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[NINA]


Abri os olhos, vendo uma claridade esquisita. Me ergui nos braços assustada, vendo todo o redor e me sentindo confusa pra caralho. Cadê o Barbás? Cadê a polícia? Eu tinha morrido? Puta que pariu... Tentei levantar e notei que tinha um fio grudado no meu braço. Hospital?

— Nina? Tá tudo bem, calma ai. — Foi a Dalila quem eu vi primeiro. Ele me empurrou de volta pra maca.

— Que porra é essa? Cadê meu irmão? E o meu marido? — Quis saber, agitada. Todas as imagens daquela noite voltavam de uma só vez na minha fente. — Por que eu tô aqui? E o meu bebê?

— Calma, o seu bebê tá bem. Os policiais te trouxeram aqui ontem, porque você passou mal. — Contou, parecendo triste. — Como tu tava meio agitada, os enfermeiros te sedaram por um dia inteiro.

— Policiais? O Barbás...

— Ele foi preso, Nina. — Ela me cortou pra contar de uma vez. Prendi a respiração, perdendo uma batida do coração. Cai de volta contra a cama, sentindo a cabeça latejar. Meu rosto estava seco, como se eu não tivesse mais lágrimas pra chorar. — Ele tá pra ser transferido pra Gericinó. Bangu.

Neguei com a cabeça, me sentindo sem chão. Era como se um mar de escuridão tivesse aparecido pra me engolir de uma vez só. Eu me sentia toda dolorida, não de dor física... o meu coração estava machucado. Era difícil acreditar. Como ele devia estar lá agora? Como ia ser a vida dele dentro da tranca? Porra, eu sabia que era foda.

— O Wallace e a Larissa tão bem? — Perguntei um tempo depois, com a garganta seca.

— Eles foram fechados também, mas o Wallace conseguiu fugir pra dentro do parque e saiu safo. A Larissa foi levada pra delegacia e ficou agarrada lá também, mas já vai ser solta. Ela tava no Aberto, então, vai ter que conversar com a agente dela, mas vai ficar de boa. Eu já corri pra ver uns advogados pra ela e pro Barbás. — Contou, fazendo um carinho no meu cabelo. Ela tinha uma expressão super estranha no rosto, alguma coisa a incomodava profundamente.

— Eles foram fechados também, mas o Wallace conseguiu fugir pra dentro do parque e saiu safo. A Larissa foi levada pra delegacia e ficou agarrada lá também, mas já vai ser solta. Ela tava no Aberto, então, vai ter que conversar com a agente dela, mas vai ficar de boa. Eu já corri pra ver uns advogados pra ela e pro Barbás. — Contou, fazendo um carinho no meu cabelo. Ela tinha uma expressão super estranha no rosto, alguma coisa a incomodava profundamente.}

— Tem mais alguma coisa, não tem? — Perguntei, vendo o rosto dela retorcido.

Nessa hora, um médico entrou no espaço onde a gente tava, na enfermaria. Ele checou minha pressão e minha temperatura, antes de se afastar e olhar alguma coisa na prancheta dele.

— Dona Marina... Tá tudo bem com a senhora, com o seu filho também. A gente fez uns exames pra ter certeza da sua condição e de como estava com feto. Como a sua irmã me contou que você tinha acabado de descobrir, imagino que você ainda não tenha tido tempo de ter feito uma ultra ainda, né?! — Perguntou e eu confirmei com a cabeça. — Vou deixar isso aqui com você, então. — E me estendeu um cartão que parecia muito com uma fotografia, nele estava aquelas formas clássicas e um ultrassom. No centro, uma mancha preta em formato circular, com algumas outras manchas mais claras dentro dele.

— É o meu...?

— É o seu bebê. Ele está perfeito, meus parabéns. — Sorriu sem mostrar os dentes. — E a senhora tá liberada. Só vou pedir que você repouse bastante e evite o estresse, tudo bem?

Concordei com a cabeça e ele veio me soltar dos fios. Eu não conseguia parar de olhar pra primeira 'foto' que eu tinha do meu neném, ainda tão pequenininho. Eu queria tanto ouvir o coraçãozinho dele... Pulei da cama e apertei a mão do senhor que tinha me atendido, saindo apressada com a Dalila enfermaria à fora. Fui alheia a tudo, meio por causa do torpor que estava me nublando a mente. Pra mim tava sendo difícil entender que o Barbás tinha sido preso... O meu filho era o meu único consolo e o que me dava forças pra continuar. Olhando pra aquela coisinha, eu não consegui me isolar na minha bolha de tristeza. Na boa? Agora eu tinha certeza que as coisas que meus irmãos tinham me dito eram verdade. O meu neném era um presente de Deus pra mim, um presente muito, muito especial. Quando me foi dado, eu não sabia o quanto eu precisaria dele, o quanto seria importante...

Um carro veio nos buscar e eu não reconheci o motorista quando entramos. O que eu percebi, porém, é que a Dalila olhou tudo ao redor antes de botar o pé pra fora e o homem que dirigia pra nós não desgrudava a visão do retrovisor. Fiquei de boa no início, apesar de achar o comportamento um pouco estranho. Ele seguiu em direção à Ipanema por um tempo e quando devia pegar o retorno pra voltar em direção à Rocinha ele não o fez, seguindo reto.

— Menino, tem que virar ali. — Apontei quando ele passou direto.

— Tamo indo pro Galo, dona. — Avisou, voltando a atenção à estrada e ao espelho lateral.

— Ué, por quê? — Olhei pra Dalila e ela comprimiu os lábios. — Dalila? Eu preciso ir pra minha casa. Eu tenho que sair pra ver como tá a situação do Barbás, ver visita, ver tudo...

— Não tem como voltar pra Rocinha agora, Nina...

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora