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— Um caralho mesmo. — Ele pagou a moça e pegou o maço, tirando um cigarro e acendendo. — Tô descendo lá pra Barcelos que eu tenho que resolver isso ai. Mais tarde a gente se vê.

— Quem é o cara do Mandarim que tá ai? — Perguntei, cruzando os braços.

— Quem vem ai é um chamado Pirraça. — Respondeu já indo embora. Meu olhos brilharam com a oportunidade de dar um sufoco nele de volta. Eu não tinha esquecido como aquele merdinha tinha me tratado... como ele ia se sentir sabendo que estava por baixo agora? Aqui no meu território?

— Conheço. Deixa eu ir contigo? — Perguntei, já grudando no braço dele. — Vou ficar quietinha, juro. Tô precisando passar na Ápia mesmo, comprar uns negócios lá pra casa.

Ele me olhou meio de canto, ia negar, mas eu insisti fazendo meu charminho de sempre. Ele sempre caia, não tinha nem história. Nem eu sabia como tinha deixado esse homem tão amolecido assim, eu me sentia muito poderosa conseguindo dele o que eu queria. Logo dele... Dei uma risadinha, subindo na moto dele, que desceu rasgando pela curva do S, depois entrando por dentro até chegar na rua da boca.

Desci junto, entrando dentro da casa que era meu lugarzinho naquela favela. Lá dentro, eu fui cumprimentando os meninos que estavam lá e que conviviam comigo há um tempo. No centro, próximo da escada, estava ele... Aquele cuzão que quase tinha me matado por pura birra com a minha cara. Até hoje eu tinha um pouco de raiva dela pelo jeito que ele tinha me tratado.

— Oi Pirraça, que saudade. — Pisquei pra ele, que me olhou feio. — Quanto tempo, né?!

O Barbás passou reto, nem falou com ele, subindo a escada direto pra sala de cima. Eu fiquei ali. Passei uma unha pela bochecha dele, brincando com o fogo. Na cara dele já dava pra ver que ele tava puto.

— Já superou a raiva que tu passou por não ter conseguido me matar? — Perguntei, dando um sorrisinho de canto.

— Se eu tivesse conseguido, não tava aqui vendo o PPG ficar de quatro pra favela alheia. — Reclamou em tom baixíssimo só pra mim. Essa porra aqui era pra ser nossa, mas sempre tem que ter uma piranha pra se intrometer em assunto de homem, né?!

Arqueei as sobrancelhas, com os olhos brilhando em desafio. Queria muito que ele desse um vacilo daqueles em voz alta pra eu ter um motivo pra virar a mão na cara dele. Umazinha só, pra lavar minha alma.

— Pirraça, pelo amor de Deus. — Comecei, falando bem alto, como se tivesse conversando com os meninos da Barcelos. — Essa tua madeira ai não foi firme nem o suficiente pra me fazer desmaiar, tu acha mesmo que tu tem pique pra Rocinha toda. Se liga. — Provoquei com uma risadinha no final, a ambiguidade de significados da palavra "madeira" era um tiro certeiro no orgulho dele (e o de qualquer outro homem), já que só eu e ele entenderíamos ao que eu realmente tava me referindo. Os garotos riram comigo e essa foi a cereja do bolo. Vi ele ficar vermelho. — Fica nervoso não, amor. — Disse, levantando a mão pra segurar o queixo dele.

Ele bateu no meu pulso com força, me empurrando na parede e segurando meu pescoço com raiva. Sorri com o aperto dele e vi todos os soldados que tavam ali vigiando o "encontro" se virarem pro Pirraça. Nesse momento, eu cliquei a pistola contra a barriga dele, com o dedo no gatilho só pro caso do bonitão querer apertar mais e me sufocar.

— Piranha. — Ele xingou e eu fiz questão de cuspir na cara dele. Só pela expressão que o homem fez, eu jurei que ele ia vir pra me matar, só que ai... ai chegou o Barbás pra acabar com a brincadeira dele e deixar a minha ainda mais divertida. Ele não conseguia enxergar que era exatamente isso o que eu queria?

— Tá maluco, irmão? — Will falou com a voz mais grave que o comum, tirando a pistola e apontando pra cabeça dele. — Solta ela agora, porra. Anda, caralho.

Ele largou meu pescoço e eu tossi discretamente, sem perder o risinho debochado no rosto. Barbás largou o saco que ele tava segurando no chão, segurando ele pela camisa.

— Tu tá comendo merda, mermão? Tu vem aqui, na minha favela, na minha boca e bate na minha mulher? — Eu vi ele se controlando além do que imaginei ser possível pra um ser humano. Eu quase conseguia ver uma veia na sua testa, ele já não tinha gostado muito do Pirraça mesmo... — Qual que é a tua, caralho? Quer ficar por aqui mesmo?

— Me dá logo a porra do dinheiro, parceiro. Quero ficar aqui perto de tu e dessa piranha tua ai não. — Barbás soltou ele e se afastou, olhando pra ele com a mandíbula trancada e os olhos semicerrados. Ele passou o fuzil pra frente, segurando com as duas mãos e, uns segundos depois, desceu a coronha com força no Pirraça. Ri com a cena. Eu até gostava mais do Barbás mais surtado, pra falar a verdade... Ele fazia umas coisas que o eu zen dele não faria normalmente.

Vi o Pirraça bater as costas na parede, com os olhos arregalados. Ele cuspiu sangue no chão, passando a mão na lateral do rosto, na junção do pescoço com a cabeça, que começava a dar uma inchada foda. Ele me olhou e eu pisquei pra ele. O nariz também começou a escorrer o líquido vermelho.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora