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[...]

Levantei da cama num pulo, ouvindo o Pedro chorar no quarto do outro lado do corredor. Olhei no relógio, era 2h, bem no meio da madrugada. Eu tava puta cansado e queria voltar a dormir, mas não dava com ele abrindo o berreiro. Ele geralmente era bem de boa, mas como tava doente, tava mais manhoso do que costumava ser. Isso tava me deixando irritado, coisa que eu engolia e levava do melhor jeito que dava. Ser pai era isso ai, né?!

— Que houve, Pedro? — Perguntei, entrando no quarto e parando perto da cama dele.

— Minha barriga tá doendo. — Ele falou, tava enrolado na cama, com o cara vermelha e toda molhada pelas lágrimas. Ele chorava alto e eu tava ficando com dor de cabeça.

— Segura ai. — Falei, descendo pro primeiro andar pra pegar a bolsa de remédios da Nina. Voltei e sentei na cama dele, virando tudo lá. Olhei aquele monte de coisa e não fazia ideia do que dar pra ele.

— O que a Lena te deu daqui, ô Pedro? — Perguntei, acendendo a luz do quarto pra tentar ler o que aquelas coisas faziam.

— Não sei. — Eu neguei com a cabeça. Porra! — Acho que era vermelho. — Tinha mais de 5 vidros com coisa vermelha lá.

— Qual deles?

— Não sei, pai. — Choramingou e eu passei a mão no rosto. Ele voltou a chorar. Começei a ler os rótulos e achei um dipirona, que eu sabia que pra dor... Eu usava pra dor de cabeça e era isso. Não sabia se tinha alguma coisa a ver, mas foda-se. Dor era dor, né? Peguei uma colher na cozinha e comecei a pingar as gotas pro peso dele. — Pai, isso não é vermelho não.

— É remédio pra dor. — Rebati e cheguei perto dele com a colher dele. — Abre a boca ai.

— É ruim?

— Não, po. É remédio, bora, abre a boca ai, Pedro. — Mandei e ele abriu, eu coloquei a colher na boca dele. Ele tomou o remédio, mas não durou 3 segundos e cuspiu tudo fora. Puta que pariu, irmão...

— Porra, moleque. — Reclamei e ai ele começou a chorar pra caralho mesmo.

— É muito ruim, não consigo engolir. — Falou no meio dos soluços. — Eu quero o outro.

— Que outro, cacete? — Xinguei, levantando da cama e querendo matar alguém. Caralho. Que que eu ia fazer pra fazer esse garoto tomar a porra do remédio? Ele assustou com o tom que eu usei e voltou pra cama, chorando ainda mais alto. Não, mano. Eu não levava jeito pra criança. Fui até ele e coloquei a mão na testa, vendo que ele tava com febre do mesmo jeito que quando eu fui buscar ele com a Larissa.

Ele tava doente, não queria tomar o remédio, eu nem sabia o que eu tinha que dar pra esse garoto. A vontade de socar a parede era gigante, mas foi ai que eu lembrei dela...

Fui no quarto e peguei o celular, discando o número da Nina. Certeza que ela tinha mais jeito com criança que eu, ela ia conseguir fazer ele tomar o remédio e ir dormir. Na boa, eu não ia dar conta de ficar com ele todos esses dias sozinho.

— Calma ai. A gente vai resolver isso. — Falei, tentando o telefone dela uma segunda vez. Quase no último toque, ela atendeu.

— Quem morreu? — Perguntou com uma voz de sono.

— Ninguém ainda, mas eu preciso de tu urgente aqui.

— Aqui onde? O que rolou? — Ela tava preocupada. — Deu merda na boca?

— Que boca, Nina. É aqui em casa. Mano, o Pedro não quer dormir, não quer tomar remédio, tá com febre, com dor, com tudo e eu tô ficando maluco, porra. — Minha voz foi aumentando e ficando mais forte. O moleque pulou do meu lado na última palavra e eu tive a impressão que a Nina também, porque ela ficou um tempo sem falar nada.

— Tu tem que ter paciência com ele, Barbás.

— Eu tenho, mas eu não sei nem que porras de remédio ele tem que tomar. Qual é o remédio vermelho que a Madalena deu pra ele? — Perguntei.

— Sei lá, eu não tava mais ai quando ela medicou ele. — Respondeu. — Eu só dei um dipirona de primeira, mas não pareceu funcionar muita coisa não.

Eu não falei nada, só respirei fundo e estalei o pescoço. A noite ia ser longa pra caralho e eu não ia conseguir descansar nada. Porra, cadê aquele lance do sono dos justos? Eu trampei a porra da semana toda. Além disso, eu tava começando a ficar preocupado de verdade, porque o garoto estava chorando cada vez mais alto e reclamando de dor.

— Bora, Nina. O que eu preciso fazer pra tu vir aqui me salvar com ele?

— O que tu precisa fazer? — Ela parou pra pensar por um momento. — Eu vou pensar em algum bagulho, mas vai preparando pra abrir a carteira. — Falou.

— Suave.

— Beleza, mas tu vai ter que passar aqui pra me buscar, porque eu não tenho como ir ai se o ônibus não tá mais passando à essa hora. — Disse e eu fui levantando o Pedro da cama.

— Tô ai em 10 minutos. — Respondi e peguei o moleque pela mão. — Bora lá buscar a tia, Pedro.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora