175

1.3K 102 3
                                    

[WILLIAM]

Enfiei o carro bem longo no sítio que a gente marcou. Parei há poucos metros das árvores, que sabia ser um lugar mais ermo. Saí do carro e a Nina me seguiu, falando no telefone com o pai. Ela tinha uma expressão meio preocupada no rosto, mas não disse nada, só ouviu o que diziam do outro lado da linha. Abri o porta malas e peguei os galões de gasolina, depois a mangueira. Enfiei uma das pontas dela no tanque de abastecimento e a outra eu coloquei na boca e chupei com força, largando no chão depois. Enquanto todo o combustível que sobrou no carro escorria pra fora pelo "cano", eu fui jogar o primeiro galão pela parte de fora do carro todo.

— Era teu pai? — Perguntei pra Nina, quando ela finalmente desligou.

— Era. — Respondeu, pegando o segundo galão e jogando por dentro do carro, nos bancos de trás.

— O que ele queria? — Quis saber, ajudando ela a terminar de jogar a gasolina por tudo ali dentro. Com o terceiro galão, fiz uma linha reta há uns metros pra trás, onde peguei o isqueiro.

— Queria saber se deu tudo certo e onde eu tava. — Respondeu, dando de ombros. — Ele veio com uns papo meio estranho, sei lá... Acho que tá preocupado comigo.

— Estranho como, Nina? — Olhei pra ela, com a testa franzida, enquanto tentava acender o negócio. — Vai pra trás, vai. — Mandei, aproximando a chama da linha de combustível que eu tinha feito.

O fogo comeu rápido a gasolina, percorreu em segundos o caminho até o carro, que se incendiou inteiro em poucos minutos. Rodeei o veículo mantendo uma distância pra ver se tava pegando tudo, até as coisas que a gente tinha usado na casa, que continuavam no porta-luvas. Depois que eu tive certeza que já tava de boa, voltei pro lado da Nina e nós começamos a caminhar pra fora ali. De mão dadas, eu e ela percorremos uma boa parte do gramado do sítio a pé, em silêncio. Nina parecia meio com medo da escuridão e apertava com força a minha mão.

— Vai falar que tem medo de escuro agora? — Gastei ela, que me olhou feio.

— Lugar mó ermo, Barbás. Mó lugar de desovar corpo, cruzes.

— Por isso que a gente veio aqui, né, porra? — Ri dela. — As pessoas que tem que ter medo de tu, mulher. Tu não gosta de falar que é bandida?

— Sou pra caralho. — Ela riu também. Meu celular tocou no bolso e eu peguei pra atender, era o TK...

— E ai, irmão? Tá junto com o Russo e a Larica? — Perguntei.

— Barbás, me escuta. Fica quieto e só me escuta. — A voz dele era afobada e desconfiei na hora. — Tu tá no sítio?

— Acabei de queimar o carro, tô metendo o pé. — Contei, ainda andando. Nina notou o meu semblante e eu vi ela se assustar também, enquanto falava 'o que houve?' do meu lado.

— Então corre dai, irmão. Corre dai muito rápido que o Parma tá armando pra tu e pro Russo. — Falou de uma vez e eu gelei, começando a olhar ao redor. — Parece que o Mandarim tá junto, eu ouvi eles combinando de falar com a Nina lá dentro, então cuidado, Barbás. Eu não sei até que ponto ela tá dentro dessa merda... O pai ligou pra ela?

Paralisei no lugar, soltando a mão da Marina na hora. Meu coração acelerou e peguei a pistola na mesma hora. Nina se assustou e pulou no lugar, pegando a arma também. De morena, a pele dela parecia branca que nem vela. Pálida. Ouvi sirenes ao fundo e fechei os olhos com força, deixando o celular cair no chão. Como eu ia sair dali agora eu não sabia... O muro era alto pra caralho, com arame farpado, o único jeito de ir embora era da maneira como a gente tinha entrado. Pela porteira da frente. De sítio aquela porrinha não tinha nada, era mais uma chácara desativada.

— Que que tu fez, Nina? — Perguntei pra ela, que pareceu chocada com a minha acusação.

— Eu não fiz nada, porra. — Reclamou, olhando ao redor e levando a mão na boca. Sirenes ficavam mais altas a cada minuto e ela já tinha se dado conta da merda. — Meu Deus e agora? Isso é polícia?

— E agora?! — Ri de nervoso sem saber o que fazer. Correr ali era inútil, eles iam entrar e me achar. Se tavam fechados com o Parma como tinha dito o Túlio, eles iam me procurar até achar. Eu ainda não tinha entendido direito que porras tava acontecendo, não tava descendo que eu tinha sido pego em judaria por nego que eu considerava amigo meu. Que porra é essa, irmão? As sirenes não deixavam dúvida, tava rolando nessa porra. — Me fala tu, que que a gente faz agora.

— Eu não sei, eu... — Ela pareceu desesperada e, por um momento, eu entendi que ela não tinha nada a ver e sido pega de surpresa também. — Meu Deus do céu.

— Bora trocar tiro nessa porra, foda-se. — Falei, vendo as luzes azuis e vermelhas se alternando nos muros do outro lado do sítio.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora