[WILLIAM]
[...]
9h da manhã, hoje nós tinha que se reunir de um jeito ou de outro. Quando os porco de farda resolvesse deixam a gente por nossa própria conta, tudo ia ter que já estar esquematizado pra gente não cair no erro. Por isso, todo mundo ia ter que se arriscar pra estar ali. Com a favela tomada pela polícia, os irmão tiveram que vir disfarçado, dando um jeito de se misturar nos moradores e não chamar a atenção. Como no interior dos becos os PM não conhecia muito bem, eles tinham medo de meter a cara e tomar tiro, o que acabava fazendo com os barracos que ficassem bem no meio da muvuca fossem os lugares mais seguros. No meio de Cachopa, numa viela estreita, tinha a casa que tinha sido da minha família. Foi ali que a gente se reuniu.
9h30 e tava todo mundo ali. Eu, Russo, Parma e Peralta, e todos os caras que a gente confiava. Eu trouxe meus seguranças e o TK, os caras trouxeram quem mais eles confiavam e a gente formou um grupo com uma quantidade considerável de pessoas e começamos a falar.
— Vou começar com uma questão que incomodou nós aqui tudo. — O Parma falou primeiro. — Que que tua namorada foi fazer em favela de Alemão, Barbás? Porra, todo mundo ficou sabendo e tá geral de cara com isso. Que porra é essa?
Dei de ombros e não falei nada. Eu desconfiava dos motivos que tinha levado ela lá, sabia bem o que ela queria no território do Mandarim, mas se eu fosse começar a falar, eu ia ter que contar a história inteira. Eu tava boladão de raiva dela, mas não ia expor ela daquele jeito. Agora... que a Marina tinha arranjado um problema do caralho, ela tinha. Era claro que todo mundo ia ficar sabendo e que ia ser uma fofoca do caralho. A mina saia daqui, ia até morro de rival e achava que ninguém ia achar estranho pra caralho. Ainda mais com a favela em guerra... Ela era inconsequente demais. Eu ficava puto só de lembrar, então, fiquei calado e na minha.
— É tua mina, parceiro. Tu não sabe ou não quer falar? — Reclamou o Peralta e eu virei pra ele com a madíbula trancada.
— Não sou dono dela não, meu irmão. — Respondi no mesmo tom, controlando a raiva. — Tu tá vendo ela grudada aqui comigo? Tem escritura dela no meu nome? Não tô com ela 24h não, não vi ela indo, não gostei dela ter feito o que caralho ela fez, e ai, porra? — Abri os braços. — Pergunta tu pra ela lá o que ela foi fazer naquela porra de morro.
— Calma ai, Barbás. — Russo falou baixo pra mim. — Não mete ela nessa não, vai dar merda.
— Ela tem que prestar conta do que ela foi fazer, irmão. — Virei pro Russo. — Se os caras quiserem cobrar dela essa informação, eles tão no direito deles.
— Eles não vão acreditar na verdade, tu sabe que a história é enrolada. Vão querer machucar ela, não vai por esse lado não. — Comentou comigo no mesmo tom meio sussurrado. Como tava geral falando alto, só a gente escutou.
— Nem eu sei mais o que é a verdade, Wallace. — Neguei com a cabeça, virando pra frente e passando a ponta dos dedos na testa. Era foda...Fiquei observando enquanto eles discutiam ali, eu não quis me meter. Eu mermo tinha minhas dúvidas quanto ao que tinha rolado nos últimos dias. Eu, que dormia e acordava do lado dela várias vezes durante a semana, imagina pra quem só via de fora. A Marina tinha gente ali pra defender ela e essa era a sorte dela. Se não fosse por isso... O lance é que ali entre nós era só o certo pelo certo. Era assim que funcionava. Se ela tava no erro, ninguém tinha que meter a mão pra ajudar. Ai que morava a contradição que tava no coração do Russo... e no meu.
— Na boa? Pra mim a gente tinha que pegar ela e botar ela pra falar. — Peralta mandou, já exaltado.
— Po, namoral mesmo, cês não vão botar a mão na minha irmã não. — Falou o Wallace, levantando. — Primeiro que ela é mulher e segundo porque ela foi lá pensando na gente.
— É mulher, mas paga igual, tu sabe como é que é, ô Russo. — Parma falou. — A gente quer conversar só.
— Sei bem como que funciona, meu parceiro, por isso mesmo não vou deixar ninguém fazer maldade com ela. Ela foi lá sozinha? Foi, mas foi por todo mundo que tá aqui. Deixa eu explicar o que aconteceu nessa porra. — Ele tentou, mas a situação não tava muito favorável não.
— Se fosse outro nessa porra, tava todo mundo querendo a cabeça. Ai fica nessa ai agora... — Peralta reclamou. — Tá vacilando igual.
— Russo é ela quem tem que falar. Ela tem que se explicar, irmão, é o certo. — Falei pra ele, segurando no braço dele. — Não dá pra fugir disso. — Ele tinha que cair na real. Ninguém ia se conformar se a Marina não viesse e contasse tim tim por tim tim dessa história ai. Era normal os cara estarem nervoso e desconfiado, isso era um problema que ela tinha atraído pra si e agora, ela ia ter que assumir o BO. Ninguém ia ter como fazer isso por ela.
— Porra, Barbás. Tu tá de sacanagem? — Ele quis debater comigo e eu só estendi a mão pra ele e mandei sentar.
— Pera ai, deixa eu falar nessa porra. — Falei alto, chamando a atenção pra mim. — Ela tem que vir dar satisfação sim, mas ninguém vai já ir condenando a garota sem escutar o que ela tem pra falar não. — Deixei aquilo muito claro. — E quem vai fazer as perguntas sou eu. Sou sempre eu que faço essas porras, dessa vez vai ser eu também.
Olhei pro Russo de canto de olho. Assim a gente evitava que outro fosse lá e esculachasse ela. Ele entendeu e deu uma sossegada, apesar de ainda estar desgostoso.
— Qual o sentido de botar tu pra fazer a mina falar? Tu vai pegar leve com ela, parceiro. — Peralta quis discutir comigo.
— É eu ou é ninguém, irmão. Sempre que tem passarinho pra fazer cantar, vocês jogam no meu colo, agora querem que eu fique de fora? Não, quem vai cuidar disso sou eu. Eu só aceito se for assim. — Me impus. — E tu me respeita que tu sabe que eu não passo a mão na cabeça de ninguém.
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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...