— Eu entendo, mas é foda, sabia? — Cruzei os braços. — E qual a diferença? Não é como se esse povo ai já não soubesse que a gente tá junto.
— Eles sabem que a gente se pega, mas não das coisas que eu sinto por você. É diferente, mano. Se pegassem qualquer outra ai, eu não ia nem me coçar. Essa é a diferença.
— Não vou esperar tu pra sempre, já te aviso logo.
— Para de show, Nina. Não é pra sempre, é até as coisas ficarem namoral. Até a gente ficar na boa de novo. — Ele negou com a cabeça. — Porra, tu tá nessa comigo há um tempo, tu acha mesmo que dá pra gente começar qualquer coisa agora e desenvolver tranquilo? Amorzinho é pra tempo onde a gente tá em paz, Nina. Amanhã ou depois o Misael vai pisar na bola com um e a gente vai ter que se segurar como pode nessa porra.
Eu suspirei. Sabia que ele tava certo, mas tava incomodada mesmo assim. Eu sabia bem o porquê...
— Tá e nesse meio tempo tu fica ai todo disponível pras piranhas desse morro? Qual que era o nome daquela cachorra lá? Carol, né? E tem a Sandrinha também, coitada. Quem mais?
Ele riu. Eu tava ficando puta e ele rindo da minha cara.
— Que que é? — Perguntei, ficando bolada.
— Para de ser maluca, porra. Não tem mulher nenhuma mais não, só tu me satisfaz, Nina. Eu tô de boa com isso. Eu te respeito, te levo a sério, porra. Isso que tu não tá entendendo. — Falou, dando um beijo na minha mandíbula. — E eu quero ficar contigo quando a gente tiver na segurança de novo. Até lá eu sou só teu, tá bom assim?
Sorri. Ele sabia bem como me levar, me acalmar. O meu coração se aqueceu no peito e eu mesmo passei minha mão pelo rosto dele. A gente só precisava ter paciência...
— E já te aviso logo que não vou entrar nessa sozinho e ser otário não. Se eu ver maluco de graça pra cima de você e você rendendo... — Falou e eu interrompi ele, botando meu dedo nos lábios dele.
— Sossega. Até lá eu sou só sua também. — Prometi, dando um beijo na bochecha dele e montando nele de novo. Desci minha língua pela garganta dele, satisfeita com o avanço que eu tinha conseguido aquela noite. Fidelidade. A gente já tava indo pro 4° round quando o barulho de rajadas nos fez pular no lugar. Foram várias. Uma, duas, três, várias armas cantando alto e ao mesmo tempo na noite. Ai o celular do Barbás tocou e a gente soube que alguma coisa tinha acontecido.Como sempre naqueles últimos meses, a tensão tava jogada no ar de novo. Eu corri pro banheiro e tomei um banho rapidão, antes de me vestir, enquanto o William trocava um lero no telefone. Depois que desligou, foi direto pro box também, molhou o corpo e voltou pro quarto, pra pegar uma roupa qualquer no guarda-roupas.
— O que houve? É de fora? — Perguntei, abotoando meu sutiã.
— Não, é daqui mesmo. Foi os caras do Misael, ele matou dois dos soldados da boca da Vila. Um deles era o segurança do gerente de lá, o outro era cunhado dele. — Falou rápido, colocando a camiseta. — Os caras resistiram e trocaram tiro, mas não deu pra eles não.
— Mas matou porque, Barbás? Foi do nada assim?
— Não sei, Nina, mas nós vai lá ver. Aproveita e liga pro teu irmão e pro TK, enquanto eu vou ver onde tá meu fuzil. — Mandou, saindo do quarto. — O Pércio quer reunir os parceiros. — Gritou do lado de fora.
Pércio, também conhecido pelo vulgo Parma (chamavam ele assim pelas camisas que ele usavam, que eram todas desse time italiano), era o gerente da boca da Vila Verde há mais de um ano e tinha um problema pessoal com o Misael há tempos. Ele, o Russo, o Barbás e o Peralta, o recém promovido a gerente da boca da Cachopa e amigo de longa data do Barbás, tinham entrado num tipo de sociedade esquisita há uns meses atrás. Nenhum deles quis me contar muito sobre o assunto, Barbás só disse que era sobre dinheiro e proteção na época e depois mais nada.
A gente marcou um 10 e o Barbás pegou um carro pra descer a favela. No caminho pegamos o TK e seguimos pela rua principal até perto da rampa da Vila, onde o Barbás parou o carro num beco qualquer e nós seguimos a pé. Subimos pela escadaria até o alto, onde as últimas casa ficavam, antes da mata. Assim que botamos os pés lá, pudemos ver um dos corpos estirados no chão, sobre ele, uma menina se abraçava e chorava alto, abafando o som dos seus gritos contra a pele gelada do amado. Devia ser a irmã do Parma... Engoli em seco com a cena e senti um bolor se prender na minha garganta. O quanto custava pra ser eu aquela menina qualquer dia desses? Eu tava protegida por um acordo, mas as pessoas que eu considerava não estavam. Russo, Barbás e TK estavam expostos à porra da neurose do Misael.
Com os olhos vermelhos, o homem por quem a gente esperava apareceu. Junto com ele, os caras quem ele confiava e uma mulher: a Larissa. Os dois homens pegaram o corpo com pressa, enquanto o Parma segurava com força a irmã, pra impedir que ela fosse atrás do cadáver, enquanto tampava a boca dela com uma das mãos. Sem escândalos na calada da madrugada.
— Você tá vendo ai o que esse filho da puta tá fazendo com a gente, com a família da gente. — O Parma falou, abraçando a garota. Logo veio uma senhora, uns bons anos mais velha, e levou a menina pra longe. Eu não conhecia nenhum dos falecidos além de vista, mas era sempre uma merda ver gente morta. Nos últimos meses, eu já tinha estourado minha cota pra aquele tipo de situação.
— O que é dele tá guardado, irmão. — Barbás falou em um tom apático.
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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...