seguro comigo.

Ele passou a mão na minha bochecha também, fazendo um carinho muito suave com o polegar. Eu dei o passo a frente e colei minha boca com o dele, ficando na ponta dos pés. Pela primeira vez em um tempo bem considerável, o nosso beijo começou super suave a tranquilo. Era raro a calmaria entre a gente, que gostavamos da coisa mais rápida e bruta. Era um momento de intimidade puta único pra gente, o sentimento de necessidade naquela hora não era só o sexual, era quase um lance espiritual... uma ligação de sentimentos.

Ele enrolou uma das mãos nos meus cabelos e a outra me puxou pela cintura. Separei minha boca de dele pra beijar sua mandíbula, seu pescoço e falar no ouvido dele.

— Eu amo você. — Sussurrei, mordiscando o nódulo da orelha.

Ele usou a mão livre pra desabotoar minha blusa pelas costas e me puxou pelos cabelos pra olhar pra ele.

— Eu também. — Disse, abaixando a cabeça pra beijar o meu ombros.

— Calma ai, que? — Sorri na hora e segurei ele. — Repete isso que tu disse ai, vai.

— Tu ouviu bem, não finge de surda. — Murmurou com o tom turrão de sempre dele.

— Não, você tem que falar direito. — Falei, tirando as mãos dele de mim e me afastando. Terminei de tirar a minha blusa e joguei no chão, na frente dele, enquanto desabotoava o shorts lentamente. — Fala direito, eu quero ouvir. Você nunca disse isso pra mim.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora