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[NINA]

Acordei no dia seguinte com as minha costas doendo. Eu tava sozinha na cama e eu não esperava nada além disso. Fui até a banheiro, onde tinha colocado minhas roupas pra dar uma secada penduradas no box. Bom... elas não estavam lá 100% secas, mas estavam apenas úmidas. Dava pra usar tranquilamente. Me vesti rapidinho e escovei meus dentes com os dedos, mais uma vez. É, se pá eu devesse trazer umas roupas de emergência e uma escova pra casa do Barbás. Era uma merda ter que sair no dia seguinte da mesma maneira que eu tinha entrado ali.

Me apressei pra descer as escadas e encontrar o pessoal, que estava tomando café da manhã tranquilamente na sala. O olhar deles sobre mim me deu vontade de me enfiar num buraco e nunca mais sair de lá. O quão esquisito era eu ter passado a noite com um homem e nunca ter dito uma palavra sequer pra eles? Em especial pra Lila e o Wallace. Eles iam me comer viva quando nós ficássemos sozinhos. Eu soube disso só pela cara de reprovação que me mandaram. Tá, eu tinha pisado na bola não falando nada, mas foda-se também...

— Come ai que a gente tem que encontrar o M7 na quadra daqui há uma hora. — Avisou o Barbás, descendo o filho dele do colo. Ele subiu pela Larissa e abraçou ela pelo pescoço.

— Então... tá tudo de boa com ele? — Perguntei, pegando um pão da mesa.

— De boa nunca tá, mas acho que ele não quer a gente morto. — Foi o TK quem respondeu. — Mas fica de olho aberto mesmo assim.

Concordei com a cabeça e voltei meus olhos pra mamãe do grupo. Ela tinha um olho meio roxo e alguns arranhões no colo, mas nada realmente sério. Já tava bem melhor que ontem, pelo menos...

— Tá tudo bem contigo? — Perguntei pra Larissa diretamente.

— Comigo? — Ela se surpreendeu com a pergunta, tossindo antes de responder. — Tá, tá. Tô bem.

— Quer começar explicando pra gente o que tu tava fazendo no PGG, Larissa? — O Barbás interrompeu a gente pra perguntar. — Já que tu já tá bem, é hora de falar.

— Eu não tenho nada a ver com aquela gente de lá, se é isso que tu quer saber. — Ela falou parecendo bem bolada. — E nem sei o que tá rolando. Eu só tava seguindo ordens.

— Que ordens? — William insistiu.

— Do Misael. Tu sabe que eu comecei na boca que era dele, antes do filho da puta virar gerente geral, então eu já tinha um contato com ele. Ele foi até a minha boca um dias desses e falou que tinha um serviço pra mim fazer. Não explicou nada, só falou que o CR queria alguém pra levar recado e fazer ponte entre as mensagens dele e do comando do PPG. — Explicou com calma. — E foi isso que eu fiz. Ele me deu um endereço no Vidigal e mandou eu ficar lá, esperando as ordens dele durante o dia todo. Pelo menos uma vez por dia ele mandava alguém me levar um papel com recado, ou me davam uns aparelhinhos, um monte de coisa... Eu pegava as coisas e levava até a entrada do Pavão e voltava. Ele me prendeu lá a porra da semana toda, fazendo eu ir e voltar com as ordens dele pro PPG. Eu achei que era coisa do Caburé, não passou pela porra da minha cabeça que ele tava agindo nas costas do chefe dele.

— Mas o Caburé chamou a gente pra avisar que tava tendo judaria aqui na favela. Tu não associou nada? Ninguém te contou? — TK perguntou.

— Eu não tava na favela e lá no Vidigal eu tava sem conseguir falar com ninguém. Aquele contato era bagulho particular, ninguém podia saber o que eu tava fazendo. Era assim que o Caburé queria... Na real, agora eu nem sei se o que ele me falou era verdade ou mentira. — Ela negou com a cabeça. — Enfim, quando eu tinha acabado de entregar um último bagulho pra ele, depois daquilo o combinado era eu voltar pra casa e ficar na minha. Só que no caminho de volta, ele mandou um pessoal pra me pegar e me esculachar no caminho. Eu não entendi nada, devo ter apagado no caminho. Quando ele me tirou do carro eu já tava lá, com o Caburé na minha frente querendo me matar...

— E tu entregou mensagem mesmo pros caras do PPG? Chegou a ler o que tinha nos papeis que tu levava? — Perguntou o Russo.

— Não, ele botava num envelope e colocava um adesivo de papel pra lacrar. Pra eu ler, eu ia ter que rasgar. Se eu rasgasse, eles iam saber. — Contou, batendo a mão na testa.

— Ele fez isso de caso pensado. — Barbás cruzou os braços.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora