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A semana passou depressa para todos os outros, mas pra mim parecer se arrastar como nunca antes. Nos primeiros dias a confirmação de que era lá mesmo onde o Misael tava se entocando chegou, todo mundo se reuniu na nossa casa pra pensar no que fazer. Enquanto uns queriam já ir em cima direto, Barbás e Parma defenderam a ideia de que era mais certo se fossem lá fechar ele na noite anterior ao embarque dele. Qualquer data ou hora antes, era arriscado de chegar lá, não encontrar ele e ainda alertar o vagabundo de que sabíamos onde ele tava. Ficou definido, então, que ia acontecer daquele jeito.

Passaram, então, o resto da semana ajeitando todos os detalhes possível sobre a nossa emboscada. Pagaram um dinheiro mais gordo pro batalhão naquela semana, em troca da vista grossa pelo Joá, receberam recomendações de que tudo fosse feito com o menor alarde possível, já que, por ser uma região nobre da cidade, qualquer coisa viraria um caso de polícia enorme. Por isso, o grupo que iria ir seria bem pequeno, armado só com pistolas silenciosas. O resto acompanharia da favela e iria coordenando daqui, em contato direto com o comandante da PM da Gávea, que ia avisar caso alguém alertasse as autoridades sobre alguma movimentação no local. Ai, teria um sinal pra que quem tivesse no lugar finalizasse o M7 se uma vez e saísse dali. Além isso, a gente ia procurar colocar alguns infiltrados diretamente no lugar, pra ter uma visão mais ampla de tudo o que acontecia nas dependências do condomínio.

Tudo, absolutamente tudo, foi esquematizado nos mínimos pontos... e tinha tudo pra dar certo. O Misael não ia escapar da gente dessa vez. Tava planejado pra acontecer amanhã a noite, que era o exato ponto imediatamente anterior ao horário do ônibus dele. No dia seguinte, as 6h30min da manhã, ele iria pegar o ônibus. O último encontro do nosso grupo, formado por mim, o Barbás, o Russo, o Parma, a Larissa e um dos braços do meu pai (que dessa vez era o Rogier e não o Pirraça), seria amanhã bem cedinho. Por isso, como o Barbás tava pilhado e ia passar a noite toda com o Parma no Rua 1 repassando tudo, eu resolvi ficar um pouco na casa dos meus irmãos pra relembrar os velhos tempo. Ultimamente eu andava me sentindo meio carente... Hoje, mais particularmente, a TPM tava me matando. Eu precisava comer um sorvete e chorar umas pitangas, pra isso não existia nada melhor do que o colo da Lila e do Wallace.

— Tu devia estar lá com eles, né Wallace? — Dalila provocou. — Ninguém foge mais do trabalho que você.

— Ah, para, porra. Eu sou tipo a Nina assim... gosto de trabalhar no improviso. Esse negócio de plano cheio de frufru me confunde a cabeça. — Disse e eu ri alto, batendo minha mão na dele.

— Isso ai. Nossas doideiras sempre dão certo, Deus deve gostar mesmo da gente. — Murmurei, comendo mais uma colher do meu sorvete de morango... — Sabe o que eu queria mesmo? Sorvete de chocolate.

— Tu disse que queria de morango, porra. — Wallace reclamou. — Não vou sair de novo não, foda-se.

— Não fala assim comigo seu grosso. — Enfiei o dedo na taça, pegando um pouco do sorvete e tacando dele. — Eu tô sensível, me respeita.

— Eu não casei até hoje pra não ter que ficar aguentando putaria de mulher, mas pra que, né?! Você e a Dalila tão sempre aqui pra me fazer pagar.

— Olha como ele fala da gente, Nina. Imoral um negócio desses. — Lila reclamou, comendo o sorvete dela também. — O outro filme vai começar, venham cá logo, cacete.

Eu saí do chão e me juntei à ela no sofá. Russo veio depois e se espremeu com a gente ali. Ela botou uns negócios da Disney lá, eu obriguei eles a colocarem A Princesa e o Sapo porque eu amava aquele filme de paixão e a gente começou a assistir. Tava abraçada com uma almofada, tentando aquecer minha barriga e fazer a cólica parar de doer. Não tava funcionando muito bem, então, eu começei a pertubar o Wallace.

— Tô com cólica, pega um remédio lá pra mim, Wallace. — Pedi e ele fingiu que não ouviu. Começei a chutar ele com a ponta dos pés. — Por favor, eu tô passando mal, seu escroto. Você não me deixaria aqui sentindo dor, você não seria ruim assim comigo.

— Ah, para de drama, Marina. — Ele reclamou, dando um tapa na minha perna.

— Não acredito que você me bateu só porque não queria cuidar de mim. — Fingi estar chocada e os meus olhos encheram de lágrima. Ele parou, parecendo confuso. — Tô chateada com você, sai. — Me encolhi pro lado da Dalila, que riu da minha cara. Olhei feio pra ela.

— Namoral, bebezão pra caralho. — Me provocou, levantando. — Vou lá pegar esse caralho pra tu parar de me encher.

— Seu otário. — Xinguei, me esparramando de novo no sofá, pelo lugar que antes era ocupado por ele. — É Buscopan Composto, hein?! — Gritei, virando pra Lila. — Não aguento mais essa menstruação pirigando descer e não descendo. Tô ficando puta já, odeio ficar sentido cólica.

— Tá atrasada? — A Lila perguntou, aumentando o volume da TV.

— Deve estar, não sei. Faz um tempinho que ela não vem. — Falei. A real é que eu nem tava muito preocupada com isso, até porque eu nunca tive uma menstruação regulada, tinha meses que ela nem vinha. Eu ia à ginecologista e ela dizia que era hormonal, até por isso mesmo eu tomava o anticoncepcional, pra regular. Ela atrasar não era nada anormal, a cólica e a TPM eram uns bons sinais de que ela tava pra descer, mas por algum caralho de motivo, ela parecia só estar me enrolando esse mês.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora