189

1.2K 118 0
                                    

[...]


[WILLIAM]


Aquele lugar era uma merda, exatamente como eu já tava esperando. 2 horas de banho de sol nessa porra, de resto, era dentro de uma cela com mais um monte de gente. Os cara que tava tirando a cadeia comigo eram namoral pelo menos, dava pra trocar uma ideia, ter uma amizade ali pra passar o tempo... Entre os irmão que tavam comigo ali na minha unidade, todo mundo se ajudava pra tentar tornar aquele tempo um pouco menos foda pra gente. Acabei gostando da parceria... ela fazia a tranca parecer menos pesada do que ela era realmente, o ambiente ficava mais leve, se é que isso é possível. De uma coisa eu sabia, sobreviver dava de boa e eu ia passar por aquela porra tranquilo.

— Ai, William de Oliveira é quem dos novos aqui? — O agente meteu a cara na grade e perguntou. Pulei na beliche que eu ocupava.

— Sou eu, irmão. — Falei.

— Vira ai, parceiro. — Mandou e eu fiz como mandava o protoloco. Fiquei de costas e encostei as mãos na grade, o cara me algemou e abriu a porta pra mim. — Tem advogado e uma irmã tua ai.

Irmã? Que irmã? Não contestei, mas fiquei com pulga atrás da orelha. Fui pra sala das visitas e o maluco me desalgemou quando eu cheguei na minha cabine. Fiquei esperando pra ver quem ia aparecer. Do outro lado do vidro, foi a Larissa quem despontou. Ela sentou de frente pra mim e abriu a trava pra conseguir ouvir a minha voz.

— Tu é minha irmã agora? — Falei meio ácido demais. Ali dentro meu humor se deteriorava muito mais rápido que lá fora.

— Não ia dar pra explicar a nossa relação, eles iam fazer um milhão de perguntas e era capaz de me mandarem pra casa. — Explicou.

— Quando tu vier trazer meu filho, tu vai mostrar a certidão dele e dizer o que? — Questionei.

— Eu não vou trazer o Pedro, Barbás. Isso aqui não é lugar pra ele... — Foi categórica. — Na verdade, isso aqui não é lugar pra ninguém, mas especialmente, não é pra ele.

Me encostei na cadeira e concordei com a cabeça. Claro que eu tava puto por ficar uma porrada de tempo sem poder ver o meu moleque, mas ia fazer o que?! Errada ela não tava.

— Na verdade, Barbás, eu vou mandar ele e minha mãe pra morar lá no Espírito Santo. — Contou. Eu me inclinei pra frente na mesma hora, olhando pra ele como se fosse maluca. Ia tirar o Pedro daqui pra que? — Lá fora tá foda. TK tá segurando as pontas lá contra o Parma, mas tá pica. É perigoso pra ele e pra minha mãe ficar aqui. Além disso, tão precisando de mim lá na tropa que tá fechada com a gente.

— Tu é maluca, Larissa? Vai tirar o moleque da casa dele?

— Barbás, ele vai precisar de tratamento intensivo pelos próximos anos. Quase todo dia é diálise, é remédio, é cirurgia. Ele precisa de paz e segurança pra se recuperar. — Explicou. — Eu já arrumei tudo, vou fazer meus corres com o pessoal e bancar uma vida namoral pra ele lá em Vitória. Já aluguei um apartamento do lado de um hospital referência, tá tudo no esquema já.

Passei a mão no olhos, sentindo a raiva me queimar inteiro. Eu não tinha como fazer porra nenhuma ali de dentro... O pau devia estar quebrando pras nossas bandas lá mesmo, como que eu ia brigar e mandar ela deixar ele aqui? O que mais me dava ódio é que a Larissa tava com a razão. Era melhor tirar ele daqui mesmo. Eu ia ficar sem ver o moleque de qualquer jeito mesmo...

— Calma, tem notícia boa. Só um dos rins dele tá danificado, o outro tá voltando a filtrar o sangue direito. Vão fazer a cirurgia pra tirar o que tá ruim e ele vai continuar o tratamento, daqui há um ano, mais ou menos, ele não vai mais precisar fazer a hemodiálise. O Pedro vai ficar bem, Barbás.

— Pelo menos isso. — Concordei com a cabeça, apoiando ela na mão.

— É... Eu, o TK e os nossos irmãos vamo segurar as pontas aqui. Você vai ter que ficar ai um tempo ainda, o advogado acha que em 3 anos assim já consegue te passar pro semiaberto. Depois, mais um ano e tu tá na rua. Só aguenta ai.

— Vou sobreviver, Larissa. — Falei muito sério pra ela. — Isso aqui é uma merda, mas não é a morte. 3, 4 anos, foda-se. Eu sabia que uma hora isso ia acontecer, acontece que todo mundo que vive que nem eu.

— Mas não era pra ter acontecido do jeito que aconteceu...

— Não, não era, mas me ensinou umas coisas. Maldito o homem que confia no homem... — Cruzei os braços, citando uma passagem bíblica.

— É, mas agora já foi. Todo mês eu venho ver como tu tá, trago comida, dinheiro e mais o que tu puder ter contigo ai e quiser. — Ela me disse.

— Se preocupa comigo não. — Disse com firmeza. — Eu vou ficar de boa aqui dentro. Só me traz notícia.

— Fechado. Vou lá chamar o adv... — E foi levantando.

— Pera ai. — Cortei ela, que sentou de novo. — Me responde uma coisa aqui, qual foi o parecer da situação lá da Marina? Só quero saber isso, essa porra tá me comendo aqui.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora