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Ai... Ai eu voltei pro whatsapp, abrindo o contato do Barbás e olhando a cara dele por uns minutos. Uns bons minutos... Porra, eu tava com muita saudades dele. E tinha um monte de coisas que eu precisava falar pra ele, porque tavam entaladas na minha garganta. Eu ia morrer sufocada com todas aquelas palavras se eu não falasse elas pra ele imediatamente, sabia. Foi assim que eu, mesmo sabendo que não devia deixar ele saber que eu estava com um celular ali, pressionei o símbolo do microfone e comecei a gravar um áudio com a voz meio embargada.

— Will... Eu sei que eu vacilei com você e eu queria que você me perdoasse por ser assim tão... sei lá, tão eu. É que essa, Will, essa mina maluca, impulsiva e com o parafuso do juízo meio frouxo na cabeça sou eu e eu acho que tu já sabe disso. A gente se conheceu assim, né? — Dei uma risadinha antes de continuar. — Dessa tempo pra cá, eu aprendi a entender você e aceitar os seus defeitos e as suas qualidades, e a te amar. Porra, eu te amo pra caralho, eu nunca me senti desse jeito assim com ninguém. Você é o homem da minha vida, eu sei disso, William. Você é... — Suspirei, me sentindo chorosa. — Você foi meu professor, a mente por trás da mulher que eu me tornei, da Índia... Tudo o que eu sei, você me ensinou, você me mostrou e abriu esses caminhos pra mim. Você foi meu namorado, mesmo que a gente nunca tenha se chamado assim mesmo, sabe? Você nem foi no meu pai pedir pra ser meu homem. — Brinquei, engasgando no meio da piadinha de mal gosto. — Você foi meu amigo e esteve do meu lado no meio de toda a merda e confusão que a minha vida acabou virando. No meio do furacão, tu tava lá comigo, sabe? Me segurando no lugar. Você foi, tipo assim, tudo na minha vida nesse último ano. Eu espero que você saiba disso, porque eu nunca mais vou ser capaz de deixar de te amar... Essa é a sensação que eu tenho hoje, pelo menos. — Funguei, ficando emotiva com as coisas que eu tava dizendo. — Me desculpa por ter te feito passar por tudo isso, por ser meio desajustada e por não ter te falado nada, eu sei que eu errei e vou tentar consertar isso dentro de mim, pra não acontecer de novo. Não é que eu desconfie de você, é só que às vezes eu não sei trabalhar em grupo, sabe? A falar as coisas... Às vezes eu só sei agir sozinha. Eu sei que eu tô errada, tá? E não tô me justificando, mas eu nunca quis te machucar de maneira nenhuma. Me perdoa mesmo... — Falei, tirando o dedo que pressionava o botão de áudio e deixando o celular cair no chão em seguida. Eu escorreguei para os colchonetes e os lençóis que estavam ali, me sentindo horrível. Eu queria que ele me ouvisse, queria me me perdoasse, queria que ele olhasse pra mim de novo. Porra! Levei minhas mãos ao rosto, esfregando os olhos, num gesto muito dele. Assim, evitei que um monte de lágrimas descesse pelo meu rosto. Eu tinha que parar de ser tão manteiga derretida...

Eu vi a palavra 'online' debaixo do nome dele e a barra do áudio que eu tinha acabado e enviar ficou azul. Fiquei ali, esperando ansiosamente pela resposta dele que simplesmente não veio naquele momento. Ai sim, ai eu desatei à chorar silenciosamente, enquanto me embrulhava naqueles lençóis finos horrorosos. Trovões altos e clarões sacodiam os céus e aquela noite puta nebulosa. Eu apaguei ali, várias horas depois, tendo a sensação de que tinha sido rejeitada pelo homem que eu amava dilacerando o meu peito.


[...]

O dia amanheceu cinza. Tipo, realmente cinza. Já não era mais um temporal, mas a chuva fininha continuava caindo e não parava. Porém, não era exatamente por isso que tudo estava numa escala tão cinzenta... Às 6h da manhã, eu acordei com a vibração do meu celular. Um SMS tinha chegado e lá tava o número do Carlos com um recado: "Tá começando a sair os primeiros carros dai. Abre o olho e se protege." Ele avisou e eu pisquei várias vezes, sabendo que a merda ia começar a dar daqui a pouco. Quando o último PM saísse, tava na hora de ir catar os cacos e voltar a dar a cara pra segurar ponto.

Só que aquilo não ia durar, eu sabia. A hora de decisão tava chegando, de um jeito ou de outro, ia acabar. Me senti cansada. Dali pra frente, eu não consegui mais dormir. Liguei pro Carlos na mesma hora, eu nem sabia se podia, tava cedão, mas eu precisava ter certeza.

— Você vem? — Perguntei assim que ele atendeu.

— Vou. — Responde. — Tu sabe disso.

— Sei, mas quando? — Quis saber.

Ele demorou a responder. Ficou em silêncio nos primeiros segundos e eu também.

— Quando o sol nascer de novo, Nina. — Amanhã... — Tá tudo certo ai?

— Tá. — Engoli em seco. — Eu tenho que correr, então. — Disse, como se eu ainda tivesse alguma coisa pra fazer. Eu não tinha... mas eu não tinha como falar isso pra ele.

— Marina. — Ele me chamou depois de quase um minuto de silêncio de ambos os lados. — A gente vai fazer assim, amanhã eu vou botar minha tropa na frente da tua favela. Eu sei que teu pessoal tá na parte debaixo, se eu levar tiro de algum deles, acabou. — Falou e eu concordei com a cabeça, apoiando a testa na mão. — Eu vou entender que vocês quiseram ficar por vocês mesmo.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora